O tema da depressão e do suicídio, saltou para as primeiras páginas dos media, infelizmente devido à perda de um grande ator português, que parece ter vivido no silêncio a sua dor interna. Esta é a situação de muitas outras pessoas, anónimas ou conhecidas, que não conseguem pedir ajuda a tempo de se salvarem de um estado profundo de angústia do qual não veem saída.
Na história que partilhei na última edição, referia-se a certa altura “… nossas mãos são as antenas de nossa alma. Se você as move costurando, cozinhando, pintando, tocando ou afundando-as na terra, você envia sinais de cuidado para a parte mais profunda de você. E sua alma se ilumina porque você está prestando atenção nela. Então ela não precisa mais lhe enviar dor para ser notada.”
Ao não prestamos atenção aos sinais que nos chegam de dentro, que se manifestam desde cedo através da linguagem do corpo, não tomamos consciência do tsunami que se pode estar a formar. O autocuidado e o pedir ajuda profissional especializada é fundamental para não deixar que o tsunami se forme, e conseguir que as ondas agitadas deem lugar a um mar mais tranquilo. Ao intervirmos numa fase mais precoce estamos a poupar sofrimento e reduzir a probabilidade de desenvolvimento de psicopatologia.
A depressão profunda, fase mais crítica da doença, apresenta algumas características como a fadiga, falta de energia para fazer as atividades do dia a dia, tristeza contínua, pensamentos de culpa ou pensamento suicida, dificuldade para manter o autocuidado, como tomar banho, trocar de roupa e escovar os dentes. Os sintomas depressivos podem variar muito de pessoa para pessoa. Enquanto uma pessoa deprimida pode experimentar sentimentos de tristeza, desesperança e desamparo, outra pode sentir raiva, irritação e desânimo.
A depressão profunda não é rara. Uma em cada cinco pessoas passa por uma depressão profunda clinicamente grave em alguma época da vida, sendo ainda que uma em cada quinze pessoas, desenvolve um quadro severo que leva à hospitalização. A saúde física é colocada em risco, levando mesmo em alguns tipos de depressão a alterações hormonais que podem interferir profundamente no funcionamento do sistema imunológico. O resultado é que a pessoa passa a ter menos condições para repelir a doença e apresenta maior risco de desenvolver outros problemas de saúde.
Superar uma depressão profunda é difícil, mas não impossível. A depressão é muito difícil de superar sem ajuda externa, por isso a consulta com um profissional de saúde é indispensável. Fisiologicamente, a depressão é um desequilíbrio no cérebro.
Mas, ao contrário de outras doenças, ela não pode ser curada apenas com medicamentos, já que é uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. É necessário um tratamento com psicoterapia e em casos mais profundos um tratamento psiquiátrico com administração de medicamentos que podem estabilizar as substâncias químicas no cérebro e fazer com que o paciente se sinta melhor. A nível psicológico, a terapia cognitiva comportamental ajuda o paciente a resolver os seus problemas atuais e a aprender novas maneiras de lidar com as situações de vida.
Tratar a depressão é um trabalho de equipa entre psiquiatra, psicólogo e paciente, numa relação interdependente entre a medicação, o aconselhamento psicológico e o trabalho que o paciente estiver disposto a realizar para combater a depressão. É por isso fundamental, estabelecer pequenas metas, concretas e concretizáveis, devolvendo à pessoa a capacidade de recuperar o controlo da sua vida. Paralelamente, e porque saúde física e saúde mental estão intimamente ligadas, trabalhar para permanecer saudável, fazendo exercício físico, cuidando da alimentação e de uma boa higiene do sono. Evitar o consumo de álcool, tabaco e drogas. Realizar em cada dia atividades de prazer pessoal, sem se preocupar se lhe apetece ou não, pois recuperar a vontade de fazer de novo as coisas necessita de persistência e rotina. Quando nos rodeamos de pessoas e coisas positivas geramos uma maior probabilidade de uma recuperação mais rápida. A depressão é um dos estados emocionais mais passíveis de tratamento.
Quando geramos movimento em sentido positivo e promovemos o autocuidado levamos o nosso cérebro a focar e a conectar-se com os nossos recursos internos, de forma a recuperar a capacidade de concretização, apesar do sofrimento que se pode estar a sentir.
“O pensamento positivo pode vir naturalmente para alguns, mas também pode ser aprendido e cultivado. Mude seus pensamentos e você mudará seu mundo.” – Norman Vincent Peale