A área da Saúde Mental ganhou nos últimos tempos uma relevância como nunca antes, consequência dos tempos incertos e difíceis que a pandemia agravou. Por outro lado, as pessoas permitem-se, cada vez mais, viver a sua fragilidade.
Neste (muitas vezes) tortuoso caminho, trabalha Helena Pinto, psicóloga clínica com vasta experiência e há vários anos colaboradora deste jornal. Nesta edição apresentamos-lhe outro desafio: o de nos falar mais a fundo sobre esse (ainda) misterioso e inquietante mundo das emoções humanas.
Fala-se hoje, cada vez mais, da importância da Saúde Mental. Como vê a situação existente no país e na nossa comunidade?
Finalmente está a ser dada à saúde mental a importância devida. A pandemia veio agravar a situação, sendo notório o seu contributo para o aumento da ansiedade, depressão, distúrbios de sono, comportamentos obsessivo-compulsivos e comportamentos aditivos. Este impacto é transversal a crianças, jovens, adultos e pessoas de idade avançada, sendo bem evidente ainda o desconforto e a insegurança face ao futuro, o que se traduz em mais sofrimento e disfuncionalidade.
Se, por um lado, o confinamento, permitiu que as famílias estivessem mais tempo juntas, também trouxe ao de cima situações de desequilíbrio e conflitos não resolvidos. A conjugação do trabalho, com a assistência à família, a frequente mistura de horários de trabalho/família, trouxe dificuldades acrescidas e desafios individuais e familiares. Também teve um lado positivo, que tenho esperança não seja temporário, que foi fazer-nos dar importância às pequenas coisas, e mostrar o quanto somos vulneráveis e por isso mesmo o quanto é fundamental cuidarmos da nossa saúde física e mental.
A situação no nosso país, que reflete a situação ao nível da maior parte das comunidades é grave e requer uma intervenção profunda e urgente. Basta ver o aumento dramático de pedidos de ajuda nas linhas de apoio psicológico.
Somos um dos países da Europa que mais consome antidepressivos e ansiolíticos e o segundo país europeu com maior prevalência de doenças psiquiátricas.
Estamos com ritmos de vida e exigência demasiado elevados, mas também com uma resposta de primeira linha que continua focada no apoio médico. Temos de investir numa resposta mais centrada na pessoa como um todo e não apenas na sintomatologia ou na doença.
É imperativo reconhecer a importância do bem-estar físico, psicológico e social e ter políticas de Saúde Mental, que o reflitam na prática. A Saúde Mental deve ser pensada numa lógica de prevenção primária e de promoção da Saúde. Chegar às pessoas antes da manifestação do desequilíbrio, prevenir em vez de remediar. É fundamental que as populações tenham acesso aos profissionais de Saúde Mental, nomeadamente aos psicólogos, nos diferentes contextos de vida, nomeadamente, em contexto de saúde, escolar, laboral e social.
Somos uma sociedade cada vez mais com melhores condições de vida, de saúde, de educação, de comunicação. Mas muitos dizem que nunca estivemos tão mal, que nunca vivemos tão isolados. Concorda com essa visão?
