Dois assuntos me puxam para o título deste texto, o estado das feiras anuais e dos mercados municipais do concelho.
A propósito das feiras de São Bartolomeu de Messines (Feira de Setembro) e de Silves (Feira de Todos os Santos) ouve-se um lamento/queixa geral de que ambas estão em declínio. Quando era miúda esperava pela Feira de Setembro com impaciência. Também a Feira de Silves, no Dia de Todos os Santos, era aguardada. Sendo feriado e dia de aniversário da minha mãe, era na Feira de Silves que passeávamos e comprávamos iguarias. Nos outros dias, a Feira, instalada junto às escolas, exercia toda a sua atração derivada da existência da pista de carrinhos de choque, carrocel e “cadeirinhas” voadoras.
As feiras tinham uma importância que se perdeu: eram uma oportunidade para fazer determinadas compras e para ter acesso a divertimentos únicos.
Fala-se agora em tradição e na necessidade de não deixar morrer estas feiras e de recuperar outras, como se fez este ano em São Marcos da Serra e Alcantarilha.
Concordando com essa ideia, encontro uma condicionante: é que a única forma que parece haver para recuperar/manter/espevitar a tradição é fazer as autarquias pagarem a fatura, isentando comerciantes, contratando artistas e animação. Uma dúvida que me faz pensar, valerá a pena?
Viva a tradição mesmo quando perdeu o sentido? Ou morte à tradição e deixe-se o tempo e as gentes irem mudando e venha o que vier?
Uma questão semelhante se coloca quanto ao futuro dos mercados municipais. Parece evidente que, tal como as feiras, só têm dois caminhos, ou se reinventam ou definham até à morte. Recentemente foi constituída, por ação da Associação Vicentina, a Rede Regional de Mercados Municipais, na qual estão inseridos os mercados de Silves, São Bartolomeu de Messines, Alcantarilha e Pêra e Algoz e Tunes.
Todos estes são geridos pelas juntas de freguesia e apresentam problemas variados que vão desde a necessidade de investimento nas instalações, a par de necessidade de reorganização e da criação de regulamentos atualizados. Debatem-se também com vendedores com uma média de idades pouco juvenil que apresentam resistência a alterações de hábitos ou de postura.
Os inquéritos efetuados pela Vicentina revelam o que está à mostra de toda a gente: a falta de regulamentação que faz com que pessoas que se instalaram em lojas, bancas, cafés ou restaurantes nos mercados, aí possam continuar de uma forma “eterna”, pagando quantias irrisórias… mesmo que os restaurantes tenham uma localização privilegiada ou que as lojas e bancas estejam sem atividade… ou tenham uma ocupação aleatória apenas para impedir a instalação de concorrência…
A integração na Rede Regional de Mercados poderá corrigir estas situações, ao exigir regras e regulamentos que defendam o erário público, permitam a concorrência e garantam a transparência das decisões.
Espinhosa tarefa em locais onde muitos se consideram com direitos adquiridos dos quais não estão dispostos a abdicar…. Espinhosa tarefa em que as relações pessoais são também, frequentemente, afetadas de forma negativa quando estão em causa interesses financeiros…
E no entanto… os mercados locais podem ser verdadeiros dinamizadores da pequena economia local e um importante pólo de atração, também turística, como bons exemplos, por todo o país, têm vindo a demonstrar.
Para que isso aconteça, as entidades gestoras, as juntas de freguesia, sendo responsáveis pela sua manutenção e beneficiárias das suas receitas, têm de olhar com atenção para o seu futuro. Há sinais de mudança positiva, em Silves, por exemplo, onde a renovação do Mercado trouxe novas lojas, novas produtos e novas ideias. E as obras de requalificação, que decorrem em Messines, apresentam uma oportunidade única para “dar a volta” ao mercado, assim seja considerada. Também em Alcantarilha tem havido ações de promoção para levar as pessoas ao Mercado, mas outros estagnaram ou vivem situações paradoxais, como acontece em Armação de Pêra onde um mercado dinâmico que gera a maior receita no concelho (80 mil euros anuais, segundo foi afirmado na Assembleia de Freguesia) continua, ano após ano, com condições e um aspeto deploráveis.
Paradoxalmente, o que as feiras e os mercados necessitam, é que se reinvente a tradição. Precisam de gente nova, novos produtos, novidades, horários diferenciados, precisam que a tradição deixe de ser o que é e passe a ser parceira dessa dinâmica.
Em novembro, ( no dia 12). a Associação Vicentina arranca com a divulgação da Rede e dos projetos nela envolvidos. Mais tarde se verá quem conseguiu salvar os “seus” mercados e uma tradição que interessa defender, dando-lhe novos trunfos para a mudança.