XVII Recriação de Desenfatanada em Messines

O Rancho Folclórico de São Bartolomeu de Messines promove, no dia 5 de outubro, pelas 16h30, no Jardim Municipal, a XVII Recriação de Desenfatanada.

A desenfatanada consiste na recriação do convívio e do entretenimento que se fazia no campo, durante a debulha do milho.

Este evento assinada a comemoração do 48º aniversário do Rancho Folclórico de São Bartolomeu de Messines.

A entrada é livre.

A organização é do Rancho Folclórico de Messines com os apoios da Câmara Municipal de Silves, Junta de Freguesia de SB Messines e Federação do Folclore Português.

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3 Comentários

  1. O tema do milho é um dos tópicos, entre muitíssimos outros, que abordo num artigo, que enviei para o Terra Ruiva com pedido de publicação.
    O milho é algo que faz evocar em mim um saudoso tempo, muito ligado aos trabalho do campo, que procuro rememorar, à distância de sete décadas.
    Não irei, obviamente, a reproduzi-los, de um modo exaustivo, mas sempre respigarei alguns deles.

    A cultura do milho, desde o lançamento da sementinha amarela à terra, acompanhando, de perto, toda as fases do seu crescimento, é algo que sempre me fascinou, a mim, cujo defeito de curiodidade pelos fenómenos naturais sempre me acompanhou e continua a fascinar, não havendo já remédio possível para obviar a esta propensão natural …

    O milho é uma planta hermafrodita, visto que contém, no mesmo pé, os órgãos masculinos e femininos, a saber, por um lado, a inflorescência masculina, isto é, a chamada “bandeira” (no topo do colmo), cujas anteras produzem o pólen e, por outro lado, as inflorescências femininas (futuras maçarocas), espalhadas axialmente, ao longo do eixo do colmo, cujos estigmas serão fecundadas pelo pólen recebido das anteras da “bandeira”.

    Juntamente com a “bandeira”, ocorre igualmente o nascimento dos “cabelos”, longos fios vegetais acastanhados.
    Mais ou menos, quando estes emergem para o exterior, tem lugar o início da polinização, fase que acima descrevo.
    Após a polinização, era mester ser cortada a “bandeira”, no sentido de que não roubasse força à planta.

    Uma das nossas (minha e da restante catraiada) ocupações, quando os milhos das maçaroças ainda estavam em leite era surripiar algumas para assar e comer … e que bem sabiam.

    A notícia mostra-nos uma imagem de uma “desenfatanada” de outros tempos, cuja antiguidade é traida pelo tipo de chapéus usados pelos presentes.
    A descoberta por algum dos participantes de uma maçaroca de milho-rei, maçaroça de milho castanho escuro, era um momento sublime, que permitia aos rapazes dar um abraço aos demais presentes, com especial e óbvia escolha às moças, cujo contacto físico era vedado publicamente.

    Da fatana, isto é, das folhas secas vegetais que embrulhavam as maçarocas posso eu falar com conhecimento de causa, visto que o colchão sobre o qual dormia era cheio de fatana, a culpada pela desagradável comichão que nos causava na pela.

    O termo “fatana” (do árabe “fattân”, tem o significado de “sedutor”, “cativante”, mas também de “invólucro da maçaroça do milho”).
    Este vocábulo é mais uma das heranças que aquela língua deixou e chegou até nós, por via moçárabe, cujos elementos foram os veículos a quem devemos toda a riqueza do universo vocabular que circula entre nós, sem que, as mais das vezes, nos apercebamos de que estamos a “falar” árabe transformado …

    Todo este imenso universo vocabular árabe, de que falo – a par de vários outros temas e de outras origens – tem merecido, desde há muito, a atenção da minha recolha, trabalho que mantenho em gaveta e vou enriquecendo, algo que terei o prazer de partilhar quando se for proporcionando a ocasião e que prova quão sedimentar (entenda-se, formada por inúmeras camadas) é a nossa cultura.

  2. Por respeito por quem, eventualmente, tenha a bondade de dedicar um pouco do seu tempo a ler o comentário que aqui deixei, permita-se-me que, através deste outro comentário, elaborado com mais cuidado e atenção, substitua o primeiro, escrito, como se costuma dizer, ao correr da pena e sem qualquer correcção.
    As minhas desculpas, por isso.

    “ O tema do milho é um dos tópicos, entre vários outros, que abordo num artigo que enviei para o Terra Ruiva, com pedido de publicação.

    O milho é algo que faz evocar em mim um saudoso tempo ligado aos trabalhos do campo, de cujos aspectos procuro recuperar a memória, à distância de sete décadas.
    Não irei, obviamente, reproduzi-los, de um modo exaustivo, mas deles apenas respigar alguns.
    A cultura do milho, desde o lançamento da semente à terra, assim como as fases do seu crescimento, são algo que sempre me fascinou e de cujo defeito de curiosidade pelos fenómenos naturais que sempre me acompanhou, nunca encontrei “melhoras” possíveis …

    O milho é uma planta hermafrodita, visto que contém, no mesmo pé, os órgãos masculinos e femininos.
    Por um lado, temos, uma única inflorescência masculina, localizada no topo do colmo, comummente designada por “bandeira”, onde estão situadas as anteras, cuja função é a produção do pólen para a fecundação.
    Por outro lado, temos também várias inflorescências femininas, dispostas axialmente, ao longo do eixo do colmo, cujos estigmas serão fecundadas pelo pólen recebido das anteras da “bandeira”.
    De cada uma destas inflorescências femininas, depois de fecundadas, resultarão as respectivas maçarocas.

