Dizem que tudo o que fazemos tem sempre um lado político. Com as eleições autárquicas a aproximar-se, faz todo o sentido perguntar: o que está previsto para a saúde? E será que a nutrição aparece como prioridade?
A verdade é que a nutrição continua muitas vezes esquecida, mas é um dos investimentos mais inteligentes que podemos fazer numa comunidade. Porque não se trata apenas de comer bem: trata-se de prevenir doenças, poupar recursos e dar mais qualidade de vida a cada pessoa. Uma população saudável significa menos internamentos, menos medicamentos, menos consultas repetidas, menos faltas ao trabalho e, claro, mais energia e bem-estar no dia a dia. Muitos problemas de saúde que exigem recursos públicos estão diretamente ligados a maus hábitos alimentares, por isso é essencial que as autarquias apostem nesta área.
Os números ajudam a perceber a dimensão do problema. Em Portugal, mais de 42% da população adulta vive com uma doença crónica. As doenças do coração ainda são a principal causa de morte e a obesidade continua a crescer, atingindo quase um terço dos adultos. Também entre as crianças, a obesidade é hoje mais comum do que a desnutrição.
No Algarve, e também aqui em Silves, estas realidades não são diferentes. Com uma população cada vez mais envelhecida e dificuldades no acesso a cuidados de saúde próximos, a prevenção é ainda mais urgente. Muitos dos recursos gastos em tratamentos poderiam ser poupados se houvesse mais investimento em nutrição preventiva.
Tudo tem a ver com maus hábitos alimentares que poderiam ser evitados com mais informação, mais apoio e ambientes que facilitem escolhas saudáveis.
Mas o que pode ser feito, na prática, pelas autarquias?
Há várias medidas possíveis: criar programas de educação alimentar nas escolas, centros comunitários, lares e locais de trabalho, para que as pessoas aprendam a escolher e preparar melhor os alimentos; garantir que cantinas e refeitórios públicos oferecem refeições equilibradas, com menos sal, açúcar e gorduras e mais frutas, legumes e cereais integrais; apoiar consultas e serviços de nutrição de proximidade, acessíveis a quem mais precisa; valorizar a produção local, através de hortas comunitárias, mercados e feiras com produtos frescos e regionais; e recolher dados sobre os hábitos alimentares da população, para que as políticas possam ser ajustadas às necessidades reais de cada freguesia.
À primeira vista, pode parecer pouco, mas, na verdade, são estas pequenas ações que mudam vidas. Uma refeição mais saudável numa escola, um idoso que aprende a cozinhar com menos sal, uma família que descobre alternativas ao excesso de açúcar… tudo isto representa menos doenças e mais saúde para todos.
Por isso, fica o apelo: incluir a nutrição nos programas eleitorais não é um detalhe decorativo, é assumir a saúde como prioridade. É apostar em prevenção, aliviar o peso sobre o SNS e, sobretudo, construir comunidades mais fortes, ativas e com melhor qualidade de vida. Uma decisão política que faz a diferença nas contas e, acima de tudo, na vida das pessoas.


