No âmbito de uma parceria entre a Marinha Portuguesa e o Zoomarine, quatro tartarugas foram devolvidas ao mar. A devolução ao habitat natural ocorreu no dia 26 de julho, a cerca de 20 km a sul de Faro, “numa área suficientemente afastada da costa para evitar perigos imediatos, como sejam redes de pesca e navegação marítima”, informa a Marinha.
As tartarugas marinhas, eram três da espécie “Caretta Caretta” e uma da espécie “Chelonia mydas”, uma espécie ameaçada e na lista vermelha IUCN – The International Union for Conservation of Nature.
As quatro tartarugas, Voldetort, Valhalla, Vaiana e Veggie, passaram por um processo de reabilitação meticuloso no Porto d’Abrigo do Zoomarine antes de serem devolvidas ao mar.
De acordo com o Zoomarine, Voldetort, uma juvenil da espécie “Caretta Caretta”, foi encontrada a 12 de fevereiro, na praia do Carvalhal (Grândola) em estado crítico, com lesões extensas, leucocitose, pré-anemia e sinais de desidratação. Após tratamento intensivo, incluindo oxigenoterapia e cuidados especializados, conseguiu recuperar.
Valhalla, outra juvenil da mesma espécie, foi resgatada ao largo de Sesimbra, a 7 de abril, pelo Instituto de Socorro a Naufragos – Autoridade Marítima Nacional, com problemas de flutuabilidade e presença de plásticos no trato digestivo. Depois de defecar os plásticos nos primeiros dias e receber oxigenoterapia, Valhalla recuperou a saúde e está apta para ser devolvida ao seu ambiente natural;
Vaiana, também da mesma espécie, está no início da sua fase adulta, foi encontrada ao largo de Albufeira a 11 de maio, por investigadores afetos à AIMM Portugal – Associação para a Investigação do Meio Marinho, com dificuldades de mergulho devido a uma infeção pulmonar e desidratação grave. Com tratamentos adequados, incluindo antibióticos e fluidoterapia, recuperou, e suspeitando tratar-se de uma fêmea no início da sua vida adulta, a sua devolução é ainda mais significativa, já que poderá agora contribuir para a conservação da sua espécie, tendo em conta a baixa taxa de sobrevivência das tartarugas marinhas (cerca de 1 em cada 1000 chegam à idade adulta);
Veggie, uma jovem tartaruga-verde (Chelonia mydas), foi resgatada de redes de pesca, por pescadores, a 12 de junho, após ter estado bastante tempo sem possibilidade de emergir para respirar, com feridas nas barbatanas e sinais de infecção causadas pelas artes de pesca. Recebeu tratamento imediato para a doença da descompressão, e infeção. Após a reabilitação, Veggie, que pertence a uma espécie classificada pela IUCN como ameaçada, está pronta para voltar ao oceano.
Em todos os animais foram colocadas anilhas nas barbatanas anteriores, e microchips de identificação, para poderem ser observadas após a devolução ao mar.
Uma das tartarugas leva um transmissor na carapaça que foi desenvolvido para acoplar em tartarugas juvenis pequenas. É o primeiro do género, e como tal, esteve presente um especialista do Instituto de Ciências Marinhas (OKEANOS) do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, Frédéric Vandeperre.
O transmissor irá permitir seguir o percurso da tartaruga juvenil, podendo fornecer dados extremamente importantes acerca dos seus comportamentos e rotas. A maioria dos dados existentes são de transmissores colocados em animais adultos, pelo que o estudo de tartarugas juvenis virá enriquecer a investigação.
O Porto d’Abrigo, juntamente com os seus parceiros, nomeadamente AIMM, ICNF, Autoridade Marítima Nacional, Marinha Portuguesa e as várias entidades e particulares que desenvolvem a sua atividade no mar, desempenham um papel crucial na recuperação de tartarugas e outras espécies marinhas, permitindo a identificação imediata de situações de risco e, caso necessário, uma rápida ação para a sua reabilitação.
Nesta ação foi empenhada a Lancha de Fiscalização Rápida da Marinha NRP Cassiopeia, com o apoio de uma embarcação do Comando Local da Polícia Marítima de Faro.