Em março, a primavera, no hemisfério norte, está para chegar, mas a paz na Ucrânia, infelizmente, não. Antecipo aquilo que é logicamente previsível, mas não consigo acertar com rigor no incerto. É uma das principais diferenças entre o mundo físico, regulado pelas leis da natureza, e as vontades dos homens, a par dos desígnios dos deuses, desreguladas pela improbabilidade dos acontecimentos. Tudo é improvável até se provar o contrário. A luminosidade dos dias cresce, a certeza de uns dias amenos de primavera já rareia, por experienciar, nos últimos anos, uma mudança repentina entre o tempo frio de outono/inverno e o …
Ler Mais »Arquivos Tags: António Guerreiro
Tabuada do oito
Numa época em que muito se tem falado de educação, particularmente do cansaço dos professores e das suas (justas) reivindicações, existe uma queixa regular (junto a minha voz a todas as outras, igualmente no ensino superior) sobre o excesso de burocracia que, acredito, tem duas dimensões, uma de facto burocrática de alimentação da administração pública e outra, necessária, de planeamento das aulas e outras atividades letivas e respetiva reflexão sobre as ações educativas. Aquela ideia do professor que segue sistematicamente o manual adotado, de forma acrítica, hoje vamos na página 34, está cada vez mais em desuso, mas todos temos …
Ler Mais »Venho cantar as Janeiras
As festas natalícias decorrem entre vinte e cinco de dezembro e sete de janeiro, entre os natais católicos e ortodoxos. Este desfasamento de treze dias é explicado pela mudança ocidental de calendário, no século dezasseis, conhecido por calendário gregoriano. É por isto que o Natal no nosso país é em vinte e cinco de dezembro e em outros países, como por exemplo a Ucrânia e a Rússia, é comemorado a sete de janeiro, pelas circunstâncias da história e pela vontade dos homens. De qualquer forma muito próximo do solstício de inverno, em torno dos dias vinte e um e vinte …
Ler Mais »Conto de Natal
Silves, dezembro 1972. O senhor padre já se deslocara àquela moradia para averiguar da ausência aos deveres religiosos do mancebo de quase dez anos que andava na escola pública. A mãe da criança, ocupada com mais dois catraios e os afazeres profissionais e domésticos, não tinha qualquer objeção ao cumprimento de tais deveres, para além da hora matinal do evento domingueiro: – A criança é pequena e gosta de dormir. Naquela manhã, após algum esforço, a criança lá foi, sozinha, à missa e, em consequência, à catequese. A espaçosa igreja, em tempos sede de bispado, estava lotada, mas a criança …
Ler Mais »Bairro do Progresso
Fui assistir a uma conferência na Biblioteca Municipal sobre as Operações SAAL no Algarve, como o título Cidade Participada: Arquitetura e Democracia. Esta palestra decorreu da publicação de um livro, sobre o referido projeto, em que existe um capítulo sobre o Bairro da Associação Progresso em Silves. É curioso ler um escrito, na perspetiva da arquitetura, sobre uma casa e um bairro em que viveste alguns anos. Ainda por cima, quando um outro capítulo relata o Bairro 25 de Abril, na Meia Praia, em Lagos. Deste último existe associada a lendária música de José Afonso, Os Índios da Meia Praia. …
Ler Mais »Postal turístico
No último domingo de setembro fui até Armação de Pera, passear pela zona marginal e tirar umas fotografias. A urbanidade desta zona é arquitetonicamente ampla e interessante, para quem passeia ou apenas descontrai, com vista para a praia e o mar. O branco e o azul do antigo casino localizam-nos no espaço mediterrânico. O jogo de cores e luzes é sempre um desafio para a fotografia. Chegado a casa, fui editar as fotografias e deparei-me, por ampliação, com um significativo monte de beatas, na esquina do pavimento, por detrás do edifício. Tinha a fotografia turística estragada. Alguém anda a varrer …
Ler Mais »Integral
O escritor Fernando Namora tem um livro de contos, Resposta a Matilde, em que escreve estórias inverosímeis, incomuns, desafiado pela referida Matilde. Num dos contos, um homem vai comprar, todos os dias, ao final da tarde, dois ovos frescos, apenas dois ovos. Ocorre-me este conto – não vou revelar o final – quando vou, de manhãzinha (de dois em dois dias) ao café da esquina, literalmente na esquina, comprar duas carcaças em pão integral. Comecei há um ano, a comprar as duas carcaças, e apenas isso, quando optei por cuidar da obesidade. Há um ano, cada carcaça em pão integral …
Ler Mais »Que pretendeis?
– Que pretendeis? – Perguntou o Emir. – Que podeis? – Questionou o visitante. – Consigo tudo. – Respondeu o Emir. – Desejo que terminais com o banquete real e com os lugares reservados nos torneios de cavalaria e no espetáculo noturno no castelo. – Solicitou o visitante. A Feira Medieval de Silves voltou com a vivacidade anterior à pandemia, com bastantes artistas e casas de pasto, com menos artesanato. Contudo, existem dois aspetos que penso que poderiam ser melhorados: o conceito de banquete real e os lugares reservados nos espetáculos pagos para além das entradas na feira. A menos …
Ler Mais »Fadiga
Estamos no verão. Os longos dias de julho e de agosto, no hemisfério norte. Neste tempo de estio, surgem as férias, sejam grandes, pequenas ou, porventura, inexistentes. Contudo, antes desta merecida pausa, pelo menos eu, transporto uma fadiga acumulada de todas as atividades pessoais, profissionais e sociais do primeiro semestre do ano. Este cansaço é uma aglomeração de notícias permanentemente repetidas e atitudes previsíveis, que me entristecem e saturam, no meu dia a dia pessoal, profissional e social. Contudo, este ano, como normalmente acontece, foi diferente de todos os anteriormente vividos. A presença constante das imagens da guerra, primeiro rápida …
Ler Mais »Visita Matutina
Numa caminhada pela cidade espanhola de Córdova aconselho vivamente uma visita matutina à sua Mesquita-Catedral, pelas oito e meia. O monumento é Património da Humanidade pela Unesco e abarca treze séculos de história. Possivelmente, ao longo de todos estes séculos, existiram sempre habitantes desta terra, que hoje denominamos de Silves, que andarilharampela mesquita em oração ou em turismo. O horário das visitas prolonga-se ao longo do dia, sendo distinto nos períodos de inverno e de verão. Levantei-me de madrugada, seis e meia em Portugal, para me despachar e estar à porta da Mesquita-Catedral antes das oito e meia, horário de …
Ler Mais »