Os climaxes atingidos pelos climáximos são excitantes e divertidos. São o cume de um outro prazer e dão nas vistas.
Admiro os climáximos. São activistas preocupados com o aquecimento global, mas muito excitados. Têm idade para isso. Filam quem acham que são os maiores responsáveis pelas alterações climáticas e sacam da bisnaga ou do balde de tinta. Não sei se, lá em casa, os papás começam por ser os primeiros bonecos humanos onde afinam as tintas.
As acções que organizam para combater o aquecimento global conseguem mesmo aquecer o ambiente local. As pessoas que presenciam os imaginativos climaxes ficam possuídas de pasmo. A maior parte, irritadas. Uma boa irritação numa fila de trânsito parada contribui para arrefecer os motores a combustão e aquecer os ânimos. O trabalho que espere.
Não deixam de ser imaginativas as acções de meia-dúzia de frenéticos agitadores. Despertam a consciência ecológica em qualquer pedregulho pensante. Veja-se uma pequena mostra dos últimos dias. Por ora, não têm continuado porque estão agora a braços com a justiça.
Cimentam buracos de golfe, como no Paço do Lumiar, em Lisboa, porque o cinzento do betão é mais belo do que o verde do green. Quebram à marretada montras da rede eléctrica nacional. Uma montra de vidro de uma loja da REN emite mais emissões de gases com efeito de estufa do que o esquentador a gás butano lá de casa.
Penduram-se com arneses dos viadutos. Sentam-se no alcatrão a travar a circulação automóvel. Os automobilistas brutos, de maus modos, lá se veem obrigados a arrastar pelos cabelos os activistas para a berma. Não se deve marginalizar um climáximo. Deve ocupar o eixo das vias rodoviárias.
A sua excitação artística já visou Picasso e a sua «Femme sur un fauteil», exposta no CCB, obra de 1929. Tinham razão, ecologicamente compreensível. A mulher no sofá devia ter grandes perdas. Não usava fraldas. A tinta vermelha espichada e esfregada escondeu vestígios da última menstruação, altamente poluidora. E os dois excitados climáximos, depois de terem atingido o clímax numa ejaculação precoce, sossegaram a líbido a contemplar a obra feita. Sentaram-se, orgulhosos, ao lado dela. Quiseram que o momento ficasse registado para a posteridade.
As activistas climáximas também têm especial fetiche contra governantes engravatados. O objecto do desejo, no caso, foram os ministros Duarte Cordeiro e Fernando Medina. Sacaram das tintas para decorar os seus fatos impolutos. Os salpicos orgásticos, a verde fosforescente ou a vermelho menstrual, deram um toque artístico ao traje regulamentar. Só não compreenderam que um fato impoluto não causa poluição. Aqui, dado que as activistas eram do sexo feminino, os seus climaxes ficaram contidos na lingerie em fibra natural biológica.
As televisões e as redes sociais cobriram a acção com moderada excitação. Levaram-na a todo o Portugal e ao mundo, incluindo a compostura dos ministros descompostos.
E, no entanto, o assunto é sério. As alterações climáticas afetam todas as regiões do mundo. O gelo dos polos está a derreter a uma velocidade estonteante. O nível das águas do mar a subir ameaçadoramente. A submersão de vastíssimas regiões do litoral, irá obrigar muita gente a aprender a nadar. Os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes, originando chuvas impenitentes, vagas de calor e secas prolongadas.
É preciso tomar medidas rapidamente para combater as alterações climáticas. Se nada for feito, estes efeitos só se intensificarão. Constituem uma ameaça muito grave para a humanidade e as suas consequências irão afetar numerosos aspetos da nossa vida.
Não sei se as exaltações pueris dos climáximos, imitadas do estrangeiro, têm contribuído para elevar o conhecimento e a preocupação sobre as consequências graves para o planeta azul, que nos acolhe do primeiro grito ao último suspiro.
Duvido que os climáximos, com as suas fogozas impertinências, consigam levar qualquer pessoa, com um mínimo de consciência ecológica, a sair do sofá e vir para a rua clamar por maior justiça ambiental. Ou que um negacionista do aquecimento global, proprietário de um chaço movido a gasóleo, o venha a trocar por um veículo eléctrico para pegar fogo à garagem, quando estiver a carregar as baterias.
Não se mudam as consciências à marretada. A magnitude do problema das alterações climáticas merece outro roteiro que traga as gerações mais velhas para a necessidade de o combater. E não que dele seja afastado por salpicos de tinta ou cus no asfalto.
O radicalismo infanto-juvenil apalhaçado não atrai. Repele.