Na sessão da Assembleia Municipal que decorreu em São Bartolomeu de Messines constatei sem surpresa a boa participação popular, como é costume nas assembleias descentralizadas nas freguesias. Sem surpresa mas com alguma tristeza, confirma-se que a grande maioria das intervenções carrega antigas reivindicações: a estrada, a água canalizada. Não são “novos rurais” que ali se apresentam, acabados de mudar para o campo. São as pessoas que ali viveram sempre, os velhos que permanecem e os novos que gostavam de continuar.
É o país que vive a escassos quilómetros das zonas urbanas. Uma realidade que atinge todos por igual, até a presidente da Câmara que vive “no campo” e não tem água canalizada, como a própria desabafa.
Há decerto um determinado preço a “pagar” por viver no campo. Não é possível levar o alcatrão, a luz, a água, o saneamento a todos os montes, a todas as residências.
Mas houve também uma incúria que é difícil de entender, em passado recente, com uma política que descurou candidaturas aos fundos comunitários específicos para a resolução das necessidades básicas.
Na mesma reunião, em que uma mulher explicou que há 25 anos sobrevive graças a uma cisterna e à boa vontade do vizinho, dá-se lugar às interpelações dos membros da Assembleia ao executivo da Câmara Municipal. A preocupação expressa do eleito do Bloco de Esquerda é a de que o projeto de remodelação do Mercado Municipal de São Bartolomeu de Messines tenha “modernidade”, coisas assim como “painéis fotovoltaicos” porque temos de trazer “modernidade ao concelho”. Disse e repetiu.
Pensei numa pessoa necessitada que pede roupa, mas que só aceita uma que fique bem com o seu tom de pele…
Pensei em como os conceitos e chavões que tanto reproduzimos, quantas vezes sem os analisarmos – palavras como modernidade, ambiente, sustentabilidade – podem soar estranhos a quem quer o básico. Nas sábias palavras de Sérgio Godinho: a paz, o pão, educação, saúde. E liberdade a sério.
E igualdade, respeito. Palavras que se repetem e que em março, na comemoração do Dia da Mulher, ganham um peso que esmaga. Violência doméstica, desigualdade salarial, mentalidades menores. E todos falamos do imenso caminho que há por percorrer. Vem-me à cabeça que o Município de Silves tem, desde novembro de 2011, a figura do Conselheiro Local para a Igualdade. Não conheço que tenha desenvolvido algum trabalho nessa área.
É março, também mês do poeta João de Deus, homem maior que renunciou a um lugar de deputado arranjado por conveniência, que viveu na pobreza para não estender a mão, já que as costas as curvava e muito, em trabalhos de costura que fez para sobreviver. E constato que a fome do povo não muda, é sempre a mesma, com diferentes formas.
Constato ainda que, em Março, voltam às páginas deste jornal histórias reais que se ligam com outras que já publicamos em 2008, as dos trabalhadores da Alicoop/Alisuper. Na altura, falamos com várias pessoas, mas ninguém quis dar a cara para o jornal. Havia o medo. O medo de perder os empregos na empresa e depois também encontrar fechada a porta do maior empregador do concelho – a Câmara de Silves. O medo das ligações familiares e políticas. Uma década depois interrogo-me sobre o que poderia ter sido diferente se não houvesse esse receio.
Constato ainda que depois de Março se segue Abril.



Sou natural de S.Bartolomeu de Messines, embora há muito lá não viva. Apreciei imenso este seu documento, de cariz social, e muito. Na verdade, chamou-me a atenção, sobretudo, para a “exigência” do senhor do BE. Pergunto:-Será que tem algum projecto, ou é tudo para messinense ouvir e, claro, valorizar nas próximas eleições?
Melhores cumprimentos