3. A toponímia no Estado Novo
A 28 de maio de 1926 deu-se o golpe sob o comando do general Gomes da Costa, que instituiu a Ditadura Militar, um regime autoritário que substituiu a I República e a partir do qual se estruturou o Estado Novo.
Em Silves, no que respeita à denominação das artérias da cidade, o Estado Novo não fez grandes mudanças toponímicas a nível ideológico, como na I República, mas avançou, essencialmente, com a reposição de alguns topónimos tradicionais e a valorização de um cunho historicista, registado na celebração de diversas figuras históricas e de grande relevo para a história da cidade.
Neste sentido as duas primeiras mudanças consistiram na atribuição do topónimo Al-Motamid à rua das Muralhas, em homenagem a um dos maiores poetas que viveu em Silves, todavia a rua nunca foi conhecida por esta nomenclatura. E deu ao Largo João de Deus o seu antigo nome, de Praça do Pelourinho, por melhor significar a sua tradição histórica.
A 13 de junho de 1932 o presidente da Comissão Administrativa, Afonso Gomes Barroso propôs a alteração de nomes de três artérias: “que seja dado o nome de Rua Douctor Oliveira Salazar, eminente estadista e financeiro à Rua do Soldado Desconhecido Portuguez”, consagrando uma das figuras cimeiras do Regime, enquanto as outras duas denominações prendem-se à larga tradição histórica da cidade de Silves: “que a actual Rua Joaquim António d’ Aguiar passe a ter a antiga denominação da Rua da Sé” , “nome histórico que trás ao pensamento a criação da Sé episcopal por D. Sancho I que para ela nomeou Primeiro Bispo D. Nicolau e que em Silves se conservou até à transferência definitiva para a cidade de Faro no tempo, em que foi bispo D. Jerónimo Osório” e por sua vez “que à actual Rua Douctor Manuel d’ Arriaga seja dado o nome de Rua D. Afonso III” , “considerando que a conquista definitiva de Silves no reinado de D. Afonso III é facto importantíssimo não só para a história local mas nomeadamente para a historia nacional (…) foi precedida dum sangrento combate junto à porta d’ Azóia que segundo informação dos homens antigos ficava no alto da actual Rua Dr. Manuel de Arriga, antiga Rua de Pão de Ló”.

Dois anos depois, sob a presidência de João Azevedo Zuzarte Mascarenhas prosseguiram as alterações toponímicas respeitando a tradição e a história da cidade: mudando a denominação do atual Largo Marquês de Pombal, que até há duas décadas era conhecido como Largo da Sé, para Largo D. Jerónimo Osório, o mais notável Bispo de Silves.
Considerando que na rua Victor Hugo há cerca de meio século se realizou o primeiro comício republicano de Silves, na varanda da casa que pertenceu a Gregório Mascarenhas (atual Associação de Regantes), seja atribuído o nome do primeiro Presidente da República Portuguesa: Rua Dr. Manuel de Arriaga .
Foi ainda deliberado que a artéria designada por Travessa do Arco “passe a nomear-se por Travessa da Porta da Cidade, que é mais consentâneo com a verdade histórica da cidade” .
Na sessão seguinte, nova mudança “que a artéria desta cidade actualmente designada “Rua das Muralha” passasse a denominar-se “Rua Sidónio Pais”, nome pelo qual já foi designada, todavia nesta artéria estas alterações revelaram-se inúteis, pois o topónimo antigo, Rua das Muralhas, continuou a ser usado em detrimento do novo, demonstrando o seu enraizamento na comunidade.
Dez anos depois, sob a presidência de Salvador Gomes Vilarinho, foi proposto a mudança de mais três nomes de rua: “considerando que não existe na cidade qualquer rua com o nome daquele que tanto contribuiu para a sua conquista aos Mouros, proponho que à rua que desce para a Senhora dos Mártires, paralela à Rua Dom. Afonso III, actualmente Rua Heliodoro Salgado, seja dado o nome “Rua Dom Paio Peres Correia””; “considerando que todo o Algarve e nomeadamente o concelho de Silves muito ficou devendo ao ilustre algarvio, quando Governador Civil, Capitão João de Sousa Soares, proponho que a actual Travessa João de Deus passe a denominar-se “Rua Capitão João Soares”” e por último “que ao Largo João de Deus seja dado o nome tradicional de “Praça do Município””. Relativamente a esta última designação, na reunião camarária de 14 de outubro de 1955, o presidente da edilidade silvense, Carlos Alberto Lucas de Lança Falcão voltou a propor esta mesma denominação “que ao largo fronteiro aos Paços do Concelho, denominado “Largo João de Deus” seja dado o nome de “Praça do Município” designação pela qual é vulgarmente conhecido” .

Em 1945 foi determinado que o jardim se designasse Jardim de 28 de Maio, porém, três anos depois, ficou decidido passar a ser denominado por Jardim Engenheiro Cancela de Abreu, ficando o largo com a mesma denominação. Na mesma data foi igualmente deliberado “que a nova avenida em frente das escolas incluídas no plano dos centenários, em construção em frente do jardim Engenheiro Cancela de Abreu, seja denominada “Avenida Marechal Carmona”” .
Na primeira reunião presidida por Carlos Alberto Lança Falcão, realizada a 22 de julho de 1955, assinalando-se “o primeiro aniversário do brutal e vil atentado contra o território de Dadrá no Estado Português da Índia, esta Câmara Municipal, curva-se respeitosamente perante os mártires que ali tombaram heroicamente em defesa da soberania nacional, da honra da Pátria e da civilização ocidental e cristã” e como homenagem foi deliberado atribuir o nome de Rua dos Heróis de Dadrá ao arruamento que se encontrava a abrir, junto ao edifício dos Correios e que liga as ruas Coronel Galhardo e João de Deus.
Sob a presidência de Salvador Gomes Vilarinho prosseguiram as alterações toponímicas que afetaram meia dezena de artérias da cidade: em 1966, atribuiu-se à ponte nova de Silves, sobre o rio Arade, o nome de Ponte Engenheiro Arantes d’Oliveira, em homenagem ao Ministro das Obras Públicas; em 1969, a atual Rua Joaquim António de Aguiar retomou a sua primitiva denominação de Travessa da Cató e à praceta situada a nascente do Bairro de casas de renda económica foi dado o nome de Praceta Gil Eanes. Em 1970, foi concedido ao arruamento situado entre a Rua Serpa Pinto e o Largo da Feira o nome de Rua Julião Quintinha, homenageando o ilustre silvense, e dois anos depois foi ratificado o último topónimo deste período, passando a Rua Dr. João de Meneses a denominar-se Rua Eng.º Sebastião Ramires, em homenagem a este estadista que legou à Nação uma relevante obra, tanto no campo da indústria como no da agricultura.
Em 1973 o executivo silvense deliberou “substituir todas as placas de identificação de ruas desta cidade por novas placas de mármore”, bem como foram propostos os nomes do Pintor Samora Barros e do Dr. Nobre de Oliveira para futuros arruamentos, o que acabou por se concretizar já depois da revolução de abril.
Uma das formas de manutenção é coexistir na mesma placa o nome antigo a par do atual, sendo uma opção com consciente sentido histórico do papel fundamental da toponímia na vida das povoações.