50 anos após a revolução do 25 de Abril a direita, com maioria absoluta na Assembleia da República, acordou subitamente para a celebração do golpe de 25 de novembro de 1975.
Vamos à história.
Os factos à época comprovam que os acontecimentos do 25 de novembro foram pensados e preparados muito antes das insubordinações e sublevações militares do verão quente e de outubro e novembro de 1975. Antecipadamente, foi constituído um centro político-militar, a parte política sob a direção de Vasco Lourenço e dos militares moderados do Grupo dos Nove, membros do Conselho da Revolução, a parte militar sob a liderança de Ramalho Eanes. Na altura encontrava-se em funções o VI Governo Provisório, tendo como primeiro-ministro, o Almirante Pinheiro de Azevedo. Neste governo estavam representados o PS, o PPD e o PCP, à semelhança dos anteriores governos provisórios, excetuando o V governo, formado por personalidades. O PCP participou no governo com um Ministro e seis secretários de Estado. O VI governo provisório enfrentava forte contestação nas ruas.
Aguardava-se um pretexto para as operações militares, tendo em vista travar e reverter o processo revolucionário em curso (PREC), restabelecer a hierarquia e a estabilidade militar, afastando a esquerda militar e os militares esquerdistas.
O pretexto surgiu com a revolta dos paraquedistas de Tancos, na sequência da passagem compulsiva à situação de licença registada de 1200 soldados, profissionais, por ordem do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), Morais e Silva, em 17 de novembro.
Pôs-se em marcha o 25 de novembro. Resumidamente, o que se passou no dia 25 de novembro?
Em desespero, os paraquedistas ocuparam as bases aéreas de Tancos, Monte Real e Montijo e o comando da 1.ª região aérea em Monsanto para exigirem a demissão de Morais e Silva. A partir do COPCON, sem o comando de Otelo, mas mantendo a orientação esquerdista e aventureira, o RALIS ocupou posições nos acessos à autoestrada do Norte e ao aeroporto, e na zona de Beirolas, tropas da EPAM ocuparam os estúdios da TV, rádio e posições nas portagens da autoestrada do Norte. No cerco ao regimento da Polícia Militar pelos comandos registaram-se três mortos, únicas baixas de toda a atividade operacional. A força de intervenção comandada por Ramalho Eanes, através do Regimento de Comandos da Amadora, obteve a rendição das unidades revoltosas. Como resultado, 118 militares ligados às unidades atrás referidas e civis foram presos e foram emitidos mandatos de captura de militares e civis ligados à LUAR, PRP, MES e FSP.
Ao final do dia o Presidente Costa Gomes decretou o estado de sítio na região de Lisboa.
Cabe salientar que as forças mais conservadoras, mesmo fascistas e outros reacionários radicais, que nunca se conformaram com as transformações revolucionárias operadas com o 25 de abril, também apoiaram o golpe, na esperança de apunhalar e desvirtuar o próprio regime democrático, tendo como objetivo reprimir e ilegalizar violentamente o PCP e o movimento operário. Também Mário Soares e o PS (!) participaram na grande aliança contrarrevolucionária anticomunista e anti-MFA, que conduziu ao golpe, mas à margem da sua preparação efetiva. É Melo Antunes que refere que “Soares e o PS se aliaram ao que de pior havia nas forças armadas.”
Passados quase 50 anos, a comunicação social dominante, a direita e mesmo setores do PS, desenterraram a narrativa e a vil calúnia de que em 25 de novembro de 1975, se evitou a implantação de uma “ditadura comunista”! Pelo contrário, o país deve estar agradecido ao PCP, a Álvaro Cunhal e aos seus dirigentes pela postura responsável, madura e patriótica de terem evitado uma guerra civil. Desde agosto de 1975 que o PCP não se cansava de defender e promover uma solução política para a crise político-militar.
Consultemos algumas fontes insuspeitas. José Gomes Mota, no seu livro “A Resistência. O Verão Quente de 1975”, Edições Jornal Expresso, junho de 1976, escreve que o golpe foi preparado pelo “Movimento”, que define por ser contra o que chama “os dissidentes”, nomeadamente “os gonçalvistas” e o PCP.
Vasco Lourenço, no seu livro “No interior da Revolução (2009)”, declarou não ter existido nenhum golpe da esquerda mas um aproveitamento da revolta dos paraquedistas de Tancos por parte de um grupo de coronéis que efetivamente tinham um plano. Jaime Neves, afirmou que se tratou de “um golpe contra o PCP”.
Urge concluir que os fascistas, neofascistas e a direita mais radical, participantes na preparação e no golpe, não atingiram os seus objetivos. É sintomático que os atentados bombistas perpetrados pelo MDLP e ELP, prosseguiram ao longo do primeiro semestre de 1976. Estavam insatisfeitos com o desfecho do 25 de novembro. Logo na noite de 26 de novembro, as forças mais reacionárias receberam um balde de água fria.
Melo Antunes, membro proeminente do Grupo dos Nove, frente às câmaras da televisão, declarou que “a participação do PCP na construção do socialismo era indispensável”, dando importante contributo para a defesa da democracia.
É esclarecedor que o VI governo provisório prosseguiu em funções com a participação do PCP, salvaguardaram-se as liberdades e a democracia, e mais tarde, em 2 de abril, foi aprovada e promulgada a Constituição da República. Aos promotores das comemorações do 25 de novembro é oportuno lançar o seguinte repto: tenham coragem e promovam um desfile pela Avenida da Liberdade, como acontece no dia 25 de abril. Sejam sérios. Não falseiem a história do 25 de novembro de 1975!