Doçaria do Sul mostra-se em Silves

Chegam de vários pontos do Algarve para delícia de quem procura, em Silves, a Doçaria do Sul. São bolos finos, morgados de Silves, “lesmas de Silves”, uma grande variedade de doces e produtos tradicionais vindos de diversos fornecedores, cada um deles com a sua particularidade.

A Doçaria do Sul conta com pouco mais de um ano de existência. Uma das intenções da mentora do projeto, Alexandra Santos, era de reunir num espaço os doces mais emblemáticos da região algarvia. E que, a cada um deles, estivesse associada a sua história. Visando esse objetivo, rodeou-se das principais obras que documentam a doçaria algarvia, como o livro “Doçaria Tradicional do Algarve”, de Conceição Amador e começou a sua busca. Mas rapidamente verificou que existe ainda um mundo por descobrir, no que respeita aos doces do Algarve. Não só porque muito destes doces veem discutida a sua “paternidade”, como é o caso do Morgado de Silves, que Portimão também reivindica como seu, mas também porque há variedades dos mesmos doces, aqui e ali com diferentes pormenores, conforme o gosto e o conhecimento de quem os confeciona. No caminho encontrou igualmente alguns doces caídos ou ameaçados de esquecimento, como as “lesmas de Silves”, e afirma convicta que só está “no começo do começo”.

 

Ainda assim, o seu trabalho já mereceu atenção e distinção. Muito recentemente, esta designer silvense foi distinguida nos prémios Algarve Craft & Food, com o prémio “Melhor Programa / Experiência de Turismo Criativo”, pelo seu projeto de oficinas turísticas que aliam a doçaria tradicional algarvia à criatividade de quem nelas participa.

O Algarve Craft & Food é um projeto que pretende contribuir para a criação de novas experiências e produtos em torno de encontros felizes entre artesanato tradicional & gastronomia, aliados à inovação, ao design e à criatividade. Nesta edição do concurso,  que contou com um júri de sete personalidades algarvias das áreas de turismo, cultura, imprensa, artes e ofícios, concorreram, no total, 20 projetos originais, oriundos de Portugal e Espanha.

As oficinas que Alexandra Santos organiza, compreendem a modelação da amêndoa, a geometria do figo, a criação de novos produtos de alfarroba, fotografia de doçaria, elaboração de embalagens ecológicas para doçaria e “Das montanhas da China a portokal” – A laranja e uma história sobre globalização e o poder das ideias”.

Todas as oficinas foram pensadas para estimular a criatividade interior do(s) participantes, são oficinas focadas na promoção da história e gastronomia local e no apoio a pequenos produtores através de ferramentas acessíveis.

São pensadas para pequenos grupos, para pessoas interessadas em atividades artísticas, culturais e experiências genuínas e incluem atos como a compra de figos no mercado local, visita a um pomar, passando por aquisição de conhecimentos para fotografia de produtos locais ou construção de embalagens, ou modelagem de pasta de amêndoa.

Este prémio, reconhece Alexandra Santos, trouxe mais visibilidade ao seu trabalho, bem como o facto de “colocar este espaço em diversas redes, como a Rede da Dieta Mediterrânica, Rota da Laranja ou Algarve Craft & Food”. Aposta também na divulgação de muitos dos seus produtos como apropriados ao mercado vegano e a quem deseja comer produtos sem glúten, pois muitos doces são feitos com farinha de amêndoa e não de trigo.

A Doçaria do Sul, que se define como uma mercearia especializada em agroalimentares locais, “não é uma mercearia convencional”. Aqui, outras iguarias fazem companhia aos doces: mel, chás, compotas, conservas, licores, vinhos, cerveja artesanal e outros, que este é um espaço em constante evolução e também dependente da sazonalidade de alguns produtos.

O que aqui se vende é proveniente de todos os cantos e recantos do Algarve, selecionado pela experimentação e gosto próprio. Há uma vontade que tudo tenha origem em pequenos produtores, desde o agricultor à doceira, mas surge frequentemente um entrave: muitas destas pessoas não têm condições para estarem coletadas e passarem faturas.

O preço destes produtos pode tornar-se também uma dificuldade. Alexandra aponta um exemplo: ”O preço justo do bolo fino é a grande questão, é um produto feito só de amêndoa, leva dois dias de elaboração, porque requer que a massa seja feita primeiro, e depois é feito à mão, unidade por unidade”… Se não tiver o preço justo para o produtor, será motivo para o levar a desistir desta atividade. Mas se for considerado caro pelo comprador, este não o irá adquirir… “Na prática, o que está a acontecer no terreno, é que estas questões económicas estão a fazer com que muitos produtos desapareçam”.

Neste equilíbrio se gere o conceito de comércio justo… nem sempre fácil de gerir… que tem de ser potenciado pela divulgação, promoção e venda destes produtos de qualidade.

A propósito, Alexandra fala dos turistas estrangeiros que “entram à procura da experiência portuguesa e só ouviram falar do pastel de nata e é isso que querem”, e conta que consegue convencer alguns a experimentar outro tipo de doces, mas só quando lhe é dada toda a “experiência”, isto é, o produto, a sua origem e história.

É nessas ocasiões que consegue transmitir para o visitante estrangeiro ou nacional, a “beleza” dos doces que enchem as estantes, e o “orgulho de ser algarvio”.

Neste espaço, na Rua Elias Garcia, nº 15, em Silves, há um lema, bem destacado na parede “Estas cousas na se fazem c’m tristeza”. E está quase tudo dito nesta frase. O resto tem de se ir experimentar…

Quem está mais longe, pode consultar o site da Doçaria do Sul que tem uma mostra dos produtos e muito em breve permitirá compras online.

 

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