A elevação de São Bartolomeu de Messines à categoria de «vila» há 50 anos e a atualidade!

O decreto n.º 88/73, que consagrou a elevação de São Bartolomeu de Messines a vila, foi publicado em Diário do Governo a 7 de março de 1973.

Mas tal não impediu que os messinenses festejassem, uns dias antes, aquele momento sublime, logo assim que tomaram conhecimento que o presidente da República o promulgara a 2 do mesmo mês.

Segundo o «Diário de Notícias», eram: 20:30 quando os sinos tocaram a rebate e começaram a estalejar no ar dezenas de foguetes e «não tardou que no largo da igreja da nova vila, se juntassem milhares de pessoas, que euforicamente se aliavam ao júbilo das entidades locais», noticiava aquele periódico, na edição de 3 de março. Para logo complementar: «velha aspiração de muitas dezenas de anos, agora tornada realidade».

Formaram-se de imediato dois cortejos, um de automóveis, buzinando incessantemente, e outro a pé, que percorreram todas as ruas da localidade, concentrando-se depois junto à estátua de João de Deus, de onde seguiram para o cinema. Durante o trajeto a pé foi cantado, em coro, o «hino da vila», um poema de João de Deus, de acordo com o jornal «O Século». No cinema decorreu uma «informal sessão», na qual intervieram o presidente da Junta, Francisco Vargas Mogo e Teófilo Fontainhas Neto, os quais «enaltecendo as qualidades do bom povo de Messines não deixaram de tributar entusiásticas ovações ao tenente-coronel Jorge Vargas [o portador da missiva e da boa nova], às autoridades concelhias e distritais e ao Governo da Nação, que apoiaram a Junta de Freguesia para que se materializasse este velho sonho», lê-se também no DN. Finda a sessão, a festa prolongou-se pela noite dentro.

O decreto, publicado a 7 de março, como já referimos, fundamentava-se em vários considerandos, desde logo «o grande desenvolvimento demográfico», depois que «a povoação sede da freguesia é servida por boas vias de comunicação, incluindo caminho de ferro, e está dotada de instalações de distribuição domiciliária de água e energia eléctrica e de rede de saneamento», bem como o «notável incremento industrial e comercial», e por fim «que nela existem diversas instituições de interesse público e colectivo, de natureza social, educacional, cultural e económica», sem esquecer o parecer concordante das autoridades distritais, do Ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, presidente do Ministério, Marcelo Caetano e do Presidente da República, Américo Tomás.

A 5 de março uma comissão de messinenses, composta pelo tenente-coronel Jorge Vargas Mogo, Dr. Cabrita Carneiro, Eng. Ambrósio Neto, José Inácio Martins, Francisco Vargas Mogo e Américo Avelino Carrajola Ramos, convidava o ministro do Interior a visitar S. B. de Messines, em data oportuna, e a entregar aqui oficialmente, em pergaminho, o alvará de elevação a vila. Cerimónia que veio a realizar-se em outubro daquele ano.

Malogradas que tinham sido a elevação a vila e a sede de concelho em 1914, e posteriormente no Código Administrativo de 1936, ou ainda as diligências efetuadas na década de 1940, sem deixarmos de evocar outra tentativa de 1791, a elevação a vila era o corolário da ação determinada dos messinenses, a partir da década de 1950.

Ainda de 1929 vinha a frustração da colocação do busto a João de Deus em Faro, inaugurado em 1930, ao invés de ter ficado em S. B. de Messines como primeiramente se aventou.

Ora, é justamente com o objetivo de dotar a aldeia com um monumento ao filho pródigo que os messinenses se vão unir. Assim, no carnaval de 1957, foi organizada a primeira batalha de flores, para angariar dinheiro para esse fim, iniciativa que se repete nos anos seguintes. A 8 de março de 1964 o monumento era não só uma realidade, como foi oferecido pelo Ministério das Obras Públicas.

Conquanto, as forças vivas da terra não desmobilizaram. Embora as dificuldades fossem muitas elas tornaram-se desafios, de tal forma que para as gentes de Messines parecia não haver impossíveis.

Por essa altura ficou conhecido o lema da terra: «Messines é assim», e com ele se respondia à perplexidade e admiração de todos aqueles que ficavam atónitos com as conquistas locais, as quais causavam cobiça a muitas sedes de concelho.

