O mês de setembro de 2022 tem um sabor diferente, e no entanto, estranhamente familiar. Diferente, porque o verão que o Algarve viveu este ano foi pautado pela torrente de turistas nas nossas praias e nas nossas vilas e cidades. Familiar, porque embora já não estivéssemos habituados, foi um regresso à “silly season” e ao frenesim que todos os algarvios se habituaram durante as últimas décadas.
Depois de 2 anos da pandemia que parou e congelou o mundo, os turistas do mundo, sedentos de férias, olvidados da pandemia e inseguros sobre as paisagens do Mediterrâneo Oriental que, por uma desafortunada lotaria geográfica, estão mais perto do conflito russo-ucraniano, decidiram acorrer às praias e cenários da Europa Ocidental, longe da fricção bélica.
Embora não haja resultados definitivos para o mês de agosto, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou muito recentemente os dados do sector turístico para o mês de julho de 2022 no seu habitual boletim. E os números são muito animadores; o sector registou 3 milhões de hóspedes e 8.6 milhões de dormidas a nível nacional, correspondendo a aumentos de 85,4% e 90,1% em relação a 2021. Ambos os números superam os verificados em 2019 (o último ano pré-pandemia) em 6,3% e 4,8%, respetivamente.
No que se refere ao Algarve, os números reforçam aquilo que se viu a olho nu; uma recuperação em força do turismo, com 2,855 milhões de dormidas durante o mês de julho, um acréscimo de quase 84% quando comparado com o período homólogo. Quando se tem em consideração os meses de janeiro a julho, verifica-se que houve um aumento considerável também neste período, na ordem dos 186%, quando comparado com o mesmo período do ano de 2021. Embora não tenha atingido os valores verificados em 2019, a região não anda muito longe desse registo histórico, pelo que o sector do turismo no Algarve conseguiu debelar muitos dos efeitos da pandemia este ano e assim, antecipar um crescimento que muitos só julgava possível para 2023 ou 2024.
Os dados para Agosto não estão ainda disponíveis, mas declarações recentes da parte da AHETA apontam para que seja um mês de record na atividade turística, mesmo quando comparado com 2019. Parte da justificação para estes resultados partem da alteração fundamental que se tem verificado neste período pós-pandémico, com as reservas a serem feitas com antecedências muito menores do que antigamente. Reservas de hotel que eram executadas com meses de antecedência são hoje feitas com semanas ou mesmo dias, o que introduz uma brevidade no produto turístico que torna difícil a previsão. Mais, o mês de agosto contínua a ser o período preferencial de férias do turista, e as reservas de última hora para este mês assumem cada vez mais ponderação.
Se o verão de 2022 cumprir a sua promessa, teremos no Algarve um extraordinário sinal da retoma do sector turístico na região e um marco neste processo de gestão pandémica. Permanecem, no entanto, alguns desafios fundamentais no horizonte.
O Algarve beneficia, tal como no início da década passada, de um evento geopolítico que o posiciona favoravelmente na escolha do turista; se antes fora a Primavera Árabe, hoje é a guerra na Ucrânia. Tal vantagem permanece conjuntural, e mal o conflito se resolva (?), esta vantagem comparativa evaporará. Há a questão da inflação (que em Portugal atingiu 9% em Agosto), e dos seus efeitos nas economias dos nossos mercados emissores de turistas: choques macroeconómicos que tenham efeitos nocivos nas poupanças dos consumidores e na capacidade de geração de valor terão inevitavelmente consequências no número de turistas que chegam às nossas costas.
O caminho, por enquanto, permanece incerto, mas 2022 revela-se bem menos tortuoso do que se esperava.


