Lince Ibérico- Há 15 anos a nascer em Silves…

No verão de 2024 fez furor uma publicação nas redes sociais do conhecido ator Leonardo DiCaprio, em que este se congratulava com a notícia de que o lince-ibérico deixara de ser uma espécie em “Perigo de Extinção”.

Embora se mantenha classificada como espécie “vulnerável”, o lince-ibérico tem hoje uma esperança de sobrevivência que em nada se compara às das últimas décadas do século XX.

Uma parte essencial desse trabalho de recuperação, feito em Espanha e Portugal, tem sido desenvolvido, desde 2009, no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI) de Silves, situado em Vale Fuzeiros, na freguesia de São Bartolomeu de Messines, na direção da Barragem do Funcho. No dia 26 de outubro de 2024, o Centro comemorou o seu 15º aniversário.

Nos 15 anos de existência do CNRLI, entidade gerida pelo ICNF,  nasceram ali 170 animais, sendo que 110 foram reintroduzidos no campo. As soltas em território nacional têm sido feitas no Vale do Guadiana, nos concelhos de Mértola, Serpa e Alcoutim e segundo os censos de 2023 a população de linces na Península Ibérica ultrapassa os 2000 exemplares, estando 291 linces registados no Vale do Guadiana.

Neste momento, uma das maiores preocupações relativas à sobrevivência dos animais postos em liberdade, tem a ver com a elevada taxa de atropelamento que se regista. O que levou o ICNF, em parceria com técnicos da Infraestruturas de Portugal e da empresa Waze a desenvolver e começar a testar um sistema que previne os automobilistas quando os animais se aproximam das vias, através dos sensores colocados nas suas coleiras. Segundo o ICNF, para já, o sistema está a ser testado nas EN 122, 123 e IC 27.

 

No caminho do Lince, pela serra de Silves

Aproveitando uma trégua dos dias de chuva intensa do início do mês de outubro, saímos da vila de Messines, em direção a Vale Fuzeiros, rumo à Barragem do Funcho para verificar a evolução na altura da água na barragem. Estão várias pessoas e autocaravanas paradas junto ao parque de merendas…

Regressa-se à estrada principal, passando já o caminho para o CNRLI, segue-se em frente. Há placas novas, acabadinhas de colocar, no percurso pedestre inaugurado há poucas semanas, pela associação Almargem. Quem conhece bem esta estrada em mau estado diz que passam por aqui diariamente dezenas de pessoas. Muitos percorrem a Via Algarviana e uma grande parte procura a rota dos linces e o miradouro com vista para o cercado do CNRLI. Foi o que fizemos. Após um bom bocado de estrada, sem qualquer indicação, e já ao fundo a espreitar a Barragem do Arade, a única placa que vimos surge à esquerda, com uma fotografia de um lince e a indicação “No Caminho do Lince Ibérico”.

A única placa existente junto ao caminho que leva ao antigo miradouro

Se se adivinhar que se deve deixar a estrada principal e seguir o caminho de terra junto à placa, iremos ver, no cimo do monte, o local onde se encontrava o miradouro, ainda assinalado por um monte de destroços.

O que resta do miradouro do lince

Corria o ano de 2014, quando o Miradouro do Lince Ibérico foi inaugurado, com pompa e circunstância, com a presença de representantes da Câmara Municipal de Silves, Águas do Algarve e ICNF. Uma vez que não é permitido ao público visitar os cercados onde vivem os linces para não perturbar estes esquivos animais, não os habituar à presença humana, uma vez que muitos serão colocados em liberdade, o miradouro dava a possibilidade de observar o seu dia a dia, com a ajuda de um telescópio. Este equipamento estava integrado no “Caminho do Lince Ibérico”, pontuado por placas informativas que orientavam e informavam o viajante.

Em agosto de 2018, na sequência de um grande incêndio, que obrigou inclusive à evacuação dos animais para Espanha, as placas, o miradouro e o parque de merendas existente no “Caminho do Lince” ficaram destruídos.

Em novembro de 2019, os linces voltaram à serra mas as placas indicativas, o miradouro e o parque de merendas não foram repostos.

É uma desilusão para as pessoas, não podem entrar no Centro e também não têm o miradouro… muitos deslocam-se a esta zona com  o propósito de verem onde se faz a reprodução do lince, dizem-nos.

No dia do nosso passeio/reportagem tivemos a confirmação dessa situação, com mais de uma dezena de pessoas percorrendo aquele caminho, a grande maioria turistas estrangeiros.

Lá em baixo, o cercado onde vivem os linces e cuja vida era possível acompanhar no miradouro

 

Centro Interpretativo do Lince Ibérico

Estivesse o percurso assinalado, poderíamos terminar o passeio no mesmo local onde é possível iniciá-lo, em Silves, junto à encosta norte do Castelo, na Casa da Quinta do Camacho.

Corria o mês de maio, do ano 2019, quando foi anunciado, o lançamento de um concurso público para Concurso Público de Conceção e Implementação da estratégia Museológica e Museográfica do Centro Interpretativo do Lince Ibérico.

Este centro reunia “o consenso de todos os parceiros envolvidos na questão da preservação desta espécie (Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Município de Silves, Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines, Águas do Algarve)”. O objetivo:  dar a conhecer o “importante trabalho” desenvolvido no CNRLI e e ser um ponto de partida para a rota “No Caminho do Lince”.

Volvidos estes anos sem que o projeto se tornasse realidade, o Terra Ruiva solicitou informações à Câmara Municipal de Silves tendo sido informado que se encontra concluído o projeto de execução que terá de ser submetido a uma candidatura a fundos comunitários, no âmbito do programa Portugal 2030, devido ao alto custo da obra.

O projeto de execução das obras está orçamentado em 1,4 milhões de euros e abrange não só o edifício da Casa da Quinta do Camacho, onde será instalado um centro interpretativo, mas também a área envolvente, nomeadamente o exterior e o acesso ao Castelo de Silves, com a reabilitação da estrutura destinada a receção que aí se encontra. Acresce a este valor um montante de 300 mil euros para a musealização e aquisição  de equipamentos para estas estruturas.

Não é possível determinar quando será possível arrancar com as obras, ainda menos imaginar a sua conclusão. No entanto, a reconstrução do miradouro, do parque de merendas e a recolocação de placas no percurso seria com certeza uma mais valia para as dezenas de pessoas que ambicionam ver os linces no seu “berço”, de uma forma mais natural do que nos vídeos que o CNRLI exibe nas suas redes sociais.

Quando se procura incentivar o turismo do interior, esta é uma oportunidade que o concelho de Silves não deveria descurar. O lince ibérico atrai a atenção em todo o mundo, que o diga o Leonardo DiCaprio…

 

 

 

 

 

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