Caranguejo azul no interior da Ribeira de Alcantarilha

O caranguejo azul, que já se encontrava registado no mar em Armação de Pêra, parece ter encontrado um ambiente favorável também no interior da Ribeira de Alcantarilha.

O site científico Novas Espécies Marinhas do Algarve (NEMAlgarve) publicou um vídeo no qual mostra o resultado de uma visita à Ribeira de Alcantarilha, considerando “incrível a quantidade de caranguejos azuis que foi possível observar em poucos minutos”.

Caranguejo azul na Ribeira de Alcantarilha – Foto NEMA

Segundo o NEMAlgarve, anteriormente a esta visita, “em poucos dias” chegou ao seu conhecimento “vários relatos e registos de caranguejos azuis no interior da Ribeira de Alcantarilha, junto à praia de Armação de Pêra”.

De acordo com o NEMAlgarve já em 2022 tinha havido registos no mesmo local “pelo que aparentemente haverá uma população autosuficiente nesta zona, embora sem conexão ao mar”.

O que “é algo surpreendente”, acrescenta, “visto a fase larvar desta espécie necessitar de água salgada para o seu desenvolvimento” e a lagoa, embora junto à praia, na maior parte do tempo não está aberta ao mar”.

Este registo no interior da Ribeira de Alcantarilha levanta, mais uma vez, a questão sobre até onde poderá ir esta espécie que está na Europa desde o início do século XX, sem causar problemas, mas que se tem vindo a expandir de uma forma considerada “explosiva” nas últimas décadas.

Recentemente, a revista Wilder citou um novo estudo realizado por uma equipa da Estação Biológica de Doñana –CSIC que alerta que o caranguejo azul pode migrar 100 quilómetros rio acima, “colocando uma nova ameaça para muitas espécies de águas continentais, algumas delas em sério risco de extinção, como a enguia”.

A origem desta investigação remonta a 2019 quando Sergio Bedmar, autor principal deste estudo, localizou um caranguejo azul no troço português do rio Guadiana, a mais de 70 quilómetros da foz.

Nas regiões onde é nativo o caranguejo azul chega a fazer migrações de mais de 200 quilómetros, pelos rios acima, o que a acontecer nos territórios invadidos representará uma catástrofe para várias espécies.

O caranguejo azul, espécie que atualmente também já é possível encontrar, por vezes, à venda no Mercado Municipal de Armação de Pêra, é uma espécie invasora, originária do Atlântico Oeste (desde a América do Norte até à Argentina). Foi detetado pela primeira vez em Portugal, em 1967, no estuário do Tejo. Até 2016 havia registo de apenas cinco indivíduos em todo o território português, mas, entre 2016 e 2017, este cenário alterou-se drasticamente: houve uma escalada no número de registos no sul do país, em especial no Guadiana e Ria Formosa. Em 2019, os registos feitos pelos cidadãos permitiram perceber que a espécie já se encontrava em toda a costa, de Vila Real de Santo António até Sagres.

“Uma das características deste caranguejo é que tem capacidade de colonizar diversos habitats em pouco tempo. Essas capacidades, somadas às dimensões que atinge e à agressividade e caráter oportunista de alimento, tornam-no um invasor perfeito. Por outro lado, em Portugal,  esta espécie tem poucos predadores naturais, especialmente quando atinge a idade adulta. Sendo conhecido que prefere ambientes estuarinos, está em posição privilegiada, como predador de estágios juvenis de muitas espécies de elevado interesse comercial, que nestas zonas procuram refúgio durante o seu desenvolvimento. No Algarve foram já inúmeros os relatos de danos em redes de pesca, bem como o consumo de espécies alvo da pesca profissional enquanto ainda se encontram nas artes de pesca, inviabilizando a sua venda”.

Esta descrição encontra-se no livro “25 Espécies Aquáticas que Estão a Invadir Portugal”, editado em outubro de 2023, no âmbito do projeto LIFE Invasaqua (2018-2023), financiado pela União Europeia. Um projeto que tem como objetivo sensibilizar a população contra as espécies invasoras de água doce e sistemas estuarinos de Portugal e Espanha, que são consideradas a segunda causa da perda de biodiversidade.

O livro encontra-se disponível online, de forma gratuita, no site da revista Wilder.

 

E há o chanchito na Ribeira de Odelouca

No livro “25 Espécies Aquáticas que Estão a Invadir Portugal” encontra-se ainda a referência a outra espécie existente no território do concelho: o chanchito.

Pormenor de um chanchito mantido em cativeiro no CCMAR, Universidade do Algarve. Foto: Nuno de Jesus

O chanchito é um peixe de uma família (Cichlidae) que tem mais de 2000 espécies. Muitos ciclídeos são cultivados ou valorizados na pesca desportiva, mas são mais conhecidos como espécies ornamentais em aquariofilia. Esta espécie, um ciclídeo neotropical, originário da América do Sul, expandiu-se praticamente por todas as bacias a sul do Tejo, sendo muito abundante nalguns tributários do rio Guadiana. Mas é na Ribeira de Odelouca, com 92,5 km de comprimento, que nasce na Serra do Caldeirão, no concelho de Almodôvar, corre até às encostas da Serra de Monchique, inflecte para Sudoeste e depois para sul, e desagua como afluente do rio Arade que esta espécie está presente em número significativo.

Uma característica muito relevante desta espécie é a sua rápida evolução e radiação em habitats confinados, como lagos e pequenas bacias fluviais, o que demonstra uma capacidade de adaptação que lhes pode dar vantagem como invasora.

O que poderá significar danos para as restantes espécies, pois que a Ribeira de Odelouca, juntamente com a Ribeira do Arade, são zonas que detêm um grande valor ecológico. O Sítio “Rio Arade/Ribeira de Odelouca” é considerado um sistema complexo de habitats, com grande riqueza de espécies. Destaca-se a existência de duas espécies de peixes endémicos do Sudoeste de Portugal, que possuem o estatuto de “Criticamente em Perigo” de extinção: a boga-do-Sudoeste e o escalo-do-Arade. Também associados aos meios aquáticos, destacam-se o cágado-mediterrânico e a lontra.

 

Ajude a encontrar os “invasores”

Encontrou uma espécie estranha ou possivelmente invasora no Algarve? Ajude a ciência! Envie uma fotografia, com a data e local de observação, para o NEMAlgarve. No site encontra também a lista das espécies invasoras já registadas na região.

As espécies invasoras procuradas

 

 

 

 

 

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