MEMÓRIAS. Na secção Memórias lembramos o texto “Os Onze Estelas”, de José Baeta Oliveira (Zé Baeta), publicado na edição nº 79, de Maio de 2007.
Relembrei, no artigo do número anterior, sob o título de: “Só se lembra dos caminhos velhos quem tem saudades da terra”, a Oficina do Mestre Zé Cercas e os assuntos que lá se afloravam e discutiam. Um desses assuntos era a táctica de jogo dos “Onze Estrelas”.
Pois é dos “Onze Estrelas” que venho agora falar. Não se trata de nenhum estudo documentado e exaustivo sobre as origens e desenvolvimento desta equipa popular de futebol, apenas do relembrar de imagens que transporto na memória e das conversas recentemente havidas, em torno desta foto que o Zé Medronho ofereceu outro dia ao Zé João Mateus, (de pé, ao centro) a qual já mandei reproduzir para levar um exemplar ao Eduardo Jorge, (o mais baixo em pé).
Suponho que os “Onze Estrelas” terão surgido para ocupar o lugar deixado em aberto pelo “Grupo do Artur”, após a prisão do Artur Catarino, pela PIDE, por actividades de agitação e propaganda contra o Regime Fascista de Salazar.
No “Grupo do Artur” e, posteriormente nos “Onze Estrelas” alinhava a malta de Silves que tinha mais jeito ou menos jeito para jogar à bola e que se encontrava disponível em cada domingo. Comentava o Zé João, ainda outro dia, num fim-de-semana que veio cá passar comigo, que os “Onze Estrelas” eram para aí uns quarenta; e que nunca terão havido dois jogos seguidos com a mesma equipa.
Jogavam jogadores não titulares do Silves e dos Juniores do Silves, ou titulares mas em época de defeso; outros habilidosos que, tendo ou não passado pelos Juniores, não tinham feito carreira no Silves. E jogava o Zé Xana, antes e depois do jogo, carregando orgulhosamente o saco das botas ou dos equipamentos, acompanhando a comitiva, quer a deslocação fosse de automotora ou de excursão previamente organizada.
Jogador efectivo e permanente, capitão de equipa, seleccionador, director do grupo e “Director de Marketing” era o Joaquim Cartaxo (em baixo ao centro), corredor de fundo, carburando a vinho tinto. Ajudante de distribuição de vinhos, pirolitos cervejas e laranjadas da casa Ventura Duarte, estabelecia os contactos com as outras equipas amadoras de Tunes, Algoz, Messines, Ferreiras, S. Marcos da Serra, Armação de Pera, Monchique, etc.. Para financiar as deslocações da equipa, era frequente a organização de excursões, designadamente a Monchique o que incluía piquenique nas Caldas.
Pelas minhas contas esta foto datará de 1962, uma vez terminado o périplo dos juniores; aliás esta equipa é constituída na quase totalidade por elementos da equipa de juniores de 1961/62. Digo isto porque eu integrei a equipa de juniores, como jogador não titular, dois anos depois, em 1963/64, no segundo ano do Benedito e do Pacheco e no primeiro do Miguel Zé, tendo passado a alinhar uma vez por outra nos “Onze Estrelas” quando o treinador do Silves (na altura o Sr. Vinagre) deixou de me convocar para suplente, por ter falhado um golo frente à baliza do S. Brás de Alportel, supostamente por ter estado, até às cinco da manhã, no Baile da Música. (Quem salvou o jogo foi o Fernando Alves da Silva com um golo de cabeça, de bola centrada por mim; curiosamente o Fernando também estivera no baile mas provavelmente só até às três horas).
O penalti de Mé Vitar
Terá sido por uma destas épocas, num jogo dos “Onze Estrelas”, em Messines, que o “Mé Vitar” (assim escrevo para que assim se leia e reconheça o jogador em causa), titular do Silves, meteu um “penalti” de cabeça.
Eu explico: o campo de futebol do “Messinense” era num antigo cemitério; o “Mé Vitar” foi marcar o “penalti” mas em vez de acertar na bola acertou numa caveira e a cabeça do morto entrou na baliza do adversário.
É claro que nada disto se passou assim; isto só se passou na imaginação prodigiosa do Victor. A história terá sido contada na Oficina do Mestre Zé Cercas, e, como todas as histórias do Victor, iniciada por: “Uma ocasião…”
Também por estas alturas, jogara uma vez à baliza, o Zé Leiteiro, por falta do Zé Viana. O Zé Leiteiro engoliu frangos até dizer chega. Quando lhe foram exigir contas e responsabilidades, a resposta foi clara: “O que é que vocês querem, como é que vocês queriam que eu me mexesse; eu calço o 42, deram-me umas botas 38…”
É para recordar e reviver estes e outros jogos, histórias e bailes, que um núcleo de jovens (entrados ou a entrar este ano na equipa etária dos 60, os nascidos em 1947) está a promover uma jornada de convívio da “malta de Silves”, com contornos ainda não definidos, centrada nos moços que entraram para a sala do Professor Baptista em Outubro de 1954, (eu iniciei a minha actividade escolar em 1953 em Alcantarilha), e que uma vez terminada a 4ª Classe seguiram para as diversas escolas então disponíveis, designadamente as da cortiça, as das serralharias as das carpintarias, as de electricistas, as das lojas, as da construção civil, as do campo e também para a Escola Técnica. A jornada será alargada à malta dos anos seguintes e anteriores, e às moças que nos Bailes do Silves, da Música ou dos Bombeiros e também da Vilarinho ou da Cooperativa, nos foram concedendo a honra de dançar connosco.
Desta jornada poderá, eventualmente vir a fazer parte um baile que gostaríamos fosse abrilhantado pelo “Shelb 65” cujos elementos jogaram quase todos nos “Onze Estrelas”, se calhar, até mesmo, o Nuno Peixoto.
Texto e foto: José Baeta Oliveira (Zé Baeta)