Numa altura em que tanto se fala de mobilidade sustentável e de proteção ao ambiente, dois professores da EB 2.3 do Algoz, Horácio Amaral e Carlos Jara, estão a desenvolver um projeto para promoção do ciclismo.
Mas o que distingue este projeto de muitos outros é a ideia da generosidade. Ao constatarem que não possuíam bicicletas em número suficiente para todos os alunos, os professores empreenderam uma recolha de bicicletas usadas, de todos os tipos e idades. O importante é que ninguém fique de fora.
Neste ano letivo nasceu no Agrupamento de Escolas Silves Sul, o projeto “O ciclismo vai à escola”, no âmbito de uma Estratégia Nacional para a Mobilidade Sustentável que está a funcionar em 24 escolas por todo o país, sendo três delas no Algarve.
No fundo, o que este programa pretende é “pôr os miúdos a andar de bicicleta”, como explica o professor Horácio Amaral.

Logo de início, os professores confirmaram uma situação: que a maioria das crianças não sabia andar de bicicleta. “Há uns anos atrás, os miúdos brincavam muito na rua, muitos tinham bicicletas, quase todos sabiam andar, hoje uma grande percentagem não sabe andar, a maioria vive em apartamentos onde também não dá jeito ter bicicletas e não brinca na rua”. Desta constatação, diz Horácio Amaral, viram que seria necessário fazer um trabalho bastante extenso junto dos alunos. “Mas feito o plano de ação identificou-se o primeiro problema que tínhamos de resolver: não havia bicicletas para todos”.
Daí surgiu a ideia de fazerem uma recolha de bicicletas. O professor Horácio deu o exemplo, trazendo duas que estavam encostadas lá por casa, a Junta de Freguesia de Armação de Pêra apareceu com outras que recolhia dos monos, um homem de Portimão que estava a vender bicicletas velhas no Facebook acabou por oferecê-las à escola quando foi contactado pelo professor Caros Jara, que lhe ligara a perguntar pelo preço… E assim o espólio desportivo tem crescido…

Agora, no piso superior do pavilhão da EB 2.3 do Algoz há 27 bicicletas prontas a ser usadas. Há também um espaço de oficina onde os professores, especialmente Carlos Jara “que tem mais jeito”, como diz o colega, faz as reparações necessárias às bicicletas oferecidas. Algumas são bastante velhas, mas há sempre peças que se podem aproveitar. O Agrupamento de Escolas forneceu o equipamento necessário para a constituição da oficina, como ferramentas e outros materiais, mas o trabalho é feito pelos professores.
Apesar de todo este processo ter sido iniciado somente no mês de janeiro, já deu frutos, permitindo também expandir a equipa de BTT, do desporto escolar.
Assim, há agora bicicletas em todos os níveis escolares. Começando nos jardins de infância do Agrupamento, em virtude de terem sido oferecidas algumas que se adequavam a crianças mais pequenas, que estão a aprender. No projeto “Brincar com a bicicleta”, que abrange todos os alunos do 1º ciclo, estes, além das aulas práticas, têm também noções de prevenção rodoviária e atividades como gincanas, que desenvolvem a sua mobilidade. Já para os alunos do 2º e 3º ciclos, as atividades passam por “tirá-los do espaço escolar e pô-los a andar de bicicleta” e alguns com mais vontade de competir “são encaminhados para clubes da zona”, como a Extremo Sul, associação que deu um importante contributo no arranque deste projeto.
As bicicletas estão também presentes nas atividades dos alunos do ensino especial que frequentam o CAA- Centro de Apoio Aprendizagem e têm-se revelado como “uma ajuda na promoção do equilíbrio, independência e tomada de decisão, entre outros fatores”, afirma o professor Carlos Jara.

No futuro, este projeto gostaria de ir mais longe e tem a ambição de, envolvendo a Câmara Municipal de Silves e outras entidades, criar ciclovias entre localidades e as escolas, nomeadamente em Algoz e Tunes. Num futuro mais próximo, está planeado criar o que chama um “ciclo-bus”, que contempla “a recolha de miúdos que queiram vir de bicicleta para a escola”. Essa espécie de “autocarro de bicicleta” será acompanhado por um professor e o objetivo é ensinar os alunos a deslocarem-se em segurança para que mais tarde, eventualmente, o possam fazer com autonomia e segurança.
Entretanto, divulgado o projeto fica o convite: quem tiver em casa bicicletas, (não importa o tamanho ou a idade,) e outros equipamentos relacionados com o ciclismo, como capacetes, luvas e outros, e quiser oferecê-los, basta contactar a EB 2.3 do Algoz. Todas as ofertas são bem vindas!
(Nota: Esta reportagem foi realizada no final de fevereiro e publicada na edição de março do Terra Ruiva)