O Dia do Município de Silves foi comemorado este ano, quando se assinalam 835 anos da conquista da cidade pelo rei D. Sancho I, com um programa que incluiu concertos, inauguração de exposições e entrega de distinções a personalidades.
Um programa que destacou igualmente, através das homenagens, os 50 anos do 25 de Abril de 1974.
O programa teve início no dia 1 de setembro, com um concerto que juntou, no Castelo de Silves, a Banda da Sociedade Filarmónica Silvense e a Fanfarra Kaustica. Um momento que assinalou igualmente o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas.
No dia 2 foi inaugurada a exposição “Painéis”, de Isabel Avó, na Biblioteca Municipal de Silves, e no dia 3 – Dia do Município – o programa contou com a inauguração da mostra fotográfica de José Manuel Guerreiro, em Alcantarilha, e depois, no Castelo de Silves, a entrega das Distinções de Mérito Municipal e o concerto com o grupo Tais Quais.
O momento mais marcante das comemorações do Dia do Município de Silves concretizou-se na entrega das Distinções de Mérito Municipal “a personalidades e instituições que por atos ou serviços considerados importantes, relevantes ou excecionais, contribuíram para prestigiar, dignificar e engrandecer o bom nome do Concelho, honrando a sua história e promovendo, simultaneamente, o seu desenvolvimento”.
Desde 2016 que o Município de Silves começou a prestar “o justo reconhecimento público, do mérito” de pessoas e instituições, com o objetivo “não só de agradecer os feitos mas também de motivar a sua continuidade, inspirando outros para a construção de um Concelho melhor”.
Este ano, não se realizou a habitual entrega de distinções aos atletas e clubes que se destacaram na passada época desportiva, estando essa cerimónia agendada para o dia 7 de dezembro.
Distinções de Mérito Municipal
As Distinções de Mérito Municipal de 2024 foram entregues a Mário Rita, André Boto, Miguel Coelho, Mário Godinho, Manuel Ramos (a título póstumo); Rui Silva de Morais (a título póstumo); Vítor Cabrita Neto; José Correia Viola; José Paulo Matias; Serviço Nacional de Saúde.
A entrega destas distinções foi um momento de natural emoção que extravasou os naturais agradecimentos à iniciativa da autarquia. Nas intervenções emocionadas de José Paulo Matias e Vítor Neto houve um olhar para o seu passado de luta antifascista mas também um olhar sobre os perigos que pendem sobre a democracia, no neto de José Viola, que juntamente com a sua irmã recebeu a distinção do avô, ausente por motivos de saúde, havia no lenço palestino, de xadrez preto e branco, uma mensagem para a atualidade.
Mário Rita e André Boto foram uma prova do talento que existe na comunidade e de que sem a arte não há felicidade e Miguel Coelho a promessa de um percurso que se adivinha generoso. Em Mário Godinho, a tranquilidade de uma vida dedicada à causa pública, uma causa que marcou igualmente uma grande parte da vida de Rui Morais e de Manuel Ramos (ambos com homenagens póstumas, recebidas pela filha e viúva, respetivamente). E terminando, com o apelo de Margarida Ramos para que o Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês volte a ser dos silvenses.
E a propósito das conquistas dos 50 anos do 25 de Abril que urge defender, pela importância que tem para todos os portugueses, destaca-se também a distinção entregue ao Serviço Nacional de Saúde, recebida pelos responsáveis do sector na região e concelho.
Mário Rita – Prémio Artes Plásticas
Mário Rita, artista plástico, natural de Silves. Licenciou-se em Artes Plásticas/Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. A longa carreira de Mário Rita inicia-se quando foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Desde então participou em numerosas exposições e os seus trabalhos integram prestigiantes coleções de instituições como a Caixa Geral de Depósitos, Banco de Fomento Nacional, Banco Totta, EDP e relevantes coleções particulares, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Expõe individualmente desde 1983, em Portugal e no estrangeiro. Foi premiado na Expo Áustria em 1984, em 2002, conquista o Prémio Vespeira na VII Bienal de Artes Plásticas “Cidade do Montijo”. Marcou presença em mostras coletivas, Feira Internacional de Arte Sevilha (2001), Arte Contemporânea de Copenhaga (2014), entre muitas outras.
