Por vezes encontro pessoas que me dizem não compreender a importância (e o espaço) que o Terra Ruiva dedica a assuntos da história local.
Respondo que em parte é porque gosto muito de história, uma das disciplinas preferidas, um interesse em conhecer o antes de nós, os caminhos que se percorreram até chegar ao presente. Mas, independentemente do meu gosto pessoal, não nos seria possível desenvolver esta temática se não tivéssemos colaboradores de excelência, como o Aurélio Nuno Cabrita e o José Manuel Vargas, que têm feito um extraordinário trabalho de pesquisa e divulgação da história do concelho.
Alguns me dirão… mas para que é que isso serve? E decididamente não encontrarei uma resposta inédita. Mas tenho uma teoria que gostaria de partilhar.
Há poucos dias estive no Bairro do Progresso, em Silves, numa iniciativa da autarquia, para dar conta das descobertas arqueológicas que ali foram feitas, realizada no próprio local, na rua, com a presença de moradores que assim, quem sabe, ficaram mais ligados ao passado dos antepassados… A urgência e a necessidade de tais iniciativas se repetirem parece-me absoluta…
Num mundo em mudança tão acelerada, também do ponto de vista social e comunitário, no qual, quase de repente, as nossas escolas têm alunos de dezenas de nacionalidades e os nossos vizinhos podem bem ser gente do outro lado do mundo, a necessidade e a importância de sabermos quem somos enreda-se neste fio da história que nos mostra de onde viemos e como chegamos até hoje. E, ao nos conhecermos, e a todos os sangues que temos misturado, talvez se torne mais fácil a aceitação do outro, que estranho nos parece?
A presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, nas suas intervenções públicas, tem expressado com uma frequência uma ideia que me parece absolutamente essencial. Fala a presidente do sentimento de pertença a um território e a capacidade de sentir orgulho pelo mesmo. O que leva(rá) à vontade de não só o usufruir como também de agir sobre ele, de o melhorar, beneficiando toda a comunidade. Esta ideia foi expressa, por exemplo, aquando da apresentação da Rota da Laranja, do Geopark Algarvensis e da Pedra do Valado – Área Marinha Protegida em Armação de Pêra. Projetos diferentes, em diferentes territórios, mas que se interligam no convite à descoberta, à exploração e ao “achamento” – no sentido metafórico e literal.
Neste contexto, considerando que a história e o território nos formam e definem grande parte da nossa identidade, penso que seria muito interessante – e modelador – que a Câmara Municipal e as associações e entidades que promovem programas de férias não restringissem as suas ofertas a atividades desportivas e recreativas.
Ano após ano repete-se esta oferta, certamente apelativa, mas que poderia ir mais além, na descoberta do concelho, da sua flora e fauna, sítios geológicos, monumentos, locais de interesse histórico. Parar, por exemplo, numa rua, e explicar quem foi a pessoa que lhe dá nome? Levar as crianças e jovens de Armação de Pêra a ver a Ribeira de Odelouca e os de São Marcos da Serra à Fortaleza de Armação? E levar os de São Marcos à Ribeira de Odelouca e mostrar a importância desta e a necessidade de a defender? E os de Armação de Pêra até à baía e explicar que vivem junto ao maior recife natural de Portugal? E os de Messines à União de Freguesias de Algoz e Tunes ver a planta diabelha do Algarve que só existe naquele local? E os de Algoz e Tunes a conhecer as orquídeas selvagens únicas no mundo que existem na freguesia de Messines?
E trocar os programas, inventar novos, baralhar e dar de novo até que todos tivessem uma ideia mais clara de quem são, de onde vieram e a que concelho pertencem?
Dizem, e eu acredito, que só damos valor ao que estimamos. E só podemos estimar se conhecermos.