A violência contra as mulheres é o crime mais praticado e o menos punido em todo o mundo. Mais de um terço das mulheres é vítima de violência sexual ao longo da vida. 130 milhões de mulheres ou meninas são vítimas de mutilações genitais. 700 milhões de menores são obrigadas a casar-se. 40 em cada 100 mulheres são assassinadas pelo marido ou companheiro. A violência doméstica é também o crime mais praticado em Portugal. Em 2023, houve mais de 30 mil participações. Entre janeiro e setembro deste ano, 344 mulheres foram violadas. 15 mulheres foram mortas no mesmo período. Na …
Ler Mais »José Alberto Quaresma
O Atroz à Valenciana
Mudar, num ápice, uma letrinha apenas, um r para um t, pode demorar tanto como saltar do prazer para o horror. O arroz à valenciana viajou para o mundo para puro deleite gastronómico. O atroz à valenciana visita muitos lugares do mundo, provocando pavor, devastação, morte. Aquele foi-se disseminando, entrando no gosto de milhões. O segundo chega de repente e, mesmo previsível, tarda o aviso urgente que poderia evitar ou atenuar a tragédia. Nós somos mais do arroz de marisco. E enteados do atroz à valenciana que também, com outro nome, fez estragos brutais, não raras vezes, em Portugal e …
Ler Mais »Romero Magalhães e Teixeira Gomes
Joaquim Romero Magalhães abalou cedo demais. Na véspera de Natal de 2018. Tinha 76 anos. O tempo corre lesto. Põe a dormitar no silêncio a memória dos grandes. Dos pequenos, então nem se fala. Romero Magalhães, uma das maiores personalidades nascidas no Algarve era um empolgado admirador de Manuel Teixeira Gomes. Não o conhecia pessoalmente. Vislumbrei-o no dia 18 de Outubro de 2016, entre centenas de pessoas que estavam no lançamento de Manuel Teixeira Gomes – Biografia, apresentada por Nuno Júdice, António Valdemar e Nuno Severiano Teixeira, com moderação de António Araújo. No belíssimo Picadeiro Real do Palácio de Belém, …
Ler Mais »Tremores
O sismo de 26 de Agosto não me beliscou o sono. Às 5 horas e 11 minutos, o abanão bem medido, de intensidade 5.3, segundo Richter, agitou quem o sentiu. Coiraço velho, fui ficando insensível a infinitas trepidações. Não dei por nada. Não pude participar da farta caturrice que o dia alto provocou entre quem estava acordado, tinha o sono leve ou, mesmo nada sentindo, se viu obrigado a opinar. O sismo provocou-me, isso sim, uma réplica tardia na memória. Uma crónica publicada há um quarto de século, em O Independente, fora inspirada por uma onda gigante que, nunca existiu, …
Ler Mais »Um amigo na crise académica de 1969
Correm, por estes meses, 55 anos sobre a crise académica de 1969. Os acontecimentos puseram em polvorosa Coimbra. Inquietaram não pouco Lisboa, onde a estudantada também se agitava. O regime estremeceu. Não derruiu. Ainda era cedo. Eu estava em Lisboa, a berrar contra a polícia, em uníssono com os milhares de colegas que se agitavam junto à cantina da universidade. Não interessa. Vou agora, sorrateiramente, presenciar os acontecimentos, na Lusa Atenas. Escondo-me na sombra do Xico Sardo. Aliás, Francisco José Beja da Silva Sardo. Nestes tempos de escuridão, não o via. Muito menos o conhecia. Saberia depois que é muito …
Ler Mais »O avô
O avô era um bruto. Dizia-se. Quem ousava olhar para a sisuda carranca temia-o. A começar por mim, à medida que crescia, enquanto o não conhecia melhor. Sobrava tabefe para corrigir as asneiras que fazia. E, para se perdoar da chicotada das manápulas, deixava cair uns laivos de ternura austera. Acabava logo a choraminguice do petiz. Eu. Aquela figura gigantesca, musculada, intimidava. As flores do estúdio de fotografia onde pousou para a posteridade não condiziam com a personalidade do retratado. O avô era de adereços mais robustos. A sua voz grave, potente, não dava ordens. Trovejava em linguajar algarvio. …
Ler Mais »Nuno Júdice
NUNO JÚDICE 1949 – 2024 O Nuno já não celebrou o seu aniversário, 29 de Abril. A casa vasta onde nasceu, na Mexilhoeira Grande, ainda lá está. A olhar de soslaio a igreja matriz. Já não pertence à família. Muitos dos seus poemas, que recordam a infância, habitam a memória deste lugar. Neste dia, 29 de Abril, a Manuela Júdice quis evocar o aniversário do marido e pai dos filhos com quem partilhou toda uma vida, de tempos convulsos e de júbilo, desde muito antes de Abril de 1974. Sob a copa de uma oliveira, junto ao laranjal que o …
Ler Mais »Até nada
Nada irei saber de ti. Comporei apenas um dia, entre os teus dias, para que todos se ausentem de mim. Este único dia começará com a mancha turvada primeira luz. Estarás, por essa altura, a abandonar o adro acantonado do último sonho. Tardarás, como sempre, a deixar esse pedaço de tempo que se confunde com a vida, e a substitui, quando o mundo já derruiu os tapumes afins do anseio. Acordarás com ferropeias nos olhos. O lugar onde estás impôs-se como refúgio de degredo. Não o querias. Não o sabias. Há lugares na terra que são inabitáveis para todas as …
Ler Mais »A minha doce laranja do Algarve
Estes pequenos e grandes lábios e o volumoso clitóris emergente agradeço-os ao meu amigo Manel, produtor de citrinos. Vinham à tona num pesado caixote a abarrotar de laranjas. Esta, que me pôs em sentido, pesava 760 gramas. Cascarruda, como gosto. Quem não gosta de uma cascarruda que se acuse. Agradeço, sobretudo, o que se escondia dentro da casca das laranjas. O doce, muito doce. Sorvo-lhes todos os dias os gomos, com um prazer quase pecaminoso. Vou até ao âmago. Dos beiços, os meus, escorre-me este precioso líquido – quase mel de flor de laranjeira de S. Bartolomeu de Messines – …
Ler Mais »Climaxes
Os climaxes atingidos pelos climáximos são excitantes e divertidos. São o cume de um outro prazer e dão nas vistas. Admiro os climáximos. São activistas preocupados com o aquecimento global, mas muito excitados. Têm idade para isso. Filam quem acham que são os maiores responsáveis pelas alterações climáticas e sacam da bisnaga ou do balde de tinta. Não sei se, lá em casa, os papás começam por ser os primeiros bonecos humanos onde afinam as tintas. As acções que organizam para combater o aquecimento global conseguem mesmo aquecer o ambiente local. As pessoas que presenciam os imaginativos climaxes ficam possuídas …
Ler Mais »