Concerto de Ano Novo em Armação de Pêra

O já tradicional “Concerto de Ano Novo” em Armação de Pêra decorre na Igreja Matriz da vila, no dia 4 de janeiro, pelas 15h00, numa iniciativa da Junta de Freguesia de Armação de Pêra.

“Com entrada livre, e duração aproximada de 75 minutos, este concerto reúne cerca de 30 músicos, da Orquestra Amadeus – da Academia de Música de Lagos – e Pequenos Violinistas – do Estúdio de Música João Pedro Cunha.

O artista Reflect, de Armação de Pêra, participará também neste concerto e irá fazer a sua (quase) tradicional declamação de abertura do Cântico de Amor de São Paulo, que neste ano será acompanhado ao violino pelo Maestro João Pedro Cunha.

Este concerto incluirá, na 2.ª parte, algo raro, e inédito em Armação de Pêra, que será a projecção de um filme (elaborado pelos alunos da Orquestra Amadeus), com banda sonora ao vivo.

Pretendemos assim assinalar o início do ano de 2020 com mais uma iniciativa cultural distinta e de grande qualidade, pelo que estamos a contar com a sua presença”, afirma a Junta de Freguesia.

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2 Comentários

  1. Escrevi estas breves linhas, após ter assistido ao Concerto musical, tradicionalmente transmitido da bela sala dourada do ‘Musikverein de Viena’, repleta de flores, emissão repetida em todos os primeiros de Janeiro, como que a dar-nos as boas vindas ao novo ano, hábito que não dispenso e se tornou quase um talismã incontornável para mim, como modo de proporcionar ao meu espírito uma espécie de catarse, através da magia da Grande Música, designação que prefiro ao de Música Clássica, termo que descarto, pelo elitismo que pode envolver e que não está, de todo, na mente de quem ama a nobre arte dos sons, um pouco à maneira do que os Romanos sintetizavam por ‘ars gratia artis’.

    Muitos e excelentes maestros têm dirigido, em anos anteriores, a ‘Wiener Philharmoniker Orchestra’, no Concerto do Ano Novo, como o venezuelano Gustavo Dudamel, o indiano Zubin Mehta, o italiano Riccardo Muti, o grande Herbert von Karajan, o italiano Claudio Abbado ou o alemão Christian Thielemann,
    Este ano de 2020, coube a vez ao letão Andris Nelsons, que desconhecia, de todo.

    Não obstante ser um completo leigo em matéria musical, tenho, porém, como qualquer ser humano, a capacidade de apreciar ou não.
    É no primeiro grupo que me integro.

    A música, a boa música, como qualquer outra obra de arte, é uma criação do génio humano, cuja inspiração o leva a ‘arrumar’ – entenda-se, compor – os sons ( dó, ré, mi, fá, sol, lá, si ), assim como as claves, desta maneira e não daquela, para este ou para aqueloutro instrumento, obra que é, depois, vazada nas partituras, através de vários símbolos, tais como colcheias, semicolcheias, mínimas, semínimas, fusas, semifusas e breves, cuja leitura o executante transformará em sons.
    Apenas isto.
    Parece simples, só que não basta juntar as notas, aleatoriamente, para que a peça musical gerada emocione o nosso sentido estético.
    É imprescindível que o talento e a inspiração estejam presentes, para que a obra-prima nasça.

    Do mesmo modo, as outras artes têm à sua disposição os respectivos instrumentos básicos, à maneira dos tijolos utilizados para a construção de uma casa.
    Tal é o caso da escrita, cuja matéria-prima é a palavra, através das letras do alfabeto e dos vários sinais diacríticos.
    Ou da pintura, com as cores, a paleta e o pincel.
    Ou da dança, com o movimento.
    Ou da escultura, com o barro, a pedra e o cinzel.
    Ou da arquitectura, com o espaço.
    E assim por diante …
    Tudo se torna simples, quando o espírito criador opera aquilo que não se aprende, visto que é inato.

    Dou como exemplo de como uma peça musical nos pode levar à comoção a Abertura da ‘Cavalaria Ligeira’ de Franz von Suppé, que integrou o Concerto de Ano Novo, a que acabei de assistir, obra plena de lirismo, no seu penúltimo trecho, antes da apoteose do ‘trote’ final.
    Encontramos sentimentos semelhantes – dependendo do sentido do belo de cada um de nós -, na audição de algumas obras de Chopin, de Brahms ou de Franz Liszt.

    Falando, em particular de mim próprio, foi em Verdi que encontrei o apogeu do encantamento e toda a grandeza que a Grande Música pode proporcionar, designadamente, no ‘Va Pensiero’, mais conhecido como o ‘Coro dos Escravos Hebreus’, no terceiro acto da Ópera ‘Nabuco’, que vi, há já alguns anos, e repeti, posteriormente, no Coliseu dos Recreios.

