Mostra-me a conta

Muitas são as vozes que se têm insurgido contra o facto do edifício do Cineteatro Silvense se encontrar à beira da ruína, bem no meio da cidade, colocando já em causa a segurança pública. E ainda são mais aqueles que se lembram e recordam com nostalgia os filmes e espetáculos que por ali passaram e que marcaram épocas das suas vidas…

O futuro do Cineteatro Silvense esteve há dias em discussão, numa tertúlia em Silves, na qual várias pessoas defenderam que a Câmara Municipal tem obrigação de recuperar o edifício e transformá-lo num novo pólo cultural na cidade. O que levanta uma questão: quanto custaria isso e a quem serviria?

Pessoa mais informada do que eu e que já fez as contas, diz-me que uma obra dessa envergadura não custaria menos de um milhão de euros, para recuperar o edifício em ruínas e converte-lo num espaço aberto ao público, obedecendo a todas as novas exigências. Além de que – pormenor importante – seria necessário que a Câmara conseguisse adquirir o Cineteatro, que é pertença de algumas dezenas de investidores, alguns deles em parte incerta e sem qualquer interesse manifesto na sorte do cineteatro.

Pondo de parte esse pormenor fundamental (da enorme verba que a Câmara teria de investir) levanta-se a outra questão. E para quê/ para quem?

Sejamos francos. Qualquer cidadão que frequente os espaços e iniciativas culturais na cidade sabe que o público, salvo raríssimas exceções, se resume a escassas dezenas de pessoas. Não é só em Silves que isto acontece, mas é um facto. A indignação, os gostos e os emojis que pululam nas redes sociais não se transportam para a realidade.

Exponho mais um caso. Esta semana vi umas fotos que dão conta da derrocada da Ermida de Sant’Ana, na freguesia de São Bartolomeu de Messines. A última vez que por lá passei, o telhado estava já a desabar, com buracos abertos, este inverno completou a destruição. A consternação foi geral. Muita emoção nas redes sociais, ai que pena…

Ai que desperdício, pensei eu. Lembro-me bem quando, há algumas décadas atrás, no mandato do presidente José Viola, a Câmara, embora não fosse da sua competência, recuperou a ermida que se encontrava abandonada há muito, por insistência do pároco de Messines, pessoa empenhada na recuperação do património religioso da freguesia. Falecido o padre Brito, a vida avançou noutras circunstâncias e a ermida encontra-se de novo em ruína. E claro, há um movimento de cidadãos para que a Câmara faça as obras de recuperação…

E quando se fala em património religioso no concelho, não há como escapar ao tema da Sé de Silves. Os silvenses lembrarão quando, há alguns anos, o padre Carlos Aquino, teve que interromper os serviços religiosos, caíram bocados do telhado na rua e embora não fosse da competência da Câmara, a presidente Isabel Soares procurava mecenas privados que financiassem as obras, enquanto a Igreja e o Estado se alheavam da situação…

E veja-se, nos dias de hoje, quem tem estado a zelar para as obras de manutenção e recuperação dos principais monumentos da cidade, do Castelo, às muralhas, passando pela Ponte Velha. Mais uma vez, o esforço, o empenho e o financiamento (total ou parcial) tem sido da Câmara de Silves.

Dirão: não faz mais do que a sua obrigação. E há muita verdade nessa observação. Mas pergunto: e quem paga a conta? E mais: é justo que o faça? Quem lida com um orçamento, se coloca num lado terá de tirar de outro – é a regra. Onde tirar e onde colocar são decisões que cabem ao poder político que num determinado momento dirige o município. Mas, muitas vezes, os executivos não têm escolha: ou agarram ou deixam cair.

E terão de tomar essa decisão sabendo que seja uma ou outra escolha, de uma forma ou de outra, serão sempre criticados e julgados.

Quanto a nós, cidadãos, cabe-nos analisar, tentando não nos deixarmos conduzir por nostalgias pessoais ou ambições que só servem o nosso tempo. Porque, o que queremos, é futuro construído com rigor, com as contas certas e justas. Para que uns não tenham de pagar pela negligência de outros.

 

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