Seminário em Silves destaca valor da água e necessidade de parceias.
“Temos de olhar para a água numa perspetiva de património” – é talvez a principal conclusão retirada do seminário que se realizou em Silves, no dia 1 de outubro, no Dia Nacional da Água.
O seminário foi organizado pela Agência Portuguesa do Ambiente, Projeto Voluntariado Ambiental para a Água, Centro de Formação de Professores de Albufeira e Silves, Câmara Municipal de Silves, Autoridade Nacional para a Proteção Civil, com o apoio do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Águas do Algarve, tendo como media partner o Terra Ruiva – Jornal do Concelho de Silves.
Cerca de 60 técnicos e professores debateram os temas “Corredores Ecológicos” e “Pessoas e ecossistemas”.
Foi também abordada a necessidade de deixarmos de olhar para a água num “sentido egocêntrico ( para que é que ela me serve?)”, mas num sentido de património de todos, de grande valor, que necessita de ser preservado, “porque custa pouco proteger e recuperar custa muito”.
Neste sentido, destacou-se a importância das várias entidades que regulam o sector da água, defendendo-se uma melhor articulação entre elas até porque “ a natureza não tem limites administrativos”. O caso do Município de Gaia, onde todas as competências foram concentradas numa só entidade, foi apontado como um exemplo, que facilita não só a decisão mas também a responsabilização “ assim nenhuma entidade pode atirar culpas para cima de outras”.
O seminário terminou com duas intervenções particularmente interessantes para o cidadão comum que se interesse por esta temática e que queira contribuir para a preservação de rios e ribeiras. Manuela Oliveira, coordenadora nacional da Associação Portuguesa de Educação Ambiental, apresentou o “Projeto Rios”, que desenvolve um trabalho de voluntariado em 109 municípios, com o objetivo central de monitorizar a qualidade da água e sensibilizar para esta temática.
Paula Vaz, da APA, apresentou o projeto “Voluntariado Ambiental para a Água” criado com o objetivo de “implementar uma rede de monitorização das massas de água do Algarve”, para a melhoria da gestão e proteção dos recursos hídricos e que está também a ser desenvolvido em Silves. A técnica falou das atividades que têm sido realizadas, muito focalizadas nas escolas, com professores e alunos, e destacou a necessidade de envolver as crianças e jovens que “estão muito afastados da natureza”, temos que os “incitar a fazer coisas”, disse. A importância das parcerias como suporte destes projetos foi também sublinhada: “ só com parcerias é que se consegue fazer a diferença”.
Quanto à questão da qualidade ecológica dos rios e ribeiras do Algarve foi dito por esta responsável que “ no Algarve a perspetiva é animadora”. Um dos poucos casos graves regista-se precisamente no concelho de Silves, na Ribeira de Alcantarilha, que sofre de problemas derivados de efluentes urbanos, da agricultura, golfes e suinicultura, “uma situação que se tem prolongado no tempo, mas que está em fase de resolução”.
Segundo Paula Vaz, a APA irá este ano desenvolver trabalho de voluntariado nos concelhos de Silves, Lagoa e Monchique, com várias ações que se iniciaram com este seminário. A seguir irão ser desenvolvidas atividades práticas de valorização das ribeiras que contarão com a participação de escolas que queiram aderir. A primeira destas ações no concelho de Silves está já marcada para o dia 23 de novembro, dia em que se assinala o Dia da Floresta Autóctone ( ver notícia em caixa). Outras se seguirão, de acordo com as prioridades que forem definidas “em conjunto com as câmaras Municipais”.
No período de debate, foi também abordada a questão da dificuldade em conseguir resultados neste e noutros projetos que são desenvolvidos envolvendo muitas pessoas, entidades e voluntários. Paula Vaz afirmou que “já tínhamos tentado fazer alguma coisa aqui em Silves e não conseguimos, isso tem muito a ver com as equipas que estão à frente, e agora temos tido o apoio da Câmara Municipal”.
Sobre o voluntariado, sublinhou ainda que “ser voluntário não é ser uma vez, tem de ser ao longo dos anos” e que isso dificulta a consolidação de alguns projetos que “ estão colados com fita cola”.
“Somos poucos no voluntariado, mas logicamente somos bons porque estamos a dar o melhor de nós”, disse a propósito Pedro Teiga.
Sobre os recursos financeiros existentes para esta área, falou-se na necessidade dos recursos do Estado serem distribuídos de forma transparente e de encontrar formas para que os “15 milhões existentes para a proteção de recursos hídricos” sejam utilizados devidamente e que cheguem onde devem chegar. O representante do ICNF apresentou o exemplo de um financiamento que se encontrou disponível para proprietários rurais com linhas de água nos seus terrenos, e que, no Algarve, foi utilizado apenas por empresas de celulose. Em breve, disse, irá abrir uma nova linha e reforçou a necessidade da informação chegar de forma adequada a quem se destina, ao invés das “ linhas de financiamento não terem colagem com a realidade”.
O seminário foi encerrado pelo vice- presidente da Câmara Municipal de Silves, Mário Godinho, que sublinhou a natureza da água enquanto um bem público, que deve estar acessível a todos, discordando da pretensão de privatização deste sector. “A água é de todos, não é um bem destinado ao lucro fácil”, disse o autarca que defendeu a necessidade de serem encontradas “soluções equilibradas e justas”.
Voluntariado Ambiental Água
Ser voluntário no projeto “Voluntariado Ambiental para a Água”, desenvolvido pela APA com vários parceiros, é possível para todos os maiores de 18 anos, ou para menores deste que estejam acompanhados por um adulto.
Os voluntários fazem três tipos de trabalho: partilham on-line imagens, documentos e vídeos para a biblioteca do portal; efetuam saídas de campo e realizam uma avaliação do local; efetuam saídas de campo e avaliam a qualidade ecológica da água; realizam açoes de valorização de troços de rios e ribeiras do Algarve.
Quem estiver interessado pode inscrever-se no site: http://voluntariadoambientalagua.apambiente.pt