O Mercado Municipal do Algoz

Em Silves, no edifício da Câmara, encontra-se patente, até ao final do mês de janeiro a Exposição do Arquivo Municipal com o tema “O Mercado Municipal do Algoz”.

O Terra Ruiva colabora com esta iniciativa do Arquivo Municipal publicando uma versão resumida do texto da exposição. A versão integral, com o texto e as imagens, está disponível aqui: O Mercado Municipal do Algoz

 

O Mercado Municipal do Algoz

 

Algoz, com uma população estimada em cerca de 3 831 (Censos de 2011) é uma vila e sede de freguesia do concelho de Silves com cerca de 38,91 Km2 de área, dista 14 km da sede do concelho.

Esta antiga freguesia apresenta uma paisagem mediterrânea, que se relaciona com as características de relevo, clima e vegetação, associadas à sua localização em pleno barrocal algarvio, estendendo-se por um vale aberto, delimitado, a sul, por uma montanha e a oeste por terrenos elevados.

Estas características conferem um dinamismo económico assinalável no sector comercial e agrícola, nomeadamente nas culturas de fruticultura e floricultura, sendo os citrinos, nos dias de hoje, a cultura predominante.

No passado, ao lado desta atividade predominantemente agrícola, sobressaía a tradicional e importante indústria cerâmica, com três fábricas, e uma de destilação de álcool.

Recentemente instalaram-se no Algoz várias empresas de distribuição, assistindo-se a um grande crescimento empresarial.

Deste modo, apesar de resguardada do grande desenvolvimento urbano-turístico da região, a vila assistiu, nos últimos anos, a um crescimento no comércio, com uma população ativa, devido ao aumento de lojas de pequeno e médio retalho e empresarial, sendo este o principal impulsor de desenvolvimento da freguesia.

Do ponto de vista da malha urbana antiga apresenta vários exemplares de arquitetura tradicional, nomeadamente, casas de frisos e beirais duplos, edifícios de janela de sacada e coroadas de beirais, casas solarengas com as suas platibandas arabescas e cantarias e chaminés elegantes. Aqui encontra-se o Celeiro do Monte da Piedade, construído por Tomé Rodrigues Pincho, cidadão a quem D. João concedeu alvará para a sua construção, a Igreja Matriz ou Igreja de N. Sra. da Piedade, várias ermidas e o lavadouro público, datado de 1933.

A povoação que tem como orago Nossa Senhora da Piedade é banhada pela Ribeira do Algoz e atravessada pela Estrada N.º269 que liga Silves a Ferreiras, do concelho de Albufeira.

Há várias versões sobre a origem do topónimo Algoz, sendo que uma parece derivar do árabe «Al-Gûzz», designando o nome de uma tribo guerreira asiática, proveniente do Médio Oriente, que ali se teria fixado no século XII. Para Pinho Leal deve-se “que vindo um rei de Castela com o seu exército a correr terras de mouros algarvias, os fidalgos que o acompanhavam lhe disseram que atacasse a vila, pois aquilo nada era! Ao que rei respondeu: –Algo és!” .

 

Segundo o artigo “Memórias Paroquiais do Algoz (1758)” de José Manuel Vargas “a explicação etimológica do topónimo Algoz foi proposta pelo medievalista A. Almeida Fernandes num artigo publicado em 1959, na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.38, pp.91-92. Segundo esse autor, a evolução do topónimo terá sido: Alagoas> Algoas> Algôs> Algoz. A confirmar esta hipótese, está de facto de, nos sécs. XVI a XIX, na grande maioria da documentação conhecida, surgir a forma escrita Algôs e de se ter conservado essa forma fonética, quando se passou a usar o topónimo Algoz (foneticamente Algôs). A explicação da origem em Alagoas está também apoiada geograficamente na existência de diversas lagoas, ainda actualmente atestadas pela toponímia: Lagoa de Viseu, Lagoa do Navarro, Lagoínhas” .

Efetivamente é um lugar de ocupação muito antiga, povoado desde a época pré-histórica como o testemunham vários achados (Amoreira, Penedo Gordo). Riqueza mineira, abrigos/grutas e lagoas naturais foram excelentes atrativos noutros tempos.

 

Um dos filhos mais ilustres da terra foi Francisco Xavier d’Ataíde Oliveira, mas outras notáveis famílias da localidade são as dos Mascarenhas Neto e a dos Marreiros Neto.

