Às 00h00 do dia 5 de fevereiro, o músico Reflect lança uma música “Imortais” em homenagem ao músico silvense Dezman, falecido recentemente.
“Após o falecimento do meu colega de palco e eterno amigo Dezman, no final de 2020, decidi começar o ano com música nova a honrar o seu legado contando a nossa história no Hip-Hop. É uma música que preferia não ter feito, mas que merecia existir por tudo aquilo que conseguimos construir em conjunto”, explica o músico armacenense, Reflect
.
“Imortais” conta a história de Dezman e Reflect, nas palavras do próprio:
«Ainda parece mentira. Mas a verdade é que na estrada que me resta o Dezman não vai estar comigo, como em toda esta estrada do Hip-Hop que percorremos lado a lado até aqui.
É a segunda vez que a morte leva uma pessoa do meu palco, deixando-me com a sua obra nas mãos.
Ao revisitar tudo aquilo que o Dezman fez na música, fico de consciência tranquila porque sei que ele foi em paz no que toca ao seu legado.
E eu estou cá para continuar a defendê-lo. Para que seja feita justiça à memória do Mauro e à obra do Dezman.
Disse várias vezes ao Dezman que, assim que tirasse o aparelho, queria que nos juntássemos em estúdio para gravar um projeto em conjunto.
Assim que tirei o aparelho, pedi-lhe um beat. E essa foi a nossa última conversa. Ele já não teve tempo de me enviar esse beat, mas felizmente tinha pedido um beat também ao Luar.
Quando ouvi o instrumental senti que tinha de fazer algo incrível em cima dele. A minha ideia seria criar uma espécie de “Infinitamente II”, ou seja, que houvesse uma história muito forte a ser contada em cima daquele beat.
Preferia não ter contado esta história tão cedo, mas agora que a tua estrada terminou, fez-me todo o sentido imortalizar esta nossa viagem na música, usando a forma de expressão que nos uniu infinitamente.
Não quis fazê-lo com tristeza porque o que sinto cá dentro é honra e orgulho… o privilégio que foi poder contar contigo em tudo aquilo que fiz na música até hoje.
Pela primeira vez na minha vida vou lançar uma música nova sem te ter mostrado antes. Pela primeira vez, quando acabei a música, tu não estavas cá para ouvi-la.
E nesse momento bateu fundo cá dentro a tua eterna ausência.
Contar a nossa história é também falar de racismo, de preconceito, de rivalidades e de todos os outros muros que fomos mandando abaixo com este amor pela música que nos fez falar sempre a mesma linguagem.
É verdade que a nossa música chegou a muita gente, marcou uma geração, mas nunca nos encostámos a esse passado glorioso. Continuámos aqui a batalhar pela nossa relevância projeto a projeto, faixa a faixa.
E sinto que nesta fase da nossa vida e carreira, merecíamos mais reconhecimento.
Foi para tentar repor alguma justiça nisto que decidi contar a nossa história, à minha maneira, pelos meus olhos, por palavras minhas.
Para que o mundo possa, para sempre, conhecer-te.
Obrigado Luar pelo beat, obrigado Diogo pelo vídeo, obrigado família e Kimahera por todo o apoio, obrigado Laura por todo o amor e obrigado Mauro por me permitires fazer história ao teu lado.
O teu legado não ficará ao abandono, mas por agora aqui fica a nossa história. Imortais»

A música sairá com um videoclip “que vai ilustrar na perfeição esta viagem pela nossa memória conjunta” acrescenta Reflect (Pedro Pinto) fundador e responsável pela editora algarvia Kimahera, que nasceu no momento em que estes dois artistas do Algarve se juntaram para criar o que viria a ser o álbum de estreia do Dezman e a primeira pedra da Kimahera: Atmosfera Hostil.
IMORTAIS/ https://www.youtube.com/watch?v=HVusoosS9iw
O mundo vai girando e eu não corro mais
O tempo vai passando e tu p’ra onde vais?
A estrada terminou, foi curta demais
Não cabemos no corpo, somos imortais
x2
Diz-me o que há do outro lado e que ainda não conheço
Não vejo dádiva nenhuma que faça valer o preço
Não há significado, muito menos direção
Que aponte uma razão para a lógica que peço
Foi um erro do destino, mas a vida não falhou
Quando o nerd de Armação ao dread de Silves se juntou
Foi rebeldia pura e até ficava mal
Um branco da moradia, um preto do bairro social
Mas provámos nesta porra que a arte é incolor
Que a linguagem é a mesma quando o tema é amor
Que o preconceito é transparente quando o coração comanda
Com rimas e um microfone, MCs em palco viram banda
Sonhámos e ousámos durar mais do que ponteiros
A espalhar alma em poesia com relatos verdadeiros
Cinzas narradas pela voz do que foi escrito
Lendas do nosso tempo a rimar no infinito
O mundo vai girando e eu não corro mais
O tempo vai passando e tu p’ra onde vais?
A estrada terminou, foi curta demais
Não cabemos no corpo, somos imortais
x2
Crescemos lado a lado, construímos um legado
Entre viagens e palcos com orgulho amplificado
Carregámos a bandeira com a região ao peito
E fizemos muita coisa que ainda ninguém tinha feito
Sem cunhas, sem merdas, viemos do nada
Tu da Caixa d’Água, do bairro para o mundo
Eu da vila da praia, do sol na esplanada
Eu já pintava mundos a cantar o meu fundo
Fizemos hinos e gravámos o que o mar já não enterra
Clássicos eternos que batem sem estar na berra
Uma lente que fotografa com sensibilidade a mais
O retrato mais fiel emoldurado em ideais
Evolusom, Atmosfera, Bairrismundo e nunca para
O orgulho que tenho em ti humedece a minha cara
Não falo para ti, Dezze, escrevo sobre nós
Porque a lenda que és dura enquanto eu tiver voz
O mundo vai girando e eu não corro mais
O tempo vai passando e tu p’ra onde vais?
A estrada terminou, foi curta demais
Não cabemos no corpo, somos imortais
x2
Imortais, imortais
Somos imortais, imortais
Na na na
Imortais, imortais
Somos imortais, imortais
Imortais, imortais