O nosso sentimento de segurança e bem-estar foi abalado por dois anos consecutivos de pandemia. Também a crise socioeconómica que dela decorre deixou-nos cansados, fatigados e desesperançados. Quando, finalmente, aguardávamos o fim da pandemia, somos confrontados com uma Guerra e todas as suas consequências desastrosas. Em situações de crise, em circunstâncias com resultados imponderáveis e de forma continuada num período alargado de tempo, os sentimentos de incerteza podem ser mais complexos de gerir. Este desgaste pode aumentar o nosso sentimento de vulnerabilidade e ameaçar a nossa Saúde Psicológica e Bem-Estar. Como referiu, temos todas essas situações em melhor nível, mas de que vale isso se não podemos usufruir desses benefícios? Temos crianças com acesso à educação, mas muitas a crescerem “sozinhas” e num ensino muito focado no debitar de conteúdos, pouco promotor do pensamento critico e da autonomia, com professores exaustos, sobrecarregados de trabalho burocrático e com pouco tempo para dedicar à construção de aulas dinâmicas e verdadeiramente interessantes, muitos deles afastados das suas famílias. Somos um dos países da Europa que mais horas trabalha, o que torna difícil o equilíbrio da vida profissional e pessoal; temos melhores condições de vida no geral, mas cada vez se aprofunda mais o fosso entre ricos e pobres. Tendo em conta os rendimentos de 2020, temos mais de dois milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social em Portugal! Temos de ter todas essas melhorias, mas garantir o acesso de todos a elas. Como dizia a canção “só há liberdade a sério quando houver, a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver, liberdade de mudar e decidir…”
Onde estão as grandes falhas da nossa sociedade, que nos impelem para a doença mental? E como as combatemos?
Para lá das questões políticas e sociais, considero que também tem muito a ver com a forma como a nossa personalidade se vai construindo, adaptando e resistindo às pressões e a falta de hábitos de autocuidado. O mau tempo interior, que leva à ansiedade, depressão, à raiva, é uma resposta fisiológica, psicológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para se adaptar e ajustar a pressões internas e externas e é determinado e influenciado pelas características pessoais e psicológicas do sujeito e as características situacionais. Quando o indivíduo faz uma avaliação das exigências (internas e externas) e considera que excedem os seus recursos para as enfrentar no momento, surge o stress. A ausência de uma consciência do mesmo e desenvolvimento de estratégia de atuação sobre os fatores causadores do mesmo e de recuperação, pode levar ao bournout ou exaustão.
As emoções acontecem, ampliam e diluem-se, funcionando como um guia do nosso comportamento e das nossas aprendizagens. Por esta razão, é tão importante conhecê-las e entrar em contato com elas. Ignorá-las ou tentar eliminá-las, sem as compreender, não vai ajudar no desenvolvimento da capacidade de regulação emocional. Mas tanto o excesso como a escassez, significam que algum trabalho interno necessita ser realizado. Se as emoções primárias não poderem ser expressas em segurança, a ansiedade e o mal-estar, associado à sua expressão neurobiológica, surgem. Como forma de defesa, desligamo-nos das emoções, o que gera um crescendo de sentimentos inibitórios: ansiedade, culpa ou vergonha. Estes sentimentos inibitórios têm impacto no corpo, sendo alguns dos seus efeitos bem conhecidos: peso no peito, coração apertado, insónias, problemas de pele, nó na garganta, entre outros.
O conflito também faz parte do nosso dia-a-dia. Somos todos diferentes, moldados pelas circunstâncias e experiências de vida, sem exceção. A guerra de conflitos tem início dentro de nós mesmos. Conflitos de metas, caminhos, decisões e riscos a se correr.
O autocuidado é uma prioridade, não é um luxo e é crucial para a autoregulação emocional. Todos precisamos de recarregar a energia, se não o fizermos o corpo entra em exaustão e pode mesmo chegar a desligar.
Vivemos numa sociedade muito consumista e muito “voyeurista”, em que se copiam modelos e se perdeu muito da privacidade, na busca do minuto de fama e de uma suposta felicidade. Temos de olhar mais para dentro de nós próprios, perceber o que na realidade nos faz falta e nos faz felizes. Não precisamos de muito para ser felizes, precisamos do essencial e sobretudo precisamos de um EU equilibrado e de uma família funcional.
Olhando para as nossas crianças e jovens. Estamos a educar para termos cidadãos incapazes de lidar com o insucesso, o não, a rejeição?