Desde tempos recuados para o desenvolvimento das trocas comerciais o Largo da Igreja seria o local privilegiado, sendo as transações feitas em espaço aberto, sobre os passeios públicos, em lugar impróprio e sem as mínimas condições.

No início do século passado a Câmara Municipal de Silves sentiu a necessidade de alterar esta situação, através da construção de um mercado para a venda de peixe e outros géneros, conforme proposta apresentada pelo vereador Salvador de Sousa Fava, natural do Algoz, em sessão de câmara a 16 de novembro de 1914. Porém pouco ou nada se avançou nos anos seguintes.

 

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Três anos depois, em 1926, foi nomeada uma comissão, composta por José Ricardo Júdice Samora Barros, José António Limpo de Lacerda e o fiscal de obras da Câmara, para a escolha do local que melhores condições reunisse para a construção de um mercado de peixe e hortaliças naquela povoação.

O terreno foi adquirido pouco depois ao senhor Serafim Cabrita e sua mulher, pela quantia de 9.000$00, tendo a escritura sido realizada a 16 de junho de 1926 .

O fiscal de via e obras ficou encarregado de elaborar o projeto e o respetivo orçamento. Os trabalhos de construção foram adjudicados a Manoel Victoriano Lopo e Serafim Cabrita , ambos residentes em Algoz, que ficaram obrigados a “construir um mercado mixto de peixe e hortaliças no povo do Algos, excluindo o armazem, talho e casa de arrecadação, que deve ser construido do lado nascente do mesmo mercado, quando a situação do Municipio o permitir, pela quantia de 19.980$00” .

 

Os trabalhos iniciaram-se de seguida e a 29 de junho de 1934 a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Silves, sob a presidência de João Azevedo Zuzarte Mascarenhas, considerou “que é tambem urgente proceder-se ao acabamento das obras do mercado”.

Dois anos depois, em setembro de 1936 o Mestre de Obras Municipal elaborou uma estimativa respeitante às obras de reparação a realizar, no valor de 2.597$00  e no ano seguinte a Junta de Freguesia do Algoz solicitou o acabamento da parte de nascente, bem como a construção de um talho para venda de carnes .

A 15 de fevereiro de 1941 Portugal foi assolado por um terrível ciclone que deixou um rasto de destruição em quase todo o território continental e o concelho de Silves não foi exceção. Em Algoz o mercado foi parcialmente destruído, nomeadamente a nível do telhado. Em 1948 a Câmara deliberou “aproveitar o madeiramento e telhas do telhado retirado da Central, no mercado do Algos o qual não tem telhado desde o ciclone”.

Em 1961, Francisco Mendes Coelho, pedreiro, ali residente, procedeu, pelo valor de 9.016$30, à construção de uma dependência destinada a talho.

Em fevereiro de 1979, atendendo ao espirito descentralizador da Lei das Finanças Locais o Mercado passou a ser explorado pela Junta de Freguesia do Algoz, que ficou encarregue da sua conservação e manutenção, todavia em agosto a Câmara procedeu à execução de dois portões e a caiação do Mercado.

Na década de 1980 encontrando-se o atual mercado em situação degradante e a constituir perigo para a segurança da sua população foram projetadas obras de arranjo que compreendiam a construção de lojas para comércio, instalações sanitárias, arrecadações e bancadas para venda de frutas, produtos hortícolas e peixe, bem como nova cobertura.

 

As obras de recuperação do edifício do Mercado, de traça arquitetónica original e de reconhecido valor, desenvolveram-se em duas fases. A primeira foi adjudicada, a 10 de setembro de 1985, à firma Surge – Sociedade de Construções do Sul, Lda., 1ª fase , iniciando-se os trabalhos pouco depois. Os quais terminaram em outubro do ano seguinte.

Por sua vez, as obras da 2ª fase foram concedidas, a 1 de setembro de 1987, à firma Edifélix – Edifícios e Materiais de Construção Civil, Lda. , ficando concluídas no início do ano de 1990.

O Mercado Municipal do Algoz desempenhou e continua a desempenhar um importante papel económico para muitas famílias da vila, com várias gerações ligadas ao espaço, contribuindo para uma forte ligação afetiva com aquele edifício e detém também uma importante função social, uma vez que é um ponto de encontro e de sociabilidade, um local público por excelência.

 

 

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