Não deixa de impressionar a força com que o 25 de Abril se faz sentir em todo o país, 45 anos depois da revolução dos cravos, que trouxe a liberdade e a democracia, a descolonização e o desenvolvimento à nação portuguesa, após 48 anos de obscurantismo e feroz repressão sob regime fascista.
É de registar o bom serviço prestado pela televisão pública na homenagem e divulgação do significado do 25 de Abril ou o categorizado e diversificado programa de comemorações do Município de Silves, sob liderança CDU, que faz jus ao lema “Silves, concelho de Abril”.
A gesta heróica e generosa do Movimento das Forças Armadas (MFA), suportada decisivamente no esmagador apoio popular que invadiu as ruas, praças e avenidas de todo o Portugal, que foi alicerçada em programa e valores, direcionados para uma Democracia real nos planos económico, social e político, de combate às desigualdades e defesa da justiça social, permanece de pé na sociedade portuguesa, mantendo-se como fonte inspiradora para os desafios do presente e do futuro. Não sejamos ingénuos. É verdade que a evolução da sociedade, o rumo da economia portuguesa e do país político, tem sido realizado em acentuada divergência com a pureza dos desígnios da revolução do 25 de Abril de 1974.
A democracia portuguesa enfrenta vários perigos. O primeiro deriva da relação crescente de desconfiança entre o povo e aquela elite política que tem governado o país, no contexto do bloco central de interesses, que acaba por se generalizar (injustamente) aos demais atores políticos, relação que é consequência de promessas não cumpridas.
As desigualdades sociais, a captura da política pelos poderosos interesses económicos, a corrupção que atinge os mais altos dirigentes e os populismos ainda latentes (consequência do anterior), integram outro grupo de ameaças à qualidade da democracia portuguesa.
O governo PS formado em 2015 e mantido com os apoios estabelecidos à esquerda no quadro parlamentar, é uma novidade positiva da política portuguesa, que destoa dos ciclos anteriores. Embora, tendo terminado com as políticas de devastação social e económica do período da troika, encetando o caminho da reposição de rendimentos e direitos sociais e com maiores cuidados quanto à defesa dos serviços públicos, a meu ver, ficou aquém do necessário e possível, tornando-se essencial que a correlação de forças no âmbito da esquerda se altere, no sentido de obrigar o PS a ir mais além. A Democracia defende-se efetivamente, praticando os valores de Abril, assegurando a melhoria das condições de vida da população, com o combate à pobreza e aos mais baixos rendimentos, com a valorização do trabalho, o aumento do emprego com direitos, a redução da precariedade e da uberização, a subida dos salários, o reforço da proteção social e a defesa do caráter público da segurança social.
Contudo, não é este o caminho proposto pelo recente Estudo sobre a Segurança Social patrocinado pela Fundação Manuel do Santos, sendo do agrado da direita, que defende o aumento das receitas contributivas no futuro através do aumento da reforma para os 69 anos (Cavaco Silva sugere que se possa trabalhar futuramente até aos 80 anos!), cortes no valor das pensões e entrega de parte das mesmas aos fundos privados, segundo a melhor cartilha liberal, considerando esta coisa como reforma estrutural, que a concretizar-se, configuraria verdadeira regressão civilizacional. As contas da Segurança Social resolvem-se e consolidam-se com o aumento do emprego e dos salários, gerando mais descontos, a par da diversificação das fontes de financiamento, nomeadamente a contribuição das empresas com base no Valor Acrescentado Líquido.
As soluções para o país e o progresso social passam pela afirmação e projeção dos valores e ideais de Abril.