O problema é que não estamos a desenvolver habilidades de resiliência e resistência à frustração. O “Não” faz parte da vida, nem sempre a vida corre como desejamos, temos de aprender a lidar com o imprevisto. As nossas crianças e jovens necessitam essencialmente de bons modelos, de alguém que as saiba ouvir, precisam de desenvolver competências para a vida. A educação, quer escolar, quer no seio da família, foca-se muito na absorção de conteúdos, mesmo que não os compreenda, no cumprimento de regras, de preferência sem contestar, na cópia de um modelo vendido socialmente como de sucesso. Como vou valorizar e integrar se não percebi a sua relação com a vida? Como vou encontrar o meu caminho se estou perdido numa encruzilhada entre as dúvidas do que quero e sou e a pressão dos outros?
É necessária uma escuta ativa, é necessário tempo de qualidade com as nossas crianças e jovens, é preciso expressão do afeto. Sei que é difícil muitas vezes conciliar o trabalho com a família, mas é aí que tudo começa. Não basta dizer “gosto de ti” é preciso fazer sentir isso, é preciso estar presente.
Muitos jovens de hoje procuram outro sentido para a vida, são mais conscientes a muitos níveis, por isso contestam, rejeitam, revoltam-se. É preciso dar espaço para a criatividade, para a exploração de novos caminhos. O nosso dever enquanto pais é dar linhas orientadoras, ajudar a encontrar uma estrada que faça sentido, promovendo a autonomia e a autodescoberta. As nossas crianças não precisam de pais perfeitos, precisão de conexão.
A Helena tem uma especialização muito particular, para lidar em situações de catástrofe. Sei que já teve de lidar com pessoas que foram desalojadas devido a incêndios, que são retiradas, de repente, da sua vida. E também tem formação em acompanhamento de processos de luto… Como se aprende a lidar com essas situações?
É importante lembrar que todos reagimos de forma diferente a acontecimentos perturbadores. Algumas pessoas conseguirão rapidamente sentir controlo das suas emoções, outras demorarão mais tempo. Algumas pessoas conseguirão fazê-lo sozinhas, outras precisarão de ajuda.
Numa intervenção a este nível é fundamental que a mensagem seja de segurança e não ativadora do medo. Os media fazem, infelizmente, muitas vezes o contrário, por isso é importante reduzir a exposição às notícias e selecionar muito bem as fontes. Uma intervenção no momento da crise permite prevenir o desenvolvimento de psicopatologia e potencia a recuperação da pessoa. Estabilizar emocionalmente, reconectar com a rede social de suporte, promover a autoeficácia, quer individual, quer da comunidade, vai manter o foco, aumentar a capacidade de autocontrolo e manter acesa a esperança, fundamental em qualquer processo de recuperação.
E o que se sente, enquanto profissional e enquanto pessoa?
O trabalho nesta área é muito desafiante para quem está no terreno. O psicólogo(a) de emergência, precisa ter um foco mental diferente, pois a intervenção neste contexto é no aqui e agora, no ajudar a pessoa a estabilizar, a sentir-se em segurança, e a retomar o controlo da sua vida, e aceitar as mudanças ocorridas. Nos incêndios acontecem perdas profundas, quer de vida, quer de bens, que podem ser tudo o que se tem. A intervenção precoce a este nível é fundamental na prevenção do desenvolvimento de psicopatologia futura.
Abracei o trabalho nesta área em 2014, quando a Ordem dos Psicólogos Portugueses criou a bolsa de psicólogos voluntários para intervir em situação de catástrofe e iniciou um programa de formação e treino de competências de intervenção de acordo com um modelo especifico – Modelo de Primeiros Socorros Psicológicos, que se baseia em 5 princípios de intervenção, a segurança, estabilização emocional, conexão com a rede social de suporte, autoeficácia e eficácia da comunidade e a promoção da esperança. No início foi criada uma equipa, da qual faço parte, de 15 psicólogos, a nível nacional, que deram inicio a este trabalho e à formação e treino de novos colegas, que neste momento já somos perto de 2000.
Nos momentos de crise, o psicólogo pode fazer a diferença, pois é o suporte que surge no momento de desamparo, é o colo, o abraço, é quem escuta a dor, mas tem de ajudar a estabilizar e rapidamente ajudar a pessoa a entrar num modo minimamente funcional.
