O 25 de Abril de 1974 e a revolução dos cravos trouxe a liberdade de expressão, de opinião e de imprensa que são pilares fundamentais e imprescindíveis numa Democracia (política) que para ser plena de conteúdo deve integrar a Democracia Económica e Social, sob pena da própria Democracia, no seu todo, não resistir, subsistir e consolidar-se, à luz dos legítimos anseios e expetativas da sociedade.
Vem o intróito a propósito das inúmeras opiniões que só muito benignamente assim poderão ser consideradas, que são veiculadas através das redes sociais (Facebook, WhatsApp, Instagram, Twitter), e por vezes, também na imprensa escrita (reporto-me neste artigo à sua dimensão local), recheadas de superficialidade, disparate, boçalidade, incorreto tratamento da língua portuguesa ou gritante desconhecimento das matérias abordadas.
Constatamos o mau uso das tecnologias e das extraordinárias potencialidades das ferramentas da internet, comunicando e trocando “ideias” ao estilo das fake news (notícias falsas), sem cuidar da verdade dos factos, escrevendo depressa e mal “da boca para fora”, semeando a iliteracia e o preconceito, a demagogia e a irresponsabilidade, promovendo agendas partidárias e ódios de estimação.
Causa estupefacção a participação ativa de alguns indivíduos, que tendo passado pelas cadeiras das universidades, supostamente mais preparados do ponto vista científico, cultural, ético e comportamental, não se diferenciem dos demais, que não almejaram os referidos níveis de educação formal. São desinteressantes, para não dizer outra coisa, as discussões ligeiras travadas nas redes sociais onde os intervenientes, frequentemente, se quedam pela leitura dos títulos das notícias, sem cuidarem de ler os textos na sua plenitude ou quando por outro lado se pronunciam sobre assuntos sem o mínimo conhecimento de causa, chegando invariavelmente a conclusões precipitadas e desajustadas … ao invés de uma comunicação saudável e civilizada entre indivíduos, baseada no conhecimento e marcada pela troca livre de argumentos, nalgumas ocasiões, provavelmente próximos e consensuais, noutras, eventualmente, salutarmente divergentes, que contribuiria para a inclusão digital, a democratização da informação e a divulgação do conhecimento, ajudando a decifrar problemáticas, ajudando a corrigir e a deslindar novos caminhos e soluções, e influenciando a mudança de políticas, medidas ou atitudes, num debate desejavelmente aberto, crítico e construtivo.
Nos dias de hoje não é despicienda a importância das redes sociais dado que já representam a principal fonte de notícias que são lidas, vistas, comentadas e partilhadas pela grande parte dos consumidores.
No contexto da imprensa local e em contraponto com o criticável funcionamento das redes sociais, sobressai o mensário “Terra Ruiva” com publicação impressa e publicação digital dos principais conteúdos, representando uma “pedrada no charco” no panorama concelhio, que se diferencia pela qualidade da informação e profissionalismo, não obstante, integrar uma estrutura associativa sem fins lucrativos e um dos segredos do sucesso assentar numa boa dose de trabalho pro bono, desde há 19 anos consecutivos.
A democracia participativa também tem as suas obrigações. Antes de exigirmos aos outros é bom que sejamos também exigentes e rigorosos com nós próprios. Nas redes sociais ou na imprensa escrita impõe-se uma postura intelectual séria e o respeito pelos outros.