Todos aprendemos de formas diferentes – e todos precisamos de o fazer de forma diferente. Acredito que os espaços de aprendizagem precisam apoiar diferentes formas de aprendizagem e o desenvolvimento de aptidões, e de uma consciência ambiental, para o século XXI.
O Grémio lançou recentemente um novo projecto para o território nacional denominado ‘jornadas da escola’. As jornadas reconhecem sete princípios que estabelecem relações entre o acto de aprendizagem e a estrutura física do que todos reconhecemos como ‘a escola’. Cada um descreve uma constelação para o foco e a interação dos alunos. No âmbito do projecto de Requalificação do Centro Histórico de S Bartolomeu de Messines, o Grémio propõe uma nova leitura para a vila como ‘a escola’ do Geoparque.
O projeto de Requalificação do Centro Histórico de S Bartolomeu de Messines, para além de obra de infraestrutura, é uma oportunidade para olhar para uma nova vila como projecto educativo do aspirante Geoparque. As jornadas da escola propõem um novo entendimento para a vila – Messines como uma constelação orgânica de edifícios e espaços públicos específicos (como escolas, os largos e becos, o museu e as igrejas), ligados por elementos paisagísticos cuidadosamente projetados – como resposta direta à prevalência generalizada de complexos escolares genéricos no território do aspirante Geoparque.
A dinâmica demográfica e pendular de concelhos como o de Silves, Albufeira e Loulé, e a relativa escassez de bons recursos educacionais geraram, no âmbito do programa ‘Parque Escolar’, uma corrida frenética para, substituir coberturas de amianto, ampliar e construir escolas novas cada vez maiores. Com projetos acelerados e cronogramas de construção, a nova vaga de ‘prédios’ educacionais, com cappotto, painéis sandwich, painéis solares e grelhas de ensombramento nas fachadas, deixou para trás a oportunidade de pensar uma escola para o século XXI e aproximando-se cada vez mais dos ‘parques de escritórios eficientes’, que albergam startups e spin-offs. É certo que a abordagem do programa ‘Parque Escolar’, e sucedâneos, permitiu uma solução conveniente para os problemas da educação de massa, mas grande dificuldade em reponder às necessidades dos jovens alunos que vivenciam o mundo físico de maneira diferente em diferentes estágios de suas vidas, em especial a dinâmica rural/urbano.
Como podemos então reconhecer a necessidade de experiências espaciais variadas dentro de uma grande escola, atendendo aos requisitos práticos que motivam muitas das obras em curso mas também as necessidades e sensibilidade que o futuro nos parece impor? Esta questão foi o ponto de partida para o projeto da ‘jornada da escola’ que olha para a vila de Messines e para o aspirante Geoparque como oportunidade para um projecto piloto.
Assumindo sete princípios que interligam a aprendizagem à estrutura física o Grémio propõe para Messines um programa, que pretendem em primeiro lugar oferecer uma alternativa ao ciclo de vida escolar da grande maioria das nossas crianças que passam quinze anos entre os pavilhões, muros e vedações de espaços genéricos. A futura obra de Requalificação do centro da vila e a agenda ambiental do aspirante geoparque oferecem a oportunidade para romper com o modelo prevalecente de escola como megaestrutura.
Como alternativa, o Grémio propõe desconstruír o programa original da ‘escola’ e reagrupar em muitos edifícios e espaços da vila, menores e distintos. Estes diferentes espaços, distribuídos pela vila, com competências programáticas mas de uso limitado, quando associados ao ar livre e paisagem intermediária, formaram um campus educacional diversificado e vibrante – a vila:
1. O Penedo – A situação de aprendizagem no alto de um penedo compreende a ideia de um espaço onde diferentes grupos de indivíduos e estudantes se podem dirigir permitindo que pensamentos, pontos de vista e conhecimento fluam de um para muitos. O orador, professor ou artista fica diante de uma audiência em contacto com uma escala de elementos da paisagem e do espaço natural maior tornando-se um facilitador de conhecimento sem perder a objetividade do educador;
2. O Percurso – O desenho de percursos pedestres em função de diferentes conteúdos curriculares integra o movimento como uma parte natural do território e de toda a acção, humana ou não, que ocorre neste território. Para alem da personalidade de cada um dos intervenientes ou do conteúdo curricular a abordar no percurso, o movimento melhora a aptidão cognitiva e confere maior dinâmica ao processo de aprendizagem. Um processo de aprendizagem visa ativar os sentidos dos alunos.;
3. O Largo – A situação de aprendizagem num largo ou praça oferece um espaço confinado para situações de aprendizagem em grupo, semelhante ao de uma sala de aula. A geometria varanda de diferentes espaços, assim como a articulação dos mesmos com ruas e diferentes edifícios, treina os alunos para trabalhar com eficácia em equipas menores, enfocar o diálogo dentro do grupo e desenvolver a sua capacidade de colaboração, em limite compreender o âmbito de ‘comunidade’;
4. A Oficina – A prática é um contexto de aprendizagem essencial que adiciona uma dimensão extra de comunicação não verbal. A oficina ou estaleiro oferece uma ligação entre teoria e prática, mente e corpo, visão e jogo. Um espaço de trabalho como o da oficina permite ainda compreender a relevância do material e do oficio, inspira e motiva os alunos;
5. O Beco – A situação de aprendizagem num pequeno recanto, gruta ou mesmo numa pequena capela, oferece um espaço para concentração individual, foco e reflexão. É caracterizado pelo silêncio, mas não necessariamente pelo isolamento. Estes são espaços de acesso condicionado e estritamente definidos para pequenos grupos, um ou dois alunos, longe das áreas com atividades;
6. O Poço – A situação de aprendizagem junto de um poço ou nora explora espaços informais com muitos transeuntes e perturbações. Este é um espaço de interrupções onde os alunos encontram ideias inesperadas, habilidades surpreendentes e conhecimentos surpreendentes que os inspiram e motivam;
7. O Palácio – Entrar numa grande casa, numa Escola ou no Museu deve oferecer a quem entra o interesse e descoberta espacial, o conforto e escala edificada que o aluno não encontra em casa ou mesmo na rua, onde os alunos cultivam a criatividade, o pensamento crítico e a colaboração – e o mais importante: a capacidade de aprender a aprender por conta própria. Neste palácio, onde se reúnem experiências e qualidades que encontraram ‘lá fora’, as superficies vibrantes, materiais táteis e o desenho da luz direcionam a atenção enquanto nos espaços amplos e flexíveis do exterior criam-se os processos de aprendizagem dinâmicos.