As últimas tangerinas
As últimas tangerinas
ficaram por apanhar
confundem-se com a impossibilidade
de brevemente regressar
No velho quintal esquecidas
ficaram por saborear
Nas tangerinas de Silves, pai
ainda mora a doçura do teu olhar
Tarda este mal em passar
Cuida-se da vida, que se quer recolhida
Morre a possibilidade de amar ao abraçar
Maldito tempo este, de vida tolhida
Ergo o anseio de novo o café contigo partilhar
Mas na leveza do teu corpo envelhecido a vida foge e eu tardo
Dedicado ao meu pai e ao maldito vírus que nos impede de o ver neste ano da desgraça de 2020
Texto: Paulo Penisga