Temos a “História da Edição em Portugal”, na sua origem, pelo professor Artur Anselmo, numa notável edição, de 1991, 260 páginas, em que informa sobre a Invenção da Imprensa de caracteres móveis: “ Era já conhecido na China, onde foi conhecido a partir do século XI, não tendo qualquer influência no processo de desenvolvimento da tipografia de caracteres móveis na Europa”.
O autor afirma, no seu estudo, que saiu da oficina do judeu Samuel Gacon, em 1487, o primeiro livro impresso em Portugal, o Pentateuco, na villa de Farun (Faro). Este ano completam-se 533 anos, da chamada tipografia.
Este facto ficou quase desconhecido, até que no passado século, os homens da cultura algarvia entraram, ligeiramente, nessa comunicação: Homens da Academia Portuguesa de História, gente estudiosa, desde Mário Lyster Franco, José Pedro Machado, José António Pinheiro e Rosa, Alberto Iria, entre outros. A maioria ligados ao Estado Novo. Era o tempo de avançar. O jornalista e académico Lyster Franco, no seu semanário, “Correio do Sul”, publica num artigo de apelo ao conhecimento, em Junho de 1965. Foi o alerta.
É certo que não estávamos em tempo desses reconhecimentos, dado que todo o espólio da Biblioteca e Museu de Faro entraram em arrecadação na Igreja dos Capuchos na capital algarvia, numa determinação em 1914-18 do após República, no consulado de Sidónio Pais, o “Presidente rei “, conforme Fernando Pessoa o alcunhou. Quanto não se perdeu, nesses turbilhões políticos!?
Após a queda da ditadura, em 1974, novas forças vêm ao encontro do reconhecimento. Depois da importância da obra publicada, em 1991, a ” História da Edição em Portugal”, da autoria do Professor Doutor Artur Anselmo, o Governo Civil de Faro, tendo como Governador o messinense Joaquim Manuel Cabrita Neto, manda publicar uma edição do Pentateuco, num breve estudo de Manuel Cadafaz Matos.
Como sabemos, ou devemos saber, o célebre livro, o primeiro editado em Portugal, na cidade de Faro, foi roubado pelos ingleses, na política da rainha Isabel I de Inglaterra. Levantam-se vozes entranhas à história: no assalto à cidade de Faro, em fins de Julho de 1596, Faro já não era portuguesa, mas sim pertença do reino de Espanha, nas causas das mortes do jovem rei Sebastião e do seu tio avô, o cardeal Henrique. ( Ver Magazine J.A. 31/08/2017). Os livros roubados pelos ingleses, entre eles o célebre Pentateuco, ficaram pela Inglaterra, foi como tantos outros nos tempos do poder absoluto, actualmente propriedade inglesa, pelo Lei de Talião: Olho por olho – Dente por dente. Tal como a França, nessa imensa riqueza saqueada, que chega aos tempos de Napoleão, ainda no século XIX. Tal como a Alemanha, no início do século XX, o saque da cabeça de NIFERTITI (Egipto), uma situação na responsabilidade da União Europeia, ainda em estudo, a resolver, como se afirma e se deseja.
A História é uma construção da memória. Entre nós, pouco ou quase nada se sabia da naturalidade do “Pentateuco”. Já João de Deus, no último quartel do século XIX, publicava um louvar a Gutenberg: “Ó inventor da imprensa /Luz da Humanidade”, in “Campo de Flores”.
Fico bem com todo o movimento que se cria, que se forma em louvor da cidade fundadora do primeiro livro português. Ser judeu, ou ser de outra religião que seja, o importante são os Homens: Johan Gutenberg, natural de Mongúncia, inventa o método tipográfico em 1468, revolucionando o método moderno, ou Samuel Gacon no tempo, na vila de Santa Maria de Faro, numa comunidade judaica assaz rica, em 1487.
Quando da deslocação do rei João II ao Algarve, no Verão de 1489, com a Corte em Tavira, não deixa de visitar Faro, recebendo apoios financeiros na comunidade judaica, na construção da fortaleza da Graciosa, na foz do rio Larache, em Marrocos. Ainda o Príncipe Perfeito ofereceu à sua mulher, a rainha Leonor, Faro como vila sua. À luz dos documentos e no que nos separam do incunábulo, nessa aglutinação denominada berço da imprensa, se deve a um conjunto de factos: judiaria comercial, rica e evolutiva. Um tempo em que o reino do Algarve se expandia, numa influência do período de Quatrocentos, que soprou nos ventos de mentalidade Henriquina e de transformação no viver e pensar português e no mundo.