    Verdi viveu num tempo em que a sua Itália estava sob o jugo da pata do Império Austro-Húngaro.
    Não foi por mero propósito estético que recorreu aos coros, nalgumas das suas óperas.
    Fê-lo, utilizando-os como armas e símbolos, que ajudassem à libertação da Pátria amordaçada, com a intenção de que corporizassem a resistência do povo italiano à tirania e para aglutinar a união dos patriotas italianos contra o ocupante.

    Integrou na ópera ‘Nabuco’ o ‘Coro dos Escravos’, imaginando, de um modo metafórico, a nostalgia dos hebreus, prisioneiros no Cativeiro na Babilónia, onde choravam a sua perda liberdade, enquanto recordavam os tempos felizes, em Israel.

    CORO DOS ESCRAVOS
    Vai, pensamento, em asas douradas,
    Vai, pousa sobre as colinas e montes
    Onde sopram as doces brisas,
    A quente e leve fragrância da nossa terra natal.
    Saúda as margens do Jordão
    E as torres abatidas do Sião.
    Oh pátria minha, tão bela e perdida !
    Oh lembrança tão querida e fatal !
    Harpas de ouro dos fatídicos lamentos,
    Porque pendeis mudas nos salgueiros ?
    Reacende a memória no nosso peito,
    Fala-nos do tempo que passou.
    Lembra-nos o destino de Jerusalém.
    Traz-nos um som de lamentação triste
    Ou que o Senhor nos inspire uma harmonia
    Que ajude a suportar o nosso sofrimento
    E nos insufle coragem no padecer.

    Outros coros como ‘O Signore, dai tetto natio’ da ópera ‘ I Lombardi alla prima crociata’ ou ‘Si ridesti il Leon di Castiglia’ da ópera ‘Ernani’- além do ‘Va Pensiero’, acima – converteram-se em verdadeiras bandeiras de luta pela unidade e libertação da Itália, coros que o povo profundo italiano tomou em mãos e cantava pelas ruas.
    Verdi tornou-se, por tudo isto, um herói nacional.
    Os ‘Viva Verdi’ passaram a ser pintados nas paredes, às escondidas dos esbirros do ocupante.

    Àparte este papel de combatente pela liberdade do seu país, Verdi ofereceu-nos outras óperas – verdadeiros primores da arte dos sons, apenas ao alcance dos grandes génios, que tive o privilégio de ver – todas no Coliseu dos Recreios de Lisboa -, como ‘Rigoletto’, ‘A Força do Destino’, ‘Don Carlos’, ‘La Traviata’, ‘Otello’ e a ‘Aida’
    Na ‘Aida’, cujo enredo se desenrola no Antigo Egipto dos faraós, destaco a exuberância da ‘Marcha Triunfal’, assim como a opulência dos cenários.

    Qualquer destas obras-primas é um monumento à dupla arte daquilo que é uma ópera : Canto e Representação.
    Noutros casos, como nos bailados, a arte cénica é tripla : Canto, Representação e Dança, de que são exemplos ‘O Lago dos Cisnes’ ou o ‘Quebra-Nozes’ ambos de Tchaikovsky, que o Coliseu, em boa hora, também trouxe até nós, para gáudio dos amantes da Grande Música.

  2. Escrevi estas breves linhas, após ter assistido ao Concerto musical, tradicionalmente transmitido da bela sala dourada do ‘Musikverein de Viena’, repleta de flores, emissão repetida em todos os primeiros de Janeiro, como que a dar-nos as boas vindas ao novo ano, hábito que não dispenso e se tornou quase um talismã incontornável, como modo de proporcionar ao meu espírito uma espécie de catarse, através da magia da Grande Música, designação que prefiro ao de Música Clássica, termo que descarto, pelo elitismo que pode envolver e que não está, de todo, na mente de quem ama a nobre arte dos sons, um pouco à maneira do que os Romanos sintetizavam por ‘ars gratia artis’.

    Muitos e excelentes maestros têm dirigido, em anos anteriores, a ‘Wiener Philharmoniker Orchestra’, no Concerto do Ano Novo, como o venezuelano Gustavo Dudamel, o indiano Zubin Mehta, o italiano Riccardo Muti, o grande Herbert von Karajan, o italiano Claudio Abbado ou o alemão Christian Thielemann,
    Este ano de 2020, coube a vez ao letão Andris Nelsons, que desconhecia, de todo.

    Não obstante ser um completo leigo em matéria musical, tenho, porém, como qualquer ser humano, a capacidade de apreciar ou não.
    É no primeiro grupo que me integro.

    A música, a boa música, como qualquer outra obra de arte, é uma criação do génio humano, cuja inspiração o leva a ‘arrumar’ – entenda-se, compor – os sons ( dó, ré, mi, fá, sol, lá, si ), assim como as claves, desta maneira e não daquela, para este ou para aqueloutro naipe de instrumentos, obra que é, depois, vazada nas partituras, através de vários símbolos, tais como colcheias, semicolcheias, mínimas, semínimas, fusas, semifusas e breves, cuja leitura o executante transformará em sons.
    Apenas isto.
    Parece simples, só que não basta juntar as notas, aleatoriamente, para que a peça musical gerada emocione o nosso sentido estético.
    É imprescindível que o talento e a inspiração estejam presentes, a fim de que a obra-prima nasça.

