Cortina de Fumo

É com sentimento de fraude que vos falo sobre a ilusão dos cuidados de saúde em instituições privadas, salvaguardando todas as competências dos profissionais, mas não isentando os propósitos económicos e financeiros dos detentores do negócio da saúde. Como sabem, sendo professor numa escola pública, sou funcionário público e, por sua vez, tenho o sistema de saúde da ADSE, o qual tem as características de seguro de saúde para o utente, existindo muitos protocolos, com distintas entidades privadas de saúde, nomeadamente com hospitais e clínicas privadas que atuam na região algarvia.
Como fiz um empréstimo de habitação a uma entidade bancária, que também gere seguros, propuseram-me, a troco de uma redução de cinquenta porcento do spred (alto), um seguro de saúde. Neste caso tenho dois sistemas de apoio aos cuidados médicos, a ADSE e um seguro de saúde de uma companhia de seguros. Por isso, quando vou a um médico privado, em urgência ou em consulta programada, por regra utilizo um ou outro sistema e os custos associados à prestação de serviço médico são reduzidos ou, pelo menos, minimizados.

Para mim é mais ou menos banal recorrer a hospitais e clínicas privadas da região, para consultas de rotina ou para outras intervenções, os custos para mim são moderados e um dos dois sistemas paga verdadeiramente a fatura. Tudo funciona com total normalidade e o atendimento é sempre afável e com mais ou menos rigor nos horários estabelecidos.

Esta minha situação gerou uma verdadeira cortina de fumo que me iludiu sobre a verdade dos cuidados privados na saúde.

Para todos aqueles que não tem qualquer sistema ou seguro de saúde, que dependem exclusivamente do Sistema Nacional de Saúde (SNS), mesmo tendo trabalhado toda uma vida, os sistemas privados de saúde são economicamente insustentáveis, particularmente quando a intervenção médica vai para além da clássica consulta do tussa e diga trinta e três. Cada análise, cada antibiótico, cada ação médica é paga a peso de ouro, neste caso de centenas de euros. O internamento por um dia é entre 800 euros e 1.000 euros, para além dos custos com os atos médicos e com a medicação. Por isso, acreditar num sistema de saúde privado, longe da gratuitidade do SNS, é um logro para quem, ingenuamente enganado com as mordomias da clínica e do hospital privado, não vivencia a difícil situação emocional de prescindir de cuidados médicos urgentes por insuficiência de recursos económicos e financeiros para pagar a fatura, para gastar mais de mil euros por dia de internamento.

Os hospitais públicos são o garante da saúde da esmagadora maioria da população em Portugal, nacionais e estrangeiros, são o garante de um direito constitucional de todos. São eles, os profissionais do serviço público, que, todas as horas de todos os dias, dão o seu melhor, com os recursos de todos ao serviço de todos, para que cada um de nós viva, sem exigências económicas e financeiras.
A saúde é um direito de todos os cidadãos, não pode ser um negócio.

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