As Universidades Europeias ganham luzes modernas. A imprensa, que não tardou a estabelecer-se na vila de Santa Maria de Farun, devido a essa presença judaica, aberta à inovação. Outro factor de transcendente importância foi o Algarve, como sede das descobertas marítimas. Ora, sem a imprensa, no século vizinho do XVI, como poderiam ter-se dado o conhecimento a todas essas transformações e descrições dos cronistas. Temos esse reconhecimento da Terra “mãe”, da imprensa em Portugal… Sem dúvida ! E nessa “dúvida” foram passando os séculos, sem o reconhecimento em continuidade … Por vezes escrevo e publico, consciente das minhas palavras : “Ai, se Faro fosse o Porto!”. Porque o digo!?. É que a cidade do Sul, ainda hoje, não tem um Museu da Imprensa, como o Norte. Vamos publicando (sem valor nas palavras). A Diocese do Algarve já mostrou a sua disponibilidade na cedência do espaço e material da sua antiga casa impressora (Folha do Domingo). Já se fez num espaço do palácio episcopal uma amostra do que poderia vir a ser o futuro MUSEU DA IMPRENSA. Em 2017 comemorou-se no salão nobre da Câmara Municipal de Faro os 530 anos da fundação da Imprensa na cidade de Faro. Mas nada “bouge”. A não ser um livrinho para a exposição das “vaidades”. Sem ofensa!
Recentemente, a 10 de Janeiro/2020, publiquei no jornal “FOLHA DO DOMINGO”, o meu apelo ao reconhecimento de “Samuel Gacon o Mal-Amado”. É que não se ergue uma memória que lembre, publicamente, aos presentes e visitantes, que Faro foi o “Berço da Imprensa em Portugal”. Vamos lá à pequena istória”. Em 1994, publiquei: “Samuel Gacon- Ano 2005”. O que se pretendia? Era mesmo a ideia, de Faro vir a ser a Capital da Cultura. Tudo a 11 anos de distância. O que aconteceu! Que assunto foi esse? Só isto: que se erguesse um monumento, em Faro, em memória do feito de 1487: o Pentateuco. Está publicado na imprensa (J.A.-1993) e em livro que intitulei de “Faro no Verbo Amar”, edição de 1998. Um breve apanhado: “ Mestre Samuel Gacon desceu do plinto, erguido na sua cidade de FARUN convidando-me a visitar a Terra do seu Pentateuco…!”
O livro quinhentista tem recebido reconhecimentos de alguns Messinenses: João de Deus, como já se afirmou em que deixou o reconhecimento no seu tempo : Oh Gutenberg / oh filho de Maiença/ Oh inventor da arte/ Que a todos perpetua / Oh inventor da imprensa / Luz da Humanidade”, em publicação no livro “Campo de Flores”. Foi o primeiro passo para o reconhecimento.
Seguiram-se duas Mulheres, séculos XX e XXI: Paula Bravo num Prémio, em 1994, no tema Samuel Gacon. Temos, seguindo, a estudiosa Patrícia de Jesus Palma, coordenadora das comemorações dos 530 anos do livro impresso em Portugal, numa organização da Câmara Municipal de Faro, 2017. Depois… o silêncio… o silêncio…Não das Mulheres e Homens que vêm publicando, desde a imprensa a artigos nos “ANAIS DO MUNICÍPIO de FARO” 1988 : “Os 500 anos do Pentateuco”, 2001 /2002 : “Do Pentateuco ao Grito Claro”. Etc. Mas os apelos não são ouvidos pelos AUTARCAS de Faro, nestes 20 anos do século XXI. Então se não há “Pentateuco”, para Faro, uma estátua a Samuel, seria a homenagem justa.
A ilustração é do Mestre pintor Alberto de Sousa (1880-1961), figura do Norte, notável da pintura portuguesa, que faleceu em Paris, onde se fixara. O quadro dá-se a conhecer na publicação do semanário de Faro “Correio do Sul”, 10/06/1965, por Mário Lyster Franco, na publicação, em título: “Faro continua a ser a primeira terra PORTUGUESA em que existiu TIPOGRAFIA”.
Onde se encontra esse quadro: “Ex Libris da Biblioteca Municipal de Faro ? Consultar “Folha do Domingo” 7 de Julho-2017.