Na última edição do Terra Ruiva foi publicada uma notícia intitulada «Município de Silves promove nova vaga de obras públicas», na qual, entre outros trabalhos é apresentada uma grande intervenção, no Mercado Municipal da cidade, ilustrada com o edifício pintado de amarelo. Se por um lado é gratificante verificar que se pretende devolver uma leitura do edifício à comunidade, que respeita a traça original e livra este de muitos dos “apêndices” que lhe têm sido acrescentados, por outro o amarelo ou ocre apesar de ser uma cor habitual na nossa arquitetura não é de modo algum a mais indicada para o mercado municipal.
Note-se que o atual edifício delineado pelo arquiteto Jorge Ribeiro de Oliveira, na década de 1940 ao serviço da Junta da Província do Algarve, insere-se no formulário arquitetónico conhecido por “Português Suave”, facilmente reconhecível por alguns elementos como o trabalho dos vãos em cantaria, as arcadas e torreões com coruchéus rematados com esfera armilar e por fim, na maior parte dos casos a cor adotada, o branco. Cor que se insere no contexto da época em que a caiação era sinónimo de higiene e limpeza.
A opção pelo branco era obviamente também cultural e ideológica, a cal era utilizada há já vários séculos na região por ser um material de fácil obtenção e de custos controlados, dada a disponibilidade no nosso barrocal, ideológica porque a imagem do Algarve de casas e edifícios alvos foi reforçada nestas campanhas de obras oficiais.
É inquestionável que o edifício carece de uma intervenção, mas considero que a mesma deveria respeitar o programa arquitetónico que foi planeado por Jorge de Oliveira e o contexto de uma época. Essa foi a opção seguida em grande parte das intervenções em mercados municipais na região, onde se mantiveram pelo menos exteriormente a traça e coloração original dos edifícios. São exemplo, os casos de Loulé, Tavira, Lagos e menos conseguido, mas ainda assim evocando a obra também de Jorge de Oliveira, o Mercado Municipal de Faro. Por outro lado, os silvenses reconhecem o edifício como um elemento identitário, não só pela sua função, mas também pela sua forma distinta dos outros edifícios públicos da cidade e habitual coloração branca.
A decisão da mudança ou não de cor deve ser pautada a nível patrimonial pelo rigor e respeito pelo traçado arquitetónico dos edifícios antigos em conjugações felizes e harmoniosas com o presente, sem ignorar as razões históricas que levaram às opções tomadas pelo arquiteto e equipa técnica que construíram a obra.
O Mercado Municipal de Silves cuja construção se iniciou há mais de meio século carece de uma intervenção que o dignifique e atualize a sua função nos moldes dos nossos dias e não de uma descaraterização, ou de uma oportunidade perdida.
Texto: Marco Santos