A actriz O rosto no espelho. Os olhos, sem maquilhagem, revelam agora visíveis sinais de cansaço. O corpo imóvel, suspenso da trajectória do olhar. Sobre o toucador os mais variados produtos de cosmética, que lhe transformam todas as noites o rosto em personagem de cena. Ela sabe. Viu o público de pé, a aplaudir, ouviu até o seu nome; ainda ouve rumores de passos, vozes, exclamações onde se espelham as últimas emoções do palco. A porta fechada do camarim. Ele não vem, não vai entrar por ali, correr para abraçá-la. No espelho o rosto triste, a imobilidade do tempo. Noutras …
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PÁGINA ABERTA: O homem que abraçava as árvores
Era Outono, aquela estação melancólica, indecisa, de ambíguas oscilações. O sol já perdera o calor persistente dos longos dias de Verão e aparecia agora mais fugaz, por vezes desaparecendo por completo sem aviso prévio. Naquele dia permaneceu mais tempo, a manhã cresceu luminosa, os pássaros voltaram a cantar sobre a alta copa das árvores. Um desconhecido passeava solitariamente pelos caminhos atapetados de folhas caídas, caminhava à minha frente num passo lento, descomprometido, sem aparente direcção, ao sabor do acaso. Parecia não dar conta das pessoas que cruzavam o seu caminho, como se não existissem. Ninguém sabia quem era e o …
Ler Mais »PÁGINA ABERTA: A penúltima casa
A penúltima casa Dedicado ao meu irmão José dos Reis Vieira Acordou cedo. Pela semiobscuridade do quarto apercebeu-se da antecipação da hora, não havia sinais dos dias crescidos e luminosos do Verão. Ergueu a mão sobre a mesa-de-cabeceira, procurou o candeeiro e acendeu a luz. De repente, não era mais uma vaga percepção, mas a nítida clarividência de uma nova realidade. Estava numa outra casa, num lugar estranho. No começo de tudo o que está ainda por conhecer. Ao levantar-se, o corpo dorido acusou marcas recentes que a memória dificilmente tentava associar: não chegou a perceber bem, foi tudo tão …
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