Entre os dias 2 e 7 de outubro, o navio histórico Santa Maria Manuela está fundeado na Baía de Armação de Pêra, para acolher uma campanha científica de monitorização do Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado.
Esta é a segunda fase de uma campanha científica e educativa “sem precedentes” que teve início no dia 28 de setembro.
Um ano e meio depois da criação do Parque, o processo entra numa fase decisiva para garantir a proteção efetiva desta área. O Programa Especial e o Regulamento de Gestão do Parque Natural Marinho estão a ser elaborados e, por isso, “este é um momento único para dar os primeiros passos na monitorização científica da área protegida e reativar a sensibilização e o envolvimento da comunidade na valorização deste património natural e cultural da região”.
Com este objetivo, a Fundação Oceano Azul, o Oceanário de Lisboa e o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) – Universidade do Algarve, com o apoio de parceiros institucionais de referência como o ICNF, os Municípios de Albufeira, Lagoa, Silves e Portimão, a APS – Administração dos Portos de Sines e do Algarve, a Marinha Portuguesa e os órgãos e serviços da AMN e organizações não-governamentais como a SPEA, a AIMM, a Teia d’Impulsos, a SOMAR e o Centro Ciência Viva de Lagos juntaram-se para organizar uma campanha de 10 dias, a bordo do navio histórico Santa Maria Manuela.
O primeiro passo desta campanha decorreu de 28 de setembro a 1 de outubro, período em que, a bordo do veleiro, em Portimão, decorreram atividades educativas. O Oceanário de Lisboa reforçou a dimensão educativa e comunitária desta campanha, abrangendo várias escolas dos municípios de Lagoa, Portimão e Silves.
De 2 a 7 de outubro, decorre o segundo passo: a Campanha Recife do Algarve, a primeira campanha científica de monitorização do Parque Natural, desde a sua criação oficial. Reunindo uma equipa multidisciplinar de investigadores em ecologia marinha, pescas, biodiversidade, oceanografia, tecnologia marinha e literacia oceânica, esta iniciativa combina ciência de ponta com envolvimento comunitário.
Esta importante fase recolherá informação relevante sobre a biodiversidade e o valor natural do Recife do Algarve, de forma a compilar os dados e suportar um plano de gestão eficiente e concertado
Segundo os organizadores, esta campanha irá fazer o mapeamento de habitats emblemáticos como gorgónias, pradarias marinhas, jardins de corais e bancos de maerl; e a monitorização ambiental através de câmaras subaquáticas, eDNA, acústica e observação de aves e mamíferos marinhos.
Será utilizada uma diversidade de plataformas tecnológicas, incluindo ROV (Veículos Operados Remotamente), AUVs (Veículos Subaquáticos Autónomos), drones e mergulho científico.
A campanha “vai compilar conhecimento essencial para consolidar a implementação do Parque Natural Marinho; apoiar diretamente a elaboração dos instrumentos de gestão; produzir dados que permitam avaliar mudanças na biodiversidade e nos usos humanos um ano após a criação; reforçar o modelo de Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário (AMPIC) como primeiro exemplo de gestão comunitária em Portugal” e ainda “Servir de inspiração a outras áreas marinhas protegidas no país.”

Valores naturais
- O recife funciona como zona de reprodução, refúgio e crescimento para inúmeras espécies, incluindo sardinha, polvos e cavalos-marinhos.
- Estudos científicos identificaram 1059 espécies marinhas, incluindo 754 invertebrados, 152 peixes vertebrados, 61 aves marinhas, 2 tartarugas marinhas, 7 espécies de cetáceos e 82 espécies de macroalgas.
- Destes, 156 espécies têm valor comercial para consumo humano e 39 com potencial biomédico.
- Identificadas 18 espécies ameaçadas, entre as quais os cavalos-marinhos (Hippocampus spp.) e o mero (Epinephelus marginatus).
- Foram descobertas 45 espécies novas para Portugal e 12 novas para a ciência.
- A área cobre 60% de substrato arenoso e 40% de substrato rochoso, integrando habitats classificados pela Diretiva Habitats e pela Convenção OSPAR, como os jardins de gorgónias, as pradarias de ervas marinhas e os bancos de Maerl.
Valores socioeconómicos
- Pesca comercial: assegura 607 empregos diretos gerando cerca de 8 milhões €/ano para embarcações até aos 15 metros de comprimento. O polvo representa a base económica da pequena pesca.
- Pesca lúdica: Mais de 11 mil eventos de pesca lúdica apeada e embarcada por ano, com foco em capturas de espécies com elevado valor comercial como dourada, robalo e sargo.
- Atividades marítimo-turísticas: quase 1 milhão de visitantes/ano em 2018, representando mais de 40M€ em receitas diretas para a economia regional com atividades como passeios de costa, observação de cetáceos e mergulho.


