Fadiga

Estamos no verão. Os longos dias de julho e de agosto, no hemisfério norte. Neste tempo de estio, surgem as férias, sejam grandes, pequenas ou, porventura, inexistentes. Contudo, antes desta merecida pausa, pelo menos eu, transporto uma fadiga acumulada de todas as atividades pessoais, profissionais e sociais do primeiro semestre do ano. Este cansaço é uma aglomeração de notícias permanentemente repetidas e atitudes previsíveis, que me entristecem e saturam, no meu dia a dia pessoal, profissional e social.

Contudo, este ano, como normalmente acontece, foi diferente de todos os anteriormente vividos. A presença constante das imagens da guerra, primeiro rápida e agora infindável, e de outras notícias de tiroteios indiscriminados e outras barbaridades, transportam-me diariamente para a destruição gratuita, o horror em estado puro, a selvajaria dos homens contra os homens, destruição entre animais da mesma espécie.

Na minha rua não existem automóveis carbonizados, nem vidros estilhaçados, nem edifícios habitacionais esventrados, nem estabelecimentos escolares destruídos, nem mísseis e crateras no meio da praça adjacente. Tenho sorte. A minha rua fica longe, muito longe da guerra, mas a guerra fica perto, muito perto da minha rua. Todos os dias entra na minha casa, através das imagens televisivas e até os comentadores tornam-se, por vezes, interessantes e, também, caricatos.

A fadiga acumulada, dos intermináveis dias de guerra, ofusca as certezas sobre o conflito e o seu desfecho, sobre a real possibilidade da vitória dos justos, como nos habituamos a ler nos nossos livros de história que, naturalmente, apresentam a nossa perspetiva de justiça. Não tenho dúvidas, nem hesitações sobre as identidades do agressor e do agredido, não tenho dúvidas sobre as vítimas, civis e militares, deste conflito bélico, não tenho dúvidas sobre a afronta ao povo ucraniano.

De resto, tudo parece voltar gradualmente à desejável normalidade, a ausência (ou quase) das máscaras, as festas de verão, na praça contínua com a minha rua, incluindo a feira medieval, os almoços e os jantares ao ar livre, e a questão exasperante deste mês de julho: Então, já estás de férias? Não, as minhas férias são só em agosto (como as do jornal).

Boas férias nestes dias de verão.

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