André Boto – Prémio Arte e Fotografia
André Boto, fotógrafo, natural de Silves. Dedica-se principalmente à área da fotografia comercial, nomeadamente: fotografia de arquitetura, interiores, indústria, produto, publicidade, e ainda a projetos de fotografia de autor.
Ao longo da carreira são inúmeros os prémios conquistados. De entre os mais recentes destaca-se a nomeação, em 2023 e 2024, de Fotógrafo Europeu do Ano, pela FEP (Bélgica); enquanto em 2022 foi vencedor absoluto e recebeu o prémio de fotógrafo do ano nos Creative Photo Awards 2022, Itália. A sua obra já foi premiada a nível internacional, por diversas vezes, em países tão diferentes como o Canadá, Austrália, Estados Unidos da América, Itália, Áustria, Grécia, França, Bélgica.
Miguel Coelho- Prémio Música – Jovem Revelação
Miguel Coelho, natural de Messines, jovem instrumentista de acordeão. Aluno do professor Nelson Conceição e apoiado pela Associação de Acordeão Garvefole, são inúmeros os prémios alcançados, entre os quais se englobam prémios internacionais.
Em 2024 ganhou o 1.º Prémio Absoluto no 14º Italia Award (Giulianova – Itália) – Categoria Virtuoso Junior e vários prémios em competições nacionais e internacionais, numa trajetória com muitas conquistas, desde 2022.
Mário Godinho – Prémio Poder Local
Mário José Godinho natural de Silves. Comerciante local e ativista político, é uma referência na luta pelo Poder Local Democrático, onde foi eleito, pela CDU, para diversas funções autárquicas durante os últimos 40 anos. Foi presidente da Assembleia de Freguesia de Silves durante quatro anos, presidente da Junta de Freguesia de Silves durante 28 anos, e vereador da Câmara Municipal de Silves, com funções de Vice-presidente, durante sete anos.
Dedicou a vida à causa pública.
Manuel Ramos- Prémio Património e Intervenção Cívica
(a título póstumo)
Manuel Francisco Castelo Ramos, natural de Portimão, residente em Silves, faleceu em 2022. Foi professor na E.B. 2,3 Garcia Domingues, em Silves. Historiador e Mestre em História de Arte, com produção científica dispersa por revistas, atas de congressos e outras publicações. Exerceu o cargo de diretor do Museu da Cortiça da antiga Fábrica do Inglês. Foi o principal dinamizador e obreiro da sua criação, conseguindo o prémio Luigi Micheletti para Melhor Museu Industrial Europeu no ano de 2001. Colaborava com a autarquia para que o empreendimento da Fábrica do Inglês fosse classificado pela Direcção-Geral do Património Cultural como imóvel de Interesse Público, assim como no âmbito do projeto da sua reabilitação e recuperação.
Vereador Não Permanente da Câmara Municipal de Silves no mandato autárquico 2006-2009, eleito nas listas da CDU, destacou-se pela sua intervenção altamente qualificada na defesa intransigente das políticas públicas, da coesão territorial e social, do desenvolvimento do concelho e do interesse público local.
Rui Silva de Morais – Prémio Poder Local (a título póstumo)
Rui Hernâni Castro e Silva de Morais nasceu em Luanda em 1934. Vem realizar os exames de acesso à universidade em 1953 e nunca mais regressou a Luanda. Estou alguns anos na faculdade de Direito em Coimbra, tendo terminado o curso na Universidade Clássica de Lisboa. Participou ativamente nas lutas estudantis dos estudantes universitários e continuou depois a organizar e frequentar as reuniões clandestinas de oposição ao regime.
No verão de 1968 vem para Silves, terra da qual a sua mulher era conterrânea, e começa a lecionar na Escola Comercial e Industrial de Silves, onde esteve por oito anos. Enfrentou alguns constrangimentos pois era conhecida a sua postura relativamente ao Estado Novo.
Após o 25 de abril, é convidado para integrar a Comissão Instaladora da Câmara Municipal de Silves mas recusa. Em 1976 é eleito presidente da Câmara Municipal de Silves, pelo Partido Socialista. Cumpriu um único mandato, sempre com a preocupação de melhorar as condições sociais, culturais e educacionais dos seus munícipes. Regressou à sua atividade profissional (advocacia) e em 1982 foi eleito presidente da Assembleia Municipal de Silves. Faleceu em julho de 2007.