    Juntamente com a “bandeira”, ocorre igualmente o nascimento dos chamados “cabelos”, longos fios vegetais sedosos e acastanhados.
    É, mais ou menos, quando estes emergem que tem lugar o início da libertação do pólen, cuja polinização acima refiro e ocorre, por norma, por via anemófila (do gr. ánemos, vento + phílos, amigo de, do verbo philein, amar, gostar de).
    Após a polinização, era mister ser cortada a “bandeira”, para que não roubasse força à planta.

    Uma das nossas (minha e da restante catraiada) pilantrices, quando os milhos das maçaroças ainda estavam em leite, era surripiar algumas para assar e comer … e que bem sabiam.

    A notícia mostra-nos a imagem de uma “desenfatanada” (ou desfolhada), de outros tempos, cuja antiguidade é traida pelo tipo de chapéus usados pelos presentes na mesma.
    A descoberta, numa desfolhada, por algum dos participantes, de uma maçaroca de milho-rei – maçaroça de milho castanho-escuro – era um momento sublime, que permitia aos rapazes dar um abraço aos demais presentes, com especial e óbvia escolha às moças, em especial àquela que nos fazia perder muitas horas de sono, ao imaginar a doçura dos seus olhos ou outro qualquer dos seus atributos.

    Da fatana, isto é, das folhas secas do invólucro das maçarocas e do forte prurido que provoca na pele posso eu próprio falar com conhecimento de causa, visto que o colchão sobre o qual dormia era cheio com ela.

    – O termo “fatana” (do árabe “fattân”, tem o significado de “sedutor”, “cativante”, mas também de “invólucro da maçaroça do milho”).
    – O vocábulo “maçaroca” é, ele também, originário (do ár. “masurqa”, literalmente, “tubo envolvido por um fio enrolado em forma de espiga”, sendo que o “tubo” seria o sabugo da maçaroca, isto é, esta já sem os bagos de milho).

    Estes vocábulos são duas das heranças que a língua árabe nos legou e chegou até nós, por via dos Moçárabes, cujos elementos foram os veículos a quem devemos toda a riqueza do universo vocabular que circula entre nós, sem que, as mais das vezes, nos apercebamos de que estamos a “falar” árabe transformado …

    Os Moçárabes são cristãos peninsulares, que sempre se mantiveram fiéis à sua religião, que viveram, no seio da sociedade árabe e sob o seu domínio, na Península Ibérica, cujo idioma dominavam e falavam e que, aquando da reconquista pelas hostes cristãs, foram os transmissores do valioso e vasto legado linguístico que a opulenta Civilização Árabe nos legou.

    O imenso universo vocabular árabe que integra / integrou a nossa língua tem merecido, desde há muito, a atenção do meu estudo e atenção, trabalho que vou enriquecendo e constitui algo que terei o prazer de partilhar, à medida que se for proporcionando a ocasião.

    Segundo a opinião dos especialistas, serão mais de quatro mil os arabismos que a língua árabe deixou na Península Ibérica.
    Muitos deles entraram em desuso e são considerados arcaísmos, porém, muitíssimos outros são ainda de uso frequente e indispensáveis, pela necessidade de designar objectos e tarefas trazidas por este povo, cuja elevada civilização e prestígio em muito contribuíram para elevar a Península do século VIII da apagada cultura visigótica castrense dos senhores da guerra. “

    • Pedro Manuel Catarino Mascarenhas

      Caríssimo senhor José Domingos
      Permita-me que publique o seu artigo, bastante interessante, em sítios de caris etnográfico.
      Gostaria de saber qual o inconveniente dos chapéus de homem que se observam no cartaz, quando afirma “… cuja antiguidade é traída pelo tipo de chapéus usados pelos presentes na mesma.” Lembro-lhe que os modelos dos chapéus de homem que o Rancho Folclórico de São Bartolomeu de Messines usa são réplicas da transição do século XIX para o século XX. Trata-se de chapéus de aba larga que, eventualmente só pecarão por estarem bem estimados. Talvez pudessem aparecer os mesmos mas “remontados”.
      Talvez seja mais evidente a gafe existente no artigo publicado quando se lê “A desenfatanada consiste na recriação do convívio e do entretenimento que se fazia no campo, durante a debulha do milho.” Nunca uma desenfatanada, desfolhada como afirmou, mas também desenroupada como era conhecida a tarefa cá na freguesia de São Bartolomeu de Messines e não só, será debulha. A desenfatanada é retirar a fatana da espiga e debulha é o separar o grão do sabugo.
      Os meus cumprimentos.
      Pedro Mascarenhas

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