No início do mês de outubro, várias praias do Algarve, incluindo a praia de Armação de Pêra, foram literalmente cobertas por algas castanhas, de origem asiática, numa quantidade que impressionava. Muitas pessoas comentavam que nunca tinham visto este fenómeno em tão grande dimensão.
Um mês depois as algas ainda continuam a espalhar-se por várias praias, incluindo por Armação de Pêra, embora de forma mais reduzida e esporádica.
Esta situação tem estado a ser acompanhada por investigadores da Universidade do Algarve que criaram a plataforma Algas na Praia,( https://www.ualg.pt/algas-na-praia) dedicada ao estudo das algas. Porque, como referem, este fenómeno poderá ser um indicador de um desequilíbrio dos ecossistemas marinhos.
Como se explica na referida plataforma, é normal a existência de algas no mar e na praia, mas não em demasia. Quando isso acontece, uma das causas mais frequentes prende-se com o “excesso de nutrientes provenientes da descarga de efluentes urbanos ou da fertilização da agricultura”. Neste caso tem a ver com a origem das algas encontradas nas praias algarvias, que pertencem a uma espécie invasora, de origem asiática, que está a começar a substituir as nativas.
O problema é que o crescimento excessivo prejudica a biodiversidade, as pescas e a qualidade ambiental da praia.
Segundo a plataforma Algas na Praia, “nas costas rochosas do Barlavento, as acumulações foram causadas por uma alga castanha invasora originária dos mares do Japão e Coreia, cujo nome científico é Rugulopteryx okamurae.”
Estas algas já foram observadas nos últimos quatro anos e, a julgar pelo que aconteceu este ano, parecem estar a aumentar em extensão.
Nas praias da zona central do Algarve, entre Albufeira e Faro, a alga vermelha invasora Asparagopsis armata, nativa das águas da Austrália e Nova Zelândia, tem sido a responsável pela acumulação verificada.
Ainda que estas algas, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), não interfiram na qualidade balnear, nalguns locais, em que as algas atingiram mais de um metro de altura, ficou comprometido o acesso ao areal e ao mar. A remoção das algas não é solução para a maioria das autarquias dos concelhos afetados, pelo elevado custo dessa operação e pela imprevisibilidade quanto ao seu sucesso.
Tendo em conta o que se tem verificado, o mais provável é que no próximo ano se assista ao mesmo fenómeno, ainda em maior proporção. As alterações climáticas, a existência de espécies invasoras, o aquecimento da água do mar, são factores que contribuem para que tal aconteça.
Os investigadores da Universidade do Algarve estudam estas acumulações procurando saber de que espécies se tratam, quando e como ocorrem, o que está na sua origem e quais os seus impactos.
“Dependendo da espécie que está a causar a acumulação, o problema pode ser mais ou menos preocupante. Uma das maiores preocupações é a acumulação excessiva de algas invasoras, uma vez que estas podem ter um impacto muito negativo nas espécies nativas das nossas costas”, afirmam.
Nesse sentido, solicitam a colaboração dos cidadãos para que informem (através da plataforma) quando assistem a estas concentrações.
No campo científico, há um projeto a decorrer, que pretende “tirar proveito das algas removidas, que podem conter substâncias com potenciais benefícios para a saúde”. Trata-se do projeto NUTRISAFE, um suplemento alimentar, à base de algas invasoras,
“com caraterísticas anti-inflamatórias e de proteção vascular e pulmonar, de modo a reduzir comorbidades comuns associadas ao envelhecimento e às doenças inflamatórias crónicas.”
Enquanto os cientistas trabalham nos laboratórios, nas praias tem que se esperar que a natureza faça o seu trabalho e que o mar leve de volta o que trouxe.