É importante que o profissional tenha uma boa noção dos seus limites, tenha competências, como a empatia, resiliência, capacidade de tomada de decisão, trabalho em equipa, capacidades de escuta ativa. Este contexto exige do psicólogo estratégias específicas. Contudo, tal como na psicoterapia, a qualidade da relação terapêutica criada irá determinar o sucesso da intervenção.
O treino, o ouvir e aprender a lidar com as nossas emoções, o desenvolvimento de estratégias de autocuidado, vai-nos preparando para lidar com os momentos difíceis que surgem nestes contextos de intervenção. Na intervenção em crise o fator tempo é crucial, o psicólogo que não consiga pensar rapidamente e objetivamente terá muitas dificuldades.
Enquanto psicóloga ouve decerto, muitas vezes, histórias muito difíceis, que casos mais a marcam?
Ao longo de quase 30 anos de carreira, como deve calcular, são muitos os casos e as histórias. Uns marcam-nos pelo nível de sofrimento envolvido, outros pela forma como os próprios pacientes nos surpreenderam na sua capacidade de integração, apesar de até parecer que fizemos tão pouco. O que é mais gratificante é saber que fizemos a diferença na vida daquela pessoa e entrámos nas suas vidas no momento certo. Casos que envolvem violência física, abuso sexual, abandono, ideação suicida, marcam-nos sempre de uma forma mais profunda pela emergência da intervenção, pois muitas vezes é a vida que está em causa. Mas recordo o meu primeiro caso, em que uma criança apenas queria que a deixassem brincar e lhe ensinassem coisas úteis para a vida; de um jovem adolescente que sentia falta do abraço do pai, de uma mulher violentada e violada desde tenra idade pelo próprio pai; do jovem que não encontrava sentido para a vida; entre tantos outros.
Uma das missões do psicólogo é ajudar a quebrar ciclos de disfuncionalidade, mudar os padrões.
Podemos não ter uma história feliz, não vir de uma família funcional, mas podemos adquirir a capacidade de mudar esse padrão e construir o nosso próprio destino e famílias felizes. Mais importante do que a história que trago é o que faço com essa história, o que aprendo com ela e o que construo a partir daí.
Tem trabalhado também na área da gestão e transição de carreira, lidando com pessoas que foram despedidas. Pessoas que ficam sem chão, com a auto-estima em baixo. O que é um psicólogo pode fazer por elas?
Trabalho nessa área há 26 anos e tenho a felicidade de trabalhar como consultora na LHH DBM Portugal, que é um exemplo no cuidar dos seus próprios recursos humanos. Isto faz a diferenças, quando depois temos de cuidar dos outros. Ao longo deste tempo tenho acompanhado muitas empresas e profissionais por todo o país. Este trabalho, designado de outplacement, consiste em ajudar os profissionais que a empresa já não pode manter nos seus quadros a transitarem para o mercado de trabalho e poderem encontrar novos enquadramentos profissionais. É importante dizer que este apoio é pago pela empresa da qual o profissional vai sair. Felizmente cada vez mais empresas assumem esta responsabilidade, uma vez que se trata de uma vontade da mesma e não do profissional, tendo em atenção processos de reestruturação ou mesmo de encerramento de atividade.
Como é natural, as mudanças são sempre difíceis, a perda de emprego é uma das perdas com maior impacto no ser humano e é causadora de elevados níveis de stress e ansiedade, pois abala a estrutura financeira do indivíduo e famílias. Muitos profissionais veem-se nesta situação ao fim de muitos anos de serviço e nem sempre é fácil encarar de novo o mercado de trabalho e a instabilidade do mesmo. O nosso papel aqui é ajudar a abrir os horizontes, ajudar o profissional a olhar para si próprio, valorizar os seus pontos fortes, desenvolver novas competências, ver as suas possibilidades e potencialidades, definindo uma estratégia eficaz de abordagem do mercado, que lhe permita abrir novas portas e encontrar um caminho de continuidade ou mesmo um novo desafio, que pode ser mesmo trabalhar para si próprio. No que diz respeito aos profissionais que transitam para a pré-reforma ou reforma, o objetivo é ajudá-los a desenhar um projeto de vida no pós-carreira, com um sentido, promovendo uma boa integração e estilos de vida saudáveis, de novas aprendizagens, numa perspetiva de envelhecimento ativo.
