Exposição e livros de Carlos Filipe – O fotógrafo dos amigos (im)perfeitos

O Castelo de Silves está a receber a exposição de Carlos Filipe, fotógrafo que há alguns anos encontrou um caminho próprio na arte da fotografia.
Tudo começou, como o próprio conta, quando adotou o Boris, um cão com dois meses, recolhido na beira de uma estrada, com uma corda roída atada ao pescoço.
Um Amigo (Im)perfeito, usando o título do seu primeiro livro, mas o amigo que trouxe sentido à sua vida.

Carlos Filipe e Boris

O Boris foi o seu primeiro “modelo animal”, sem qualquer intuito comercial… por partilhar essas fotos nas redes sociais, muito rapidamente começou a receber pedidos individuais ou de canis e associações para que fotografasse outros animais abandonados, que procuravam quem os acolhesse. Hoje, essa tornou-se a sua missão e os dois livros que já publicou “Amigos (Im)perfeitos “ e o mais recente “Não quero morrer aqui e outras histórias de esperança” testemunham essa intenção.

Por uma feliz coincidência, em duas ocasiões diferentes, os dois livros de Carlos Filipe estiveram em destaque, quase em simultâneo, em Silves e em São Bartolomeu de Messines.
As fotos que dão corpo ao primeiro livro, editado em 2019, “Amigos (Im)perfeitos” encontram-se expostas na Torre de Menagem do Castelo de Silves, até ao dia 4 de janeiro de 2024.
Inaugurada no dia 7 de outubro, esta mostra, promovida pelo Sector de Património da Câmara Municipal de Silves, é uma exposição que dá a conhecer um conjunto de animais que mudaram a vida de todos à sua volta, pela sua força de viver, pelo amor que entregaram a quem os acolheu e levantaram a cabeça, quando o mundo parecia querer deitá-los abaixo.
Cada retrato é acompanhado de uma carta que conta um pouco da sua história. A exposição oferece ainda uma componente interativa aos visitantes, uma vez que, com o telemóvel, podem digitalizar o código em cada fotografia para assistir ao vídeo sobre cada um dos retratados.

Exposição no Castelo de Silves

Já o livro “Não quero morrer aqui” teve o seu lançamento no dia 22 de outubro, na Sociedade de Instrução e Recreio Messinense, em São Bartolomeu de Messines, integrado nas atividades do 1º Ciclo de Fotografia promovido por esta coletividade durante o mês de outubro.

Na apresentação, Carlos Filipe falou da sua experiência enquanto fotógrafo de animais, quer na parte profissional /comercial que desenvolve na sua loja em Lagoa, quer enquanto colaborador com diversas associações de animais que procuram a sua ajuda. É um livro carregado de sentimentos, em que o autor apresenta vários animais e a história de cada um, umas com finais felizes e outros não… mas também com um sentido de esperança… apesar dos números que revelam que no ano passado foram registados 41.994 animais abandonados…

No seu livro, “Não quero morrer aqui”, o fotógrafo escreve:

«Deixei, há muito tempo, de contar o número de animais que fotografei com o objetivo de os ajudar a encontrar uma nova vida. Uma melhor do que a tinham conhecido até então. Desisti, também, de enumerar as inúmeras razões pelas quais deixam de servir, deixam de ser parte integrante de uma qualquer família, deixam de merecer pertencer ao lar que sempre conheceram.

Outros nunca conheceram nenhum. Estes quatro anos a fotografar animais tiveram ritmos diferentes. Se para mim passaram a correr, num frenesim constante de pedidos de auxílio, tenho a certeza que para os animais que viveram acorrentados, abandonados ou mal tratados forma, com certeza, uma eternidade.

Captar o sofrimento, que se esconde em cada olhar, numa simples fotografia tornou-se insuficiente para dar a conhecer o antes, o agora e o depois de cada um deles. Senti que o mundo tinha que conhecer a história por detrás de cada uma das vezes que carreguei no botão da máquina e o obturador abriu e fechou, captando um momento que não conta tudo.

É preciso mais, é fundamental contar a história de cada um deles e para isso as palavras são essenciais. Se há imagens que valem por mil palavras, há realidades que nem mil palavras são suficientes para as contar. Ensopei os dedos com as lágrimas que, teimosamente, os olhos deixaram escapar enquanto escrevi as vidas que conheci em cada fotografia que tirei.

Percorri quilómetros a visitar abrigos e canis. Afaguei muitos espíritos quebrados, cães e gatos que nunca tinha visto, aos quais nunca fui capaz de ficar indiferente. Ao voltar para casa, abracei com força o meu próprio cão e agradeci aos céus a oportunidade que nos deu de cruzarmos o caminho um do outro. (…) Ensopei os olhos de lágrimas e folhas de histórias, mas decidi que o mundo também deve conhecer o negro que se esconde em cada brilho da fotografia que mostro.

Não é um mundo cor-de-rosa, mas é um mundo real. É o mundo onde se abraçam pessoas e espancam animais. Onde se beijam os filhos e afogam os gatos. Onde se deita comida fora e se deixa o animal acorrentado
no quintal sem comer. É um mundo cruel para eles, imposto por nós.

São múltiplas histórias de sobrevivência onde todos têm um desejo comum, um pedido simples… “Não quero morrer aqui”. »

De referir apenas que quem desejar conhecer melhor o trabalho deste fotógrafo, pode procurá-lo também nas redes sociais, em Carlos Filipe Photography.https://www.cfilipe.pt/

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