Tudo é território mas também paisagem

No âmbito da apresentação pública da revisão do PDM de Silves, com transmissão online, dois intervenientes lançam um debate:

por mensagem, alguém interroga os responsáveis pelo plano acerca de uma pretensa desclassificação de parte da EN124 reduzindo a zona de servidão non aedificandi de 20m para 6m do eixo da estrada, permitindo potenciar a re-aproximação de novas construções à estrada… outro propunha à consideração dos responsáveis uma possível política de incentivo à relocalização de construções perto do limite de estradas como a EN264 para zona mais afastada da mesma protegendo assim bens e pessoas.

O exposto neste confronto representa temas fundamentais da construção da paisagem portuguesa mas também um desafio aos modelos territoriais propostos por este ‘novo’ Plano Director Municipal de Silves. Nas apresentações de Silves e Messines ficou clara a insistência numa estratégia de desenvolvimento assente na mobilidade física supra local/regional e no modelo territorial desenhado pela anterior e estruturado por uma divisão administrativa de território secular.

Paisagem- Horta, Caixa d’ Água – Foto de Nelson Garrido

O valor dos cerca de 700km2 do concelho de Silves reside provavelmente na dinâmica entre estas duas estruturas físicas, a rede de mobilidade e o mapeamento dos usos. Condições que desde 1995 (data do primeiro Plano) sofreram transformações sem precedente na história deste território, como a construção das autoestradas A2 e A22 ou o decréscimo populacional na serra, na freguesia de S. Marcos da Serra corresponde a -11,9% entre 2001-2011.

No entanto, e ao contrário de outros lugares, Silves e Messines mantiverem em grande parte, devido à conservação da estrutura de fluxos pendulares do início do século passado (EN124), uma relação privilegiada entre a paisagem e o lugar urbano. Esta relação tem um duplo significado que pode ser resumido da seguinte forma: o lugar vê a paisagem e é, ao mesmo tempo, visto a partir da paisagem. O Penedo Grande em Messines e o castelo de Silves explicam esta dupla condição: por um lado, o castelo controla um sistema de vistas que inclui: a sul, o barrocal de planícies e montes cobertos por laranjeiras e abacateiros; a norte, o perfil montanhoso que antecipa o sopé da Serra de Monchique; por outro lado, o Penedo Grande domina uma hierarquia de escalas para quem se aproxima da Messines definindo-se contra os restantes edifícios da vila, a EN124 e os contornos da paisagem que o rodeiam. Fundamental a esta dualidade é a importância dos tipos de mobilidade na construção destas paisagens muito discutidos na apresentação do PDM em Silves, ou seja, dependendo do meio que é utilizado para nos deslocarmos (‘vaivém’, bicicleta, barco, automóvel, etc.) construímos diferentes visões destas relações e com elas diferentes paisagens.

Finalmente, este novo Plano para o concelho deverá proporcionar a lugares como Silves ou Messines um modelo próprio de desenvolvimento urbano sustentável com a capacidade de atrair um novo tipo de habitante que se move, usa e prolonga a sua actividade do Mar à Serra. Sendo este um roadmap para os próximos 10 ou 20 anos, ficou por entender que novos modos de habitar este território propõe o novo Plano. Ficou por entender, se a anunciada redução de perímetros urbanos e camas turísticas procura a autenticidade contestando os resorts turísticos artificialmente isolados e promovendo sim, intervenções que experimentam vivências reais e reflectem preocupações relacionadas com a qualidade dos espaços urbanos e com a convivência entre novos e velhos modos de vida.

Esperemos por mais apresentações, na expectativa que junto ao mar este Plano possa ultrapassar os modelos de desenvolvimento associados ao estereótipo da ocupação sazonal, dividindo turista e residente, permitindo a arquitectos, paisagistas e urbanistas testar novas tipologias, usos e programas capazes de criar a diversidade necessária à construção de uma nova identidade transpondo assim as diversas velocidades e escalas de tempo.
na sala, alguém levantou a suspeita que grande parte das construções no concelho resultam de necessidades do mercado e de estratégias de especulação imobiliária mas não reconhecem potencial em atrair um novo tipo de habitante, nem tiram partido da riqueza do património existente para gerar novas propostas de ocupação do território. E essa deverá ser a diferença quando pensamos que tudo é também paisagem.

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