O Céu de Abril, com Vénus em “super-estrela”

Já diz o velho ditado, “abril, águas mil”. A chuva que normalmente cai nesta altura do ano não deixa muitas noites livres para observar o céu, mas aqui ficam os destaques do céu.

Começamos os destaques no dia 6, quando ocorre a lua cheia.

No dia 11, Mercúrio atinge a maior elongação Oeste, isto é, o maior afastamento angular do Sol, de todo o ano – cerca de 20 graus. À distância de um braço esticado, um palmo ocupa entre 20 e 25 graus no céu (dependendo do tamanho da vossa mão), ou seja, o planeta estará apenas um palmo acima do Sol, ao anoitecer.

No dia 13, a Lua atinge o quarto minguante e no dia 15, o planeta Vénus, que parece uma autêntica “super-estrela” no céu visível a Oeste, ao pôr-do-Sol, passa entre dois enxames abertos de estrelas – as Plêiades e as Híades.

Visíveis à direita de Vénus, as Plêiades, ou objeto Messier 45 (M45), são um enxame de estrelas aberto, dos mais próximos do Sistema Solar, situado a cerca de 450 anos-luz. A olho nu, este enxame tem entre 7 e 10 estrelas visíveis (conforme a qualidade do céu e a capacidade dos vossos olhos).

As estrelas mais fáceis de identificar levam a que este enxame seja conhecido em Portugal como o “sete estrelo”. Estas sete têm uma distribuição semelhante a uma versão em miniatura da constelação da Ursa Menor, o que leva algumas pessoas a confundir este enxame com a constelação. Na realidade, as Plêiades são compostas por mais de mil estrelas, dispersas num raio de mais de 40 anos-luz.

As Híades, à esquerda de Vénus, são um enxame de estrelas aberto, com as estrelas mais brilhantes a formarem um “V” no céu. Situadas a pouco mais de 150 anos-luz de distância, as Híades são o enxame de estrelas mais próximo.

No canto superior esquerdo do “V” está a estrela mais brilhante desta constelação, Aldebaran, uma gigante vermelha com mais de 40 vezes o diâmetro do Sol. A cerca de 66 anos-luz de distância, esta estrela não pertence ao enxame das Híades.

Na mitologia grega, as Plêiades e as Híades são irmãs, todas filhas de Atlas.

No dia 16, a Lua passa a cerca de 3 graus de Saturno. O planeta dos anéis esteve desaparecido durante algumas semanas, atravessou o céu para o outro lado do Sol e agora aparece antes do amanhecer.

Dia 20 ocorre a lua nova e na noite de 22 para 23 ocorre o pico da “chuva” de meteoros das Líridas, com o máximo previsto por volta da uma da manhã. Apesar desta chuva, resultante da passagem da Terra pelo rasto do cometa C/1861 G1 (Thatcher), ter apenas 18 meteoros visíveis por hora durante o máximo, costuma produzir vários meteoros com rastos brilhantes, visíveis durante vários segundos.

Com a Lua num fino crescente a não causar grande iluminação ao céu, este será um bom ano para observar alguns meteoros das Líridas. A “chuva” deve o seu nome à constelação da Lira, onde está situado o radiante (ponto de onde parecem emanar todos os meteoros). Esta constelação nasce por volta das 22:00, com o crescente da Lua a pôr-se cerca de 1h15min mais tarde.

No dia 23, um fino crescente da Lua passa a cerca de 2 graus de Vénus e dois dias depois, no Dia da Liberdade, a Lua passa a cerca de 4 graus de Marte.

Finalmente, no dia 27, a lua atinge o quarto crescente.

Boas observações.

Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)

 

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Um Comentário

  1. Artigo interessante, visivelmente escrito por alguém que domina o tema.
    Aliás, tudo quanto diz respeito ao Cosmos é extremamente apelativo, embora, lamentavelmente, não desperte o devido interesse a mais pessoas do que deveria.

    Esta é uma área que, pelo facto de nos colocar perante realidades de uma grandeza que, literalmente, nos “esmaga”, seria uma excelente receita para determinada gente, que, na sua deriva e delírio de grandeza e poder, decididamente, perde o contacto com a sua verdadeira dimensão e pequenez, face à extrema grandeza do Universo.
    Por este facto, alguns de nós, humanos, deveríamos, talvez, interiorizar um pouco mais de humildade.

    Devido às enormes distâncias no Universo – e falo somente na sua parte observável –, foi necessário recorrer à criação de unidades que condensassem as suas enormes extensões.
    Falo do “ano-luz”, que representa, como se sabe, a distância que a luz percorre, ao longo de um ano, sendo que, entre alguns pontos do Cosmos, é necessário utilizar esta unidade na ordem dos milhões.
    Para que se faça uma ideia mais concreta desta ordem de distâncias, refira-se que um ano-luz corresponde a cerca de 9,5 triliões de kms., o que, traduzido em números, dará qq coisa como 9.500.000.000.000 kms.

    Os astrofísicos calculam que o Universo deverá ter, neste momento – atendendo a que não pára de se expandir –, cerca de 150.000 milhões de anos-luz de extensão, cerca de 1.425.000.000.000.000.000.000 de kms. (Um hexalião e 425 pentiliões de kms.).

    Concretizando, para realidades mais nossas conhecidas, adiantaremos que a Via Láctea (VL) tem um diâmetro médio de 100.000 anos-luz, cerca de um trilião de kms. e que a distância do nosso Sistema Solar, o qual se situa num dos braços da VL, ao centro desta é de cerca de 263.150.000.000.000.000 kms.

    Agora, num registo diferente de anos-luz, também aqui deixo alguns números, de que somos sujeitos passivos, sem que disso nos apercebamos.
    A velocidade a que, como habitantes do nosso planeta, nos deslocamos, através do Espaço ou, dito de outro modo, a velocidade de deslocação da Terra, no seu movimento de translação, em torno do Sol, é de cerca de 107.000 kms. / hora, cujo trajecto completo, no final de um ano, é de aproximadamente 940 milhões de quilómetros.

    Por sua vez, o próprio Sistema Solar cumpre também o seu movimento de translação, à volta da Via Láctea (VL), que é de cerca de 872.000 k / hora ou, dito de outro modo, de 241 k / segundo, sendo que leva cerca de 225 milhões de anos para completar uma órbita, em torno da galáxia.

    A Mitologia Grega é tesouro lexical e fonte da designação para muitas estrelas e constelações dos hemisférios celestes norte e sul – e muito mais – e algo que faz parte intrínseca da cultura ocidental e marca o excepcional nível, a que chegou o Helenismo, incluindo, obviamente, a sua língua, cuja perfeição, levada ao extremo, ainda hoje, 2.500 anos volvidos, nos deixa estupefactos.

    Híades e Plêiades são dois exemplos dessa magnífica herança.
    Entre os Gregos, estes termos tinham sempre uma relação com a realidade, como é o caso de Híades (do verbo gr. “hýein”, chover), visto que o surgimento destas estrelas no céu estava geralmente associado ao aparecimento das primeiras chuvas, sendo que o próprio termo “híades” significa “chuvosas”.

    As Plêiades, por sua vez, eram uma constelação, cuja aparição trazia, entre os antigos navegantes, o augúrio de boa viagem.
    Não é sem motivo que tem a origem no verbo gr. “pléō”, navegar.
    Como é escrito no artigo, a sua constelação integra inúmeras estrelas, com destaque para sete delas, as mais visíveis, designadas – com recurso ao Grego, uma vez mais – por Alcíone, Celeno, Electra, Maia, Astérope, Mérope e Taígete.

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