É verdade aquela ideia de que são as mulheres que mais recorrem ao psicólogo, que os homens têm mais relutância e são mais defensores de que procurar ajuda profissional é fraqueza ou que os psicólogos são para os “maluquinhos”?
É verdade que as mulheres têm menos resistência a procurar ajuda, mas cada vez mais os homens também começam a fazê-lo. Mais de metade dos meus pacientes são homens. Essa ideia de que psicólogo é para “maluquinhos” vai caindo por terra e acho que os homens têm contribuído para isso, na medida em que assumem essa necessidade e o partilham com familiares e amigos. Da minha experiência, quando os homens assumem que uma ajuda pode ser importante, acabam por se tornar excelentes pacientes, usufruindo do processo.
Isto também tem a ver com o facto de sempre ter sido permitido às mulheres a expressão das emoções e exporem as suas dificuldades e fragilidade. Os homens sempre foram mais penalizados socialmente por isso. A um homem não se permitia chorar, expor as suas fragilidades. É algo que felizmente vai mudando e nós mulheres enquanto mães e educadoras temos um papel a desempenhar, para ajudar os nossos filhos homens nesse processo.
Permitir-se ser vulnerável é um ato de coragem, pois forte é aquele que se permite demonstrar o que sente, assumindo erros e feridas e trabalha para a sua superação.
E quando sai, por exemplo, ao fim do dia, do consultório, como se “limpa” de tudo o que ouviu? Como se afasta dos problemas dos pacientes?
É bom termos uma rotina que nos ajude a desligar. Termos um momento de paragem a fazer qualquer coisa não relacionada com a psicologia, rotinas de autocuidado. Por exemplo, quando termino o dia arrumo tudo no lugar e fecho a porta do gabinete, faço alguns exercícios respiratórios e relaxamento, estou um pouco com alguém a “jogar conversa fora”; converso com o meu filho sobre futebol… Só em situações muito urgentes, é que levo o pc para casa.
Faz muita formação para colegas. E se lhe perguntar, quais as qualidades que um psicólogo tem de ter?
Em primeiro lugar a empatia. Um psicólogo que domine as técnicas, mas que não consiga estabelecer uma relação terapêutica de qualidade, vai pôr em causa o sucesso da intervenção. Ser equilibrado e controlado, ser criativo e flexível, ser resiliente, ter facilidade no estabelecimento da relação; capacidade de escuta ativa, capacidade para trabalhar com diferentes populações, etnias, culturas, capacidade de adaptação a diferentes contexto; Ser consciente dos seus limites e ter capacidade de pedir ajuda, quando também dela necessita. O psicólogo(a) é um ser humano e deve trabalhar também na sua constante atualização e desenvolvimento pessoal como técnico e como pessoa.
E quais as melhores ferramentas para evitar as situações que possam conduzir a problemas de saúde mental? É possível aprendermos a gerir as nossas emoções?
Como disse anteriormente, não há emoções boas e más, há emoções. Todas são necessárias e quer o excesso quer a escassez requer um trabalho interno. Em certos momentos a supressão emocional é importante, mas converte-se num problema quando esse modo de resposta se generaliza a todas as interações com o exterior, passando a ser um modo de estar na vida. Todos em algum momento sentimos raiva, mas viver constantemente com raiva requer um trabalho interno mais aprofundado, pois estaremos a ultrapassar a linha do saudável. O mesmo acontece quando nunca se demonstram este tipo de emoções. Os mecanismos de defesas funcionam como escudos protetores, mas podem também funcionar como limitadores do crescimento e desenvolvimento pessoal.
