O Núcleo do BE de Silves entendeu realizar um debate para analisar os resultados das eleições autárquicas no concelho, o que aconteceu no dia 10 de novembro, na Biblioteca Municipal de Silves.
Isto porque “Silves é um caso particular” e o “BE de Silves também é um caso particular, como afiançou o seu líder, Carlos Cabrita que, nas palavras do próprio e “sem falsas modéstias” tem feito um grande esforço “para juntar e trazer pessoas à participação”.
Um esforço que, disse ainda, tem feito em várias áreas da sua vida, nomeadamente na Assembleia Municipal de Silves (onde foi eleito pelo BE) e na Associação Pé de Vento (proprietária do jornal Terra Ruiva e da qual foi membro fundador). Quanto à Assembleia Municipal, lamentou que a mesma, apesar de todo o seu empenho, não tenha alcançado os níveis de cidadania que desejava. E quanto à Pé de Vento “está pior desde que saí”, bem como a imprensa local, cujo “pluralismo deixa muito a desejar”. Assim, concluiu “não creio que Silves possa evoluir” e que “tenha futuro”.
Feita esta introdução, e na ausência do moderador anunciado, Carlos Cabrita indicou aos convidados “companheiros de viagem de política e de cidadania” que se organizassem entre si. Presentes na mesa quatro antigos vereadores da Câmara Municipal de Silves: António Guerreiro, ex-militante e dirigente do PS; João Ferreira, militante e dirigente do PS; Manuel Ramos, eleito como independente pela CDU; e José Paulo Sousa, ex-militante do PSD.

“Silves não é diferente”
Começando o debate, António Guerreiro discordou que Silves fosse um caso particular, dizendo que tinha tido resultados semelhantes aos dos restantes concelhos algarvios, onde a grande tendência foi a de reforçar as maiorias do poder já existente. A única diferença, sublinhou António Guerreiro, é Silves “ser a única autarquia CDU no Algarve”. E considerou que os “resultados eram expectáveis” até porque “não têm existido projetos alternativos sérios”.
O epifenómeno Isabel Soares
Também José Paulo Sousa considerou os resultados expectáveis, tendo em conta que “Silves é um concelho sociologicamente de esquerda” em que essa tendência apenas foi quebrada com o “epifenómeno Isabel Soares, uma candidata com carisma, que puxou o PSD”.
Uma qualidade que considerou não se encontrar no candidatos Rogério Pinto (PSD), ou Fátima Matos (PS), mas estar presente em João Carlos Correia, presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu de Messines, o que “por arrastamento” consegue muitos votos para a CDU, na eleição da Câmara Municipal.
CDU não ganhou só por inércia
Já Manuel Ramos contrariou a ideia de que a CDU tenha saído vencedora das eleições apenas “por inércia” dos seus adversários políticos, mas sim porque, apesar de governar “num período difícil, com a troika e muitas restrições”, teve “uma gestão de valor nos quatro anos”, com capacidade de resolução dos problemas do dia-a-dia das populações.
Quanto aos resultados, disse que apenas “não pensava que o PS perdesse tantos votos” obtendo “a votação mais baixa de sempre”.
A vontade de estabilidade
Para João Ferreira, a explicação para os resultados foi outra: “a nossa população, fundamentalmente rural, vive embrenhada na sua atividade” pelo que “pouca importância” atribui “à política”. Assim, embora a CDU tenha feito “um mandato fraquito, uma gestão sem rasgo” a população preferiu a “estabilidade no poder”, sendo essa alternativa a mais cómoda.
Sublinhou que “o PS está arredado do poder há 20 anos” e considerou que o ex-vereador socialista Fernando Serpa contribuiu para o “descrédito” do partido e que o PS “não tinha condições para ganhar a Câmara”. Criticou também a CDU por “ir buscar um homem do PSD para a Assembleia Municipal” só para “dar a imagem que é um partido aberto”. E criticou o PSD por concorrer com um “candidato que já perdeu as eleições” e se encontra “desacreditado a nível nacional e local”.
As ideologias e as maiorias
Já na “segunda volta” pela mesa, António Guerreiro introduziu uma nova questão: as diferenças ideológicas entre os diversos partidos.
Para este professor universitário, se essa diferenciação é possível fazer, a nível nacional, sobre as grandes questões sociais e económicas, “a nível local é mais difícil”, por haver muito mais consenso sobre as decisões que importam ao concelho. Recordando a sua experiência enquanto vereador da Câmara Municipal, afirmou que “em 80% dos casos toda a gente aprova os assuntos que vêm à reunião de Câmara, com um parecer técnico favorável”. Na sua opinião, a Câmara Municipal deveria ser governada exclusivamente pela força vencedora das eleições, enquanto a Assembleia Municipal deveria reunir com mais regularidade e com mais poderes, sendo verdadeiramente o órgão fiscalizador da atividade municipal.
Uma ideia que teve o apoio de colegas de mesa, como Manuel Ramos, e de elementos do público que também se pronunciaram.
Sobre as eleições passadas, revelou ainda que foi abordado para fazer parte de um “projeto novo”, proposta que recusou por entender que o seu “pressuposto era ver se a CDU não tinha a maioria”. “Eu entro nos projetos para defender ideias, não para roubar maiorias”, disse António Guerreiro que considerou que “isto não é fazer política”.
BE a fazer lista de independentes
Sobre a intervenção do Bloco de Esquerda de Silves nas eleições autárquicas, Carlos Cabrita justificou o fraco resultado do partido afirmando que o mesmo quis dar “protagonismo a independentes” e “gastamos muito tempo a fazer uma lista de independentes que não deu resultados” e depois a “organização interna não teve condições para avançar e fazer a campanha”.
Que futuro para o Concelho?
A questão do futuro do Concelho de Silves preencheu a segunda parte deste debate.
José Paulo Sousa considerou que no mandato anterior a CDU “empurrou a dívida de curto prazo a longo prazo” pelo que no futuro o concelho “não vai conseguir dar passos exponenciais porque não há dinheiro” e mostrou-se pouco convencido que a CDU consiga fazer o necessário para revitalizar o concelho.
Também João Ferreira se mostrou descrente no futuro, afirmando não conseguir ver “qual o caminho para onde vamos” e que a CDU “poderá fazer uma coisinha aqui e outra ali”, mas que não tem projeto para o concelho.
Opinião contrária foi apresentada por Manuel Ramos que disse ver “o futuro com otimismo” na condição de que o concelho não invista no turismo massificado mas sim na recuperação dos centros históricos e em pequenas indústrias, na floresta e na agricultura.
Já António Guerreiro considerou ser necessário que as pessoas que decidem tenham tempo para pensar “porque não é só abrir o Teatro, tem que se criar uma programação e tem faltado orientação”. “Espero que haja um plano porque as pessoas decidiram e votaram assim, portanto votaram bem”, concluiu, com a ideia de que em democracia não se põem os resultados eleitorais em causa.