A falta de água no Algarve e a forma como os agricultores estão a ser afetados por esta situação foi o tema da iniciativa da CDU que trouxe a Silves o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo.
O encontro com os agricultores decorreu no dia 23 de janeiro, na Fissul, contando também com as presenças da cabeça de lista da CDU às próximas eleições legislativas, Catarina Marques, da mandatária desta candidatura, Rosa Palma e de Gabriela Brígida que integra a lista da CDU.
Foi a candidata da CDU, Catarina Marques, quem deu início às intervenções, traçando um quadro geral social do Algarve, e os problemas que persistem, numa região com um modelo de desenvolvimento centrado no turismo e que abandonou a agricultura, o que ficou bem patente “com o desmantelamento do Ministério da Agricultura” e com o fim dos serviços de apoio aos agricultores. Destacando a ideia (que iria ser repetida por todos os intervenientes), Catarina Marques, sublinhou que o problema da falta de água no Algarve “não é de agora” e que houve tempo suficiente para serem tomadas medidas atempadamente.
A confirmar essa ideia, João Garcia, presidente da Associação de Beneficiários e Regantes de Silves, Lagoa e Portimão, afirmou que os “cortes de água têm sido uma realidade nos últimos anos”, até que se chegou a uma “realidade muito constrangedora”, com a tomada de “medidas muito graves que põem em causa a sustentabilidade do concelho de Silves e do território”.
João Garcia, que também é produtor de citrinos, confirmou que as comportas de superfície da Barragem do Arade, uma infraestrutura do Estado, continuam avariadas “há 10, 15 anos”, o que leva a uma perda de água na ordem dos “dois milhões de metros cúbicos”. Uma situação que só poderá ser corrigida no futuro, sendo que a Associação de Regantes, em 2023, apresentou um projeto com vista ao financiamento da obra de reparação das comportas, orçada “num milhão de euros”.
A questão do impacto que a seca e a falta de água causarão na região e em particular no concelho de Silves, foi também abordada por um agricultor que propôs que o concelho liderasse o protesto dos agricultores. Ao que Rosa Palma respondeu que o Município estaria com certeza disponível, “mas temos que ter os agricultores connosco”, disse, pelo que apelou a que todos estivessem presentes na Mostra da Laranja, que irá decorrer em fevereiro, para, perante as autoridades competentes na matéria, “dizerem o que sentem, de viva voz”.
Se o modelo de agricultura que tem sido seguido é aquele que melhor serve os interesses da região, foi a pergunta lançada, para reflexão dos presentes, de uma jovem “não agricultora”.
Com uma fraca participação dos agricultores presentes, o encontro encerrou com uma intervenção do secretário-geral do PCP. Este defendeu a água como um “bem público” e considerou que é necessário “tratar de forma diferente as culturas intensivas da agricultura familiar, e o consumidor doméstico, do turismo”.

Paulo Raimundo enunciou as principais causas do estado a que se chegou, nomeadamente a falta de chuva aliada a um aumento descontrolado do consumo, ao mesmo tempo que “sucessivos governos fizeram orelhas moucas e assobiaram para o lado”, enquanto se permitia a construção de campos de golfe, a instalação de cultura não autóctones que exigem um consumo intensivo de água e a não construção de reservatórios de água e a ausência dos investimentos públicos necessários.
O secretário-geral do PCP enumerou também as várias propostas que este partido tem apresentado na Assembleia da República sobre a seca e a falta de água, com o objetivo de garantir “uma política agrícola que defenda a pequena e média agricultura” e “garantir a todos os agricultores e produtores de gado, água para a sobrevivência das culturas”. QA construção da Barragem da Foupana, para se articular com as Barragens de Odeceixe e Beliche, “medida que o PCP propôs no OE 2023 mas foi chumbada”, a construção de açudes na Ribeira de Monchique e no Rio vascão, a autorização para construção de charcas, e a concretização do Plano Nacional do Regadio “que continua a derrapar ano após ano”, foram algumas das propostas.
Sobre a dessalinizadora do Algarve, Paulo Raimundo expressou dúvidas quanto à eficácia desta obra “que na melhor das hipóteses terá capacidade de tratamento de volume de água que nunca ultrapassará os 20% do consumo”, com um custo estimado entre os 50 e os 100 milhões de euros, e que só estará em funcionamento em 2026, se forem cumpridos os prazos de execução.
O futuro próximo – os próximos dias é o que inquieta os agricultores. Como perguntava Luísa Conduto, vice-presidente da Câmara Municipal de Silves, o que fazer perante esta situação, uma vez que os cortes de água já estão estabelecidos e dentro de dias serão tornados oficiais.
Ao que, de forma indireta, Paulo Raimundo responderia na parte final da sua intervenção: “agora é comer e calar, ou fazer o que tem de ser feito. Nesta batalha contam connosco, com a solidariedade e ação e empenho e as nossas propostas.
E iria concluir, num apelo à ação no dia 10 de março: “precisamos é de secar a política que nos trouxe até aqui”.