Erigido o monumento a João de Deus, os esforços são dirigidos para uma outra «utopia», que remontava a 1922, um Jardim- Escola. É certo que Faro ambicionava a sua construção e vinha a efetuar diligências nesse sentido. Por S. B. de Messines, estabelecido o objetivo aí por 1968, o mesmo foi solenemente inaugurado em 1972, a 8 de março, como não podia deixar de ser (já os farenses tiveram de aguardar por 1986).

Dia grande na terra, com a inauguração do novo cinema, com mais de 400 lugares, do edifício da Sociedade de Instrução e Recreio, e lançada a primeira pedra para o pavilhão da Casa do Povo.

A par de tudo isto, a aldeia transformara-se num grande pólo comercial e industrial, assente, entre outras, nas empresas Teófilo Fontainhas Neto e Ramiro Cabrita & Irmão, que empregavam largas centenas de pessoas. Os Estabelecimentos Teófilo Fontainhas Neto construíram mesmo um Centro de Alegria no Trabalho (1971), destinado aos trabalhadores e famílias. Não havia, pois, como o Estado negar a elevação a vila de S. B. de Messines, o incremento e atividade económica, social e cultural que a freguesia detinha eram inegáveis e raras no contexto nacional.

É certo que a não promoção a sede de concelho constituiu um travo amargo. Mas as forças vivas, da terra e da diáspora, não deixaram de lutar por uma corporação autónoma de Bombeiros, fundada em 1977, cujo quartel foi inaugurado em 1984, uma instituição bancária, como a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de S. B. de Messines e São Marcos da Serra (1979), o Centro de Dia (1992) e depois Lar de Terceira Idade, a Casa Museu João de Deus (1996) e até uma Escola Agrícola (1993) foi sedeada na vila. A par de tudo isto começou a ser organizada, em 1990, a Feira Popular, depois denominada Feira de Atividades Económicas (1994), a FAE. Foram tempos de grande audácia e envergadura.

Volvidos 50 anos daquela data memorável, é tempo de reflexão. Se as décadas de 1950 a 90 foram de conquistas e concretizações, desde a viragem do milénio que temos vindo a assistir a alguma apatia. Nem a chegada da autoestrada, em 2002, logrou inverter o despovoamento da freguesia, que perde habitantes consecutivamente desde 1980, o número de eleitores já desceu inclusive abaixo dos 7 000. As infraestruturas com que ultimamente foi dotada não foram planeadas, como a localização do jardim ou o terminal de autocarros, ou ainda a amputação do vasto campo da feira, que em dias de certame fica sem estacionamento (justamente quando mais falta faz). Apesar da localização privilegiada da vila, só recentemente foi instalado um dispositivo público para carregamento de automóveis elétricos, facto que consideramos incompreensível. O Alfa Pendular não para na estação, apesar do longo cais construído em 2004 para o efeito. Também o poder de decisão local se tem vindo a perder, como sucedeu na recentíssima fusão da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, grande financiadora das coletividades e eventos da terra. Por outro lado, a Escola Agrícola desapareceu, enquanto o comércio local atravessa dias difíceis.

Meio século depois talvez esteja na hora dos messinenses se inspirarem no passado e com responsabilidade, traçar um outro rumo para o futuro da freguesia de São Bartolomeu de Messines. Mas, por agora felicitamos a «jovem» vila e prestamos homenagem a todos aqueles que, de uma ou de outra forma, contribuíram para esse feito sublime de há 50 anos.

 

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Um Comentário

  1. Como já nos habituou, de há muito, com os seus excelentes trabalhos, o Aurélio Nuno Cabrita, uma vez mais, nos presenteia com uma completa e polícroma descrição, a que sabe transmitir movimento e vida.
    Desta vez, o tema foi o dia memorável da promoção a Vila daquele que sempre conheci como o valoroso “Povo” de Messines, cujas gentes podem – quando para isso arregaçam as mangas – operar feitos que ficam na memória dos vindouros, terra que, porém, como muito bem escreve o Aurélio, atravessa um período a que chamarei de descrença, que urge ultrapassar, para que possamos fazer jus aos Messinenses de fibra que nos antecederam.

    Apesar de longe, há já 65 anos, jamais deixei de acompanhar o ritmo da terra que me viu nascer e que formatou em mim o conceito de que é a luta pelos grandes ideais que define aqueles que poderão perder uma batalha, mas que nunca, no final, serão vencidos.
    É esta postura que gostaria de tornar a ver nas gentes da minha terra.

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