Podemos aprender a lidar com elas de forma adaptativa. Primeiro temos de as conhecer, temos de escutar o que nos estão a dizer, para podermos agir sobre a fonte. Costumo comparar com a panela de água a ferver. Enquanto continuarmos apenas a deitar copos de água fria para acalmar a fervura, não vamos perceber o que está a manter o lume acesso. Escutar a mensagem que as emoções de cariz mais negativo estão a transmitir e perceber a necessidade de mudar o estilo de vida, é um passo importante para a estabilidade emocional.
A maior parte das pessoas tem tendência a fazer interpretações catastróficas das situações. Mesmo quando as coisas estão a correr bem, tendemos a colocar em causa esse bem-estar. Isto leva a que se procure, mesmo que inconscientemente, encontrar motivos para criar mau estar. Por detrás de cada emoção, como a ansiedade, a depressão e a raiva, está presente uma mensagem para que mudemos a nossa vida. Quando maior o desconforto, mais urgente é essa mudança.
Por onde começar? Por aquilo que está exclusivamente nas nossas mãos. Cada um tem de fazer o seu papel. O psicólogo ajuda, mas cada pessoa deve fazer o que está nas suas mãos, como por exemplo começar por mudar rotinas não saudáveis e implementar novas rotinas promotoras do bem estar, como caminhar todos os dias, olhar para o dia e identificar tudo o que correu bem, escolher uma memória positiva do dia que o represente, mimar-se.
A vida todos os dias nos ensina algo, mas nada aprende quem se recusa a aprender.
Terminemos com um caso que a tenha marcado pelo desfecho positivo….
Felizmente foram muitos os desfechos positivos. Recordo todos os processos terapêuticos que marcaram a diferença na vida das pessoas e lhes permitiram ser mais felizes. Esse é o meu objetivo final, ajudar as pessoas a serem mais felizes e melhores pessoas, a gostarem de estar com elas próprias e com isso ajudarem os outros a serem também mais felizes. Nem sempre consigo, pois, um processo não depende só da vontade e trabalho do psicólogo(a), mas o importante é a sensação de dever cumprido, de que fizemos o possível para ajudar aquela pessoa.
Recordo com muito carinho o jovem que no fim do processo me disse “afinal o meu pai sempre gostou de mim, só não sabia abraçar. Obrigada por me teres ensinado a ensiná-lo. “
Costumo dizer a brincar que um psicólogo(a) é uma espécie de treinador de alpinista. Ajudamos a pessoa a subir a montanha para assim alargar o seu horizonte e ver um mundo de possibilidades e aprender a construir as ferramentas necessárias para as alcançar.
Idade: 56 anos
Nascida em Trás-os-Montes a viver no Algarve desde 2006, mãe de 2 filhos.
Formação– Psicologia Clínica; Especialidade: Psicologia Clínica e da Saúde, com especialidade avançada em Psicoterapia (Cognitivo-Comportamental e EMDR);
Situação profissional atual: Psicóloga Clínica em contexto de Clínica Privada; Formadora da Ordem dos Psicólogos Portugueses na área dos Primeiros Socorros Psicológicos e Intervenção em Situação de Catástrofe; Formadora do Departamento de Psicologia da Prevenção Rodoviária Portuguesa (Curso de condutores infratores – Vertente Contra-ordenacional); Consultora Sénior – Processos de Transição de Carreira (Outplacement); Formadora na área comportamental (diferentes temáticas); sócia na Clínica Psicomédica
-Foi membro da Assembleia de Representantes da Ordem dos Psicólogos Portugueses aquando da sua constituição; Integra a Bolsa de Psicólogos Voluntários para Intervenção em situações de Catástrofe.
– É Presidente do Comité de Prática Clínica EMDR da Associação EMDR Portugal, tendo ocupado ainda lugares na Direção da mesma; (EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing quer dizer Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular).
– Diversos cargos/contributos de cariz comunitário, a nível autárquico e associativo.
– “Ser Mãe é o cargo mais importante da minha vida”.