O Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves (CELAS) comemorou o seu 19º aniversário, com um “regresso a casa”, o lançamento de um novo número da revista Xarajîb e a inauguração de uma biblioteca temática.
O aniversário foi assinalado com um programa que se estendeu pelos dias 17 e 18 de setembro, na “Casa da Cultura”, como Ana Maria Mira fez questão de sublinhar, na sessão de abertura.

A presidente do CELAS começou por fazer uma “resenha histórica” focando não só a fundação desta entidade mas também o processo por que passou até estar instalado na “sua Casa da Cultura”. Um processo que demorou quase duas décadas, complicado e desgastante, que passou até por uma situação grave como a Câmara de Silves não acatar uma decisão do Tribunal.
Assim, em 1996, a Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-Cultural de Silves propôs a instalação de uma Comissão Instaladora que reunia diversos parceiros como a Universidade do Algarve, as escolas do concelho de Silves, o Racal Clube, a própria Associação e a Câmara Municipal de Silves representada por três elementos das forças políticas: o então presidente José Viola, da CDU, e os vereadores Isabel Soares, do PSD e Fernando Serpa, do PS.
Na altura, como lembrou Ana Maria Mira, o presidente José Viola apresentou uma proposta para que o antigo matadouro de Silves fosse cedido ao CELAS, o que foi aprovado por unanimidade, em fevereiro de 1997. Com base decisão, o CELAS avançou com as obras de recuperação do edifício que se encontrava muito degradado e conseguiu o financiamento integral das mesmas, através de candidaturas que apresentou. Finalmente, em 2005 as obras foram concluídas, mas naquilo a que a presidente do CELAS chamou uma “tentativa ardilosa de outros se apoderarem da casa”, a Câmara Municipal, então já sob a presidência de Isabel Soares, recusou-se a cumprir o acordado com o CELAS transformando o espaço na “Casa da Cultura Islâmica e Mediterrânica”,
O CELAS coloca uma ação em tribunal que, em 2007, decide a favor do Centro de Estudos mas a decisão não foi cumprida pela Câmara Municipal de Silves.

Aos presentes, Ana Maria Mira lembrou que o CELAS nasceu por iniciativa da Associação de Estudos e Defesa do Património de Silves quando esta entendeu que “ o estudo do legado árabe merecia a existência de uma entidade autónoma”.
Esse trabalho foi sempre prejudicado pela ausência de um espaço próprio adequado. No entanto, como disse Ana Maria Mira, até nos “anos de frustração”, esta entidade continuou a desenvolver as suas atividades, como os cursos de língua árabe, os colóquios e conferências, as edições, a promoção da obra de Garcia Domingues e outras.
Há cerca de dois anos, foi possível iniciar o processo de recuperação do espaço do CELAS, “onde encontramos uma casa vazia, com uma funcionária pública a gerir o vazio” e uma placa com a denominação de “casa islâmica e mediterrânica não sabemos com que critérios” considerou Ana Maria