Uma escultura é uma escultura. A essa peça acrescentam-se imagens e/ou sons. Dessa fusão surge arte… outra espécie de arte.
Rodrigo Gomes, jovem artista messinense, é um dos cinco finalistas do prémio Sonae Media Art, “o maior projeto português de incentivo à produção de arte na área dos novos media”.
O percurso de Rodrigo Gomes, agora com 26 anos, iniciou-se na Universidade de Évora, no curso de Artes Visuais. Na altura, já fizera outras formações, nomeadamente em Design de Comunicação Multimédia, na ETIC Algarve, e o seu interesse centrava-se na Escultura, pela qual era “apaixonado”.
No segundo ano da universidade juntou a paixão pela escultura com o interesse pelo multimédia e descobriu o videomapping (uma técnica que consiste na projeção de vídeo em objetos e superfícies). A partir daí começou a explorar estes caminhos.
Foi para a Pedreira dos Sons, um festival de música clássica e de teatro, que criou a sua primeira projeção videográfica, sincronizada com os instrumentos de uma orquestra sinfónica. Seguiram-se outros trabalhos, no âmbito de iniciativas organizadas pela Universidade de Évora, e aí começou também a utilizar a técnica do Vjing, na qual se criam e manipulam imagens em tempo real, através de meios tecnológicos, em combinação com música ou sons.
Atualmente, Rodrigo Gomes encontra-se a estudar na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa, onde frequente o Mestrado de Multimédia, Artes Sonoras. É também nesta cidade que trabalha no seu atelier, onde vai “explorando e criando” as suas peças.
Agora, diz ter sido apanhado de “supresa” com a sua nomeação para finalista do Prémio Sonae Media Art.
“Fiquei muito surpreendido e ao mesmo tempo muito contente porque em Portugal é muito difícil ter uma carreira artística. Noutros anos não me sentia ainda amadurecido para participar mas este ano quis arriscar. E ser um finalista já por si é muito bom, já consegui algum reconhecimento”, diz Rodrigo que encara esta situação como “uma oportunidade para quem está no início da carreira”.
O próximo passo é trabalhar na peças que irá apresentar a concurso. As mesmas serão expostas no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, no final do ano, e posteriormente os júris decidirão quem será o vencedor. De referir que os cinco finalistas recebem uma bolsa no valor de 5000€, para criação de duas peças inéditas e o vencedor tem direito a um prémio no valor de 40.000€.
Na edição de 2007 foram recebidas 147 candidaturas que foram avaliadas por um júri de seleção, composto por Teresa Cruz (investigadora, especialista em Teoria dos Media e das Artes Contemporâneas e docente universitária), António Sousa Dias (compositor, investigador nos domínios do multimédia e da instalação e docente universitário) e Adelaide Ginga (curadora e historiadora da arte).
O júri privilegiou “os trabalhos em linguagem multimédia, dando particular relevo às dinâmicas interdisciplinares das obras apresentadas a concurso” que “reúnem as condições de qualidade artística e concetual, inovação de projeto e capacidade interdisciplinar no entendimento do conceito media art”, afirma a Sonae.
Reflexão
Sobre a peça que irá apresentar a concurso, diz Rodrigo Gomes que a mesma se irá basear na reflexão que tem andado a fazer sobre a temática das “guerras à distância” um conceito que tem vindo a alterar a “maneira de olharmos para a guerra” a qual se torna “numa indústria quase autónoma, com os gastos cada vez mais mínimos e em que portanto a guerra se torna cada vez mais fácil, e como isso é assustador”.
A nível da conceção, a sua reflexão incide sobre o que é a Media Art, e como “é preciso transmitir algo, ter uma mensagem forte e englobar o máximo no possível: transformar a escultura, o som e o vídeo num todo”.
Sempre com a preocupação de que uma peça de arte não se transforme num objeto decorativo, como se vê em espaços como hotéis e restaurantes, onde são cada vez mais usadas estas peças/ instalações.
“Preocupo-me que a peça tenha conteúdo, que comunique diretamente com as pessoas, que nos perturbe e que possamos refletir no que acontece. Nas minhas peças questiono a relação direta entre o vídeo e a escultura, o que é a escultura, se está lá só nesse espaço… ponho as pessoas a pensar se a obra é vídeo, som ou a escultura…”
No seu atelier vai fazendo as suas peças, em “escala pequena e reutilizando muitos materiais, por questões financeiras” e o seu mundo de muitas dimensões vai surgindo e criando formas. “Em pesquisa constante, que cada coisa vai trazendo outra coisa…”, explica.
E a “lutar” e a “trabalhar” para que as oportunidades de desenvolver uma carreira se concretizem.