    Do mesmo modo, as outras artes têm à sua disposição os respectivos instrumentos básicos, à maneira dos tijolos utilizados para a construção de uma casa.
    Tal é o caso da escrita, cuja matéria-prima é a palavra, através das letras do alfabeto e dos vários sinais diacríticos.
    Ou da pintura, com as cores, a paleta e o pincel.
    Ou da dança, com o movimento.
    Ou da escultura, com a pedra e o cinzel.
    Ou da cerâmica com o barro e as mãos
    Ou da arquitectura, com o espaço.
    E assim por diante …
    Tudo se torna simples, quando o espírito criador opera aquilo que não se aprende, visto que é inato.

    Dou como exemplo de como uma peça musical nos pode levar à comoção a Abertura da ‘Cavalaria Ligeira’ de Franz von Suppé, que integrou o Concerto de Ano Novo, a que acabei de assistir, obra plena de lirismo, no seu penúltimo trecho, antes da apoteose do ‘trote’ final.
    Encontramos sentimentos semelhantes – dependendo do sentido do belo de cada um de nós -, na audição de algumas obras de Chopin, de Brahms ou de Franz Liszt.

    Falando, em particular de mim próprio, foi em Verdi que encontrei o apogeu do encantamento e toda a grandeza que a Grande Música pode proporcionar, designadamente, no ‘Va Pensiero’, mais conhecido como o ‘Coro dos Escravos Hebreus’, no terceiro acto da Ópera ‘Nabuco’, que vi, há já alguns anos, e repeti, posteriormente, no Coliseu dos Recreios.

    Verdi viveu num tempo em que a sua Itália estava sob o jugo da pata do Império Austro-Húngaro.
    Não foi por mero propósito estético que recorreu aos coros, nalgumas das suas óperas.
    Fê-lo, utilizando-os como armas e símbolos, que ajudassem à libertação da Pátria amordaçada, com a intenção de que corporizassem a resistência do povo italiano à tirania e para aglutinar a união dos patriotas italianos contra o ocupante.

    Integrou na ópera ‘Nabuco’ o ‘Coro dos Escravos’, imaginando, de um modo metafórico, a nostalgia dos hebreus, prisioneiros no Cativeiro na Babilónia, onde choravam a sua perda liberdade, enquanto recordavam os tempos felizes, em Israel.

    CORO DOS ESCRAVOS
    Vai, pensamento, em asas douradas,
    Vai, pousa sobre as colinas e montes
    Onde sopram as doces brisas,
    A quente e leve fragrância da nossa terra natal.
    Saúda as margens do Jordão
    E as torres abatidas do Sião.
    Oh pátria minha, tão bela e perdida !
    Oh lembrança tão querida e fatal !
    Harpas de ouro dos fatídicos lamentos,
    Porque pendeis mudas nos salgueiros ?
    Reacende a memória no nosso peito,
    Fala-nos do tempo que passou.
    Lembra-nos o destino de Jerusalém.
    Traz-nos um som de lamentação triste
    Ou que o Senhor nos inspire uma harmonia
    Que ajude a suportar o nosso sofrimento
    E nos insufle coragem no padecer.

    Outros coros como ‘O Signore, dai tetto natio’ da ópera ‘ I Lombardi alla prima crociata’ ou ‘Si ridesti il Leon di Castiglia’ da ópera ‘Ernani’- além do ‘Va Pensiero’, acima – converteram-se em verdadeiras bandeiras de luta pela unidade e libertação da Itália, coros que o povo profundo italiano tomou em mãos e cantava pelas ruas.
    Verdi tornou-se, por tudo isto, um herói nacional.
    Os ‘Viva Verdi’ passaram a ser pintados nas paredes, às escondidas dos esbirros do ocupante.

    Àparte este papel de combatente pela liberdade do seu país, Verdi ofereceu-nos outras óperas – verdadeiros primores da arte dos sons, apenas ao alcance dos grandes génios, que tive o privilégio de ver – todas no Coliseu dos Recreios de Lisboa -, como ‘Rigoletto’, ‘A Força do Destino’, ‘Don Carlos’, ‘La Traviata’, ‘Otello’ e a ‘Aida’
    Na ‘Aida’, cujo enredo se desenrola no Antigo Egipto dos faraós, destaco a exuberância da ‘Marcha Triunfal’, assim como a opulência dos cenários.

    Qualquer destas obras-primas é um monumento à dupla arte daquilo que é uma ópera : Canto e Representação.
    Noutros casos, como nos bailados, a arte cénica é tripla : Canto, Representação e Dança, de que são exemplos ‘O Lago dos Cisnes’ ou o ‘Quebra-Nozes’ ambos de Tchaikovsky, que o Coliseu, em boa hora, também trouxe até nós, para gáudio dos amantes da Grande Música.

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