São flores minúsculas que passariam desapercebidas não fora a sua grande beleza e singularidade. O fascinante mundo das orquídeas silvestres atrai cada vez mais entusiastas e alguns deles juntaram-se em São Bartolomeu de Messines para um encontro e passeio organizados pela Associação de Orquídeas Silvestres.
A escolha desta freguesia não foi ao acaso. Aqui se encontram algumas das espécies mais raras do mundo.
Para muitos messinenses, o primeiro contacto com o mundo das orquídeas silvestres, aconteceu por “culpa” de Pedro Mascarenhas. Antigo bancário, após se ter reformado ganhou o hábito de dar longos passeios pelo campo, com os cães. No serro do Penedo Grande, na Vila de Messines, começou a prestar atenção a umas flores minúsculas e belas, a maioria em sítios de difícil acesso. De uma forma natural, a sua curiosidade foi aumentando, “comecei a interessar-me e a ler, fui aprendendo a distinguir”, conta. Um interesse que aumentou quando se apercebeu que muitas das orquídeas que encontrava, fotografava e partilhava no Facebook, eram de espécies bem raras.
Conta-nos estes factos no dia 13 de abril, na Casa-Museu João de Deus, em São Bartolomeu de Messines, onde acabara de ser inaugurada a exposição fotográfica “Orquídeas silvestres – um segredo na paisagem rural – São Bartolomeu de Messines”, com fotos suas e de Cláudia Cabrita. Uma exposição englobada no “9º Encontro à Volta das Orquídeas”, que neste dia aqui aconteceu, organizado pela Associação de Orquídeas Silvestres – Portugal (AOSP).
Antes do passeio ao campo, que se realizou na parte da tarde, Alfredo Augusto Franco foi o convidado para a palestra “As Orquídeas e outras Flores Silvestres Autóctones do Sul de Portugal”. Para uma plateia onde se encontravam presentes desde especialistas a simplesmente curiosos, Alfredo Franco fez uma breve caracterização das espécies de orquídeas existentes em Portugal, suas características e tipo de ameaça que pairam sobre elas.
Assim, explicou que as orquídeas são o maior grupo de plantas existente, sendo uma das famílias botânicas mais recentes e com maior número de espécies no mundo inteiro. Em Portugal existem 25 géneros e são conhecidas 90 espécies, metade das quais no Sul de Portugal, sobretudo no Algarve.
Esta não é uma planta que se possa ter em vasos em casa e tão pouco se deve confundir com as orquídeas que as pessoas veem na florista, precisou Alfredo Franco.
Pelo contrário, a descoberta da maioria das orquídeas silvestres exige tempo e sacrifício. “É uma flor minúscula, que não ultrapassa 1cm, ou 1,5cm, que gosta de solos básicos de origem calcária, como é o caso aqui, com o grés de Silves”.
Muitas delas, como conta Pedro Mascarenhas, “escondem-se” por debaixo de ervas, tojos, pedras… e sendo tão pequenas é necessário a pessoa baixar-se para conseguir descobri-la e vê-la. “Faz-se exercício”, diz, rindo…
Além destas dificuldades há ainda outras: as orquídeas silvestres florescem durante poucos dias, em épocas diferentes para cada espécie e a grande maioria precisa de 4 ou 5 anos para completar o processo da germinação à flor… sendo que algumas chegam a levar 10 anos…
Assim, ao tempo e ao sacrifício junta-se a paciência. A maioria das orquídeas floresce no início da primavera, mas não aparecem todas ao mesmo tempo, pelo que tem que se passar pelo mesmo sítio várias vezes. “E às vezes vamos a um sítio, está cheio de flores, quando voltamos lá, dois os três dias depois, já não há nada”, afirma Pedro Mascarenhas.
Para descobrir e confirmar que são orquídeas silvestres há algumas pistas: todas têm três sépalas e três pétalas, sendo que uma destas costuma sobressair e a essa dá-se o nome de labelo.
Uma pista útil dada a quantidade de híbridos que existem, uma vez que nas orquídeas é muito frequente que duas plantas de espécie diferente se reproduzam, dando origem a uma nova planta com características de ambas.
Umas vezes por força da natureza, outras por ação humana, muitas das orquídeas silvestres de Portugal estão seriamente ameaçadas, incluindo “autênticas raridades”. “As ameaças são quase sempre pela mão do homem”, diz Alfredo Franco, as terraplanagens dos terrenos, a destruição do seu habitat e os rebanhos são os principais fatores de ameaça e os “dois acordos a nível mundial para a proteção das espécies” têm pouca eficácia. Até mesmo pelo desconhecimento generalizado sobre a riqueza botânica dos lugares.
Divulgar esta grande riqueza existente na freguesia de São Bartolomeu de Messines e também em alguns locais de Algoz e Tunes foi também um dos objetivos deste encontro da AOSP que contou com o apoio financeiro da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines e a colaboração de entidades como a Casa do Povo de Messines, Sociedade de Instrução e Recreio Messinense, além da Casa-Museu João de Deus.
Quem desejar conhecer mais de perto as variedades de orquídeas silvestres que se encontram na freguesia de Messines, pode visitar a exposição fotográfica de Pedro Mascarenhas e Cláudia Cabrita, que esteve na Casa-Museu João de Deus e que se encontra atualmente na Sociedade de Instrução e Recreio Messinense, até ao final de junho.
Depois, é sair para o campo… de preferência com um bastão, para algum apoio, aconselha ainda Pedro Mascarenhas.
Todas as orquídeas são bonitas conheço quase todas