Vítor Neto / José Viola / José Paulo Matias – Prémio Resistência Antifascista
No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de abril, o Executivo Municipal “deu início aos trabalhos de registo biográfico de três ilustres figuras na história da luta antifascista no concelho de Silves”. Nomeadamente Vítor Cabrita Neto, José Correia Viola e José Paulo Matias.
Nas referidas biografias trata-se não só de “relatar cada uma das histórias” para que os “mais jovens possam ter conhecimento e possam ser motivados na vontade de lutar por causas justas, num quadro de liberdade e democracia”, mas também para que “os mais antigos possam recordar os acontecimentos marcantes”, neste momento de agradecer “o consequente contributo dado por estes homens à resistência contra a ditadura e na concretização da Liberdade e do regime democrático”.
SNS – Serviço Nacional de Saúde – Prémio Defesa do Serviço Nacional de Saúde
O Serviço Nacional de Saúde é um dos pilares fundamentais da nossa democracia, assim como a garantia do Direito à Saúde universal, geral e tendencialmente gratuito.
Esta homenagem surge como forma de valorização dos profissionais que todos os dias lutam pela salvaguarda do SNS e também para salientar a importância de ocorrência de uma mudança que resolva as dificuldades de acesso à saúde, a escassez de médicos, enfermeiros e outros profissionais da área. Uma mudança que garanta a resolução dos problemas reais que afetam a vida das pessoas e que apenas o SNS pode proporcionar.
O prémio foi entregue à ULS Algarve e Centro de Saúde de Silves, incluindo todas as extensões de saúde do Concelho de Silves.
Presidente Rosa Palma
“Valorizar quem, individual ou coletivamente, tem sentido e abraçado Silves”
No Dia do Município de Silves coube à presidente da Câmara Municipal, Rosa Palma, fazer o discurso que antecedeu a entrega das distinções de mérito municipal.
A presidente começou por fazer o enquadramento histórico deste dia, quando se assinalam 835 anos sobre a conquista da cidade de Silves, por D. Sancho I, Rei de Portugal, e 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974, “outra grande conquista que assinalou a História do nosso país”.
“Comemorar este marco e lutar por uma sociedade mais justa e solidária, combater a pobreza, os baixos salários e as desigualdades, continua a ser um dos desígnios por cumprir no presente, tendo como referência os valores humanistas e o espírito libertador do 25 de abril de 1974”, afirmou Rosa Palma. E, nesse sentido, considerou fundamental a defesa de alguns princípios e conquistas, como a defesa do Serviço Nacional de Saúde e da Escola Pública, o direito universal à habitação, a defesa do sistema público da Segurança Social e a defesa da autonomia do Poder Local Democrático. “Em poucas palavras: é necessário e vital o cumprimento do Estado Social por parte de quem nos governa”, disse a presidente do Município de Silves.
A presidente apontou “três fortes motivos para assinalar em pleno, em 2024, o Dia do Município de Silves”, nomeadamente para “enaltecer a conquista da cidade, respeitando a diversidade multicultural e a herança de outros povos”; “enaltecer quem contribuiu para as conquistas alcançadas por via do 25 de Abril”; e enaltecer “as conquistas daqueles que, tão orgulhosamente, se têm destacado e feito deste um concelho ainda melhor, e valorizar quem, individual ou coletivamente, tem sentido e abraçado Silves e, através do seu contributo, feito parte deste crescimento, desta conquista e desta projeção, nas mais diversas áreas”.
E acrescentou: “É pois, neste contexto que agradeço a todos os presentes por cada um de nós ter um papel importante na valorização do nosso concelho e do nosso território e que, empenhadamente, direta ou indiretamente, abraçam e trabalham para valorizar, ainda mais, Silves da serra ao mar; e em especial aos que hoje vão ser homenageados pelo seu importante contributo na redação de mais uma página feliz da História do nosso concelho. (…) O envolvimento de todos é crucial para que possamos, juntos, superar os desafios, ultrapassar as adversidades, e continuar a elevar o concelho ao nível de excelência que almejamos. Conto com o empenho de todos para que prossigamos, unidos, na valorização constante do serviço público:
Resolvendo os problemas das populações e do território, rumo à construção de um futuro onde verdadeiramente as pessoas contem, celebrando e defendendo todas as conquistas; inspirando e motivando, com entusiasmo, as realizações que ainda estão por vir… tendo sempre presente o desenvolvimento integrado do concelho de Silves.”