Não é uma afirmação gratuita nem uma graçola de mau gosto. Portugal tem sido um país demoradamente votado a épocas de incêndios nas zonas florestais. Quase tudo acontece no interior, espaços da chamada província, (mito dos sítios pobres e abandonados, hoje dividido entre algumas cidades de razoável ou bom perfil e as aldeias meio perdidas, meio abandonadas, por vezes vazias) – afinal todo um território de esplendorosa e poeirenta interioridade, tão subitamente amado pelos nossos políticos da Assembleia da República e da nossa cristã bancada do CDS.
Com efeito, desde os terríveis e virgens incêndios do ano passado, que se ouve um complicado ruído na Assembleia Nacional e mentideiros, sobretudo em torno dos fogos trágicos que fizeram de Pedrógão uma terra de martírios (verdadeiros) e uma vítima do Governo, tão manso estava, habituado às rotinas de mais de trinta anos de factos idênticos para os quais soavam sirenes e comunicações imperfeitas, partindo o que restava de carros e bombeiros, usando a sua habilidade e sentido do sacrifício, sem benefícios. Isto foi verdade. Mas dito em tom de repetição e mentira, sem as devidas ligações ao contexto da história e dos bem-aventurados residentes na faixa litoral, praias, escritórios, secretárias, carros de boa cilindrada e a pior televisão publicitária do mundo.
Logo após essa tragédia (onde o fogo cientificamente posto não foi tratado), outra ainda maior se desenvolveu cá mas para baixo, em pleno Outubro. Ardeu muito mais floresta, anárquica e de excelente ignição, os famosos eucaliptos que se espalham sem custos e enchem as Celuloses de euros e o Tejo de porcaria.
Mal ou assim-assim, o Governo começou a desenvolver um novo plano de prevenção e ataque aos incêndios, gastou milhões em equipamento e pessoal, deu ordens para a limpeza dos terrenos dos tufos daninhos que já submergiam a desactualizada floresta desde o tempo em que Salazar caíu da cadeira.
A Assembleia da República barafustou sempre, mesmo perante o relatório da comissão que avaliou os fenómenos de há doze meses atrás. Montes de atrasos e falta de meios aéreos. Contudo, desde há uma semana, Portugal dispõe de 50 meios aéreos, mais cinquenta viaturas e melhores condições para as comunicações. E Oxalá os políticos de todo o mundo aceitem trabalhar para poupar o planeta Terra. O clima endoidou.
Esperemos. Mas por mim, a melhor prevenção era a de gastar os milhões, para o próximo ano em importantes incentivos num plano de trabalho na faixa interior do país, com habitação e vias de comunicação, nova produção agrícola, a revisão dos projectos florestais, a deslocação radical dos eucaliptos, encurtamento, recolocação das fábricas. E torres de vigilância na floresta. Polos de água. Veredas em rede. Técnicos metodicamente instalados (por tempos intervalados) além de sapadores e auxiliares, tratadores do espaço, solo e requalificação das espécies florestais. Assim, todo o ano, sempre com comunicação para a meteorologia e polos de protecção civil.
Começar assim, pelo início de um projecto, e não pelo fim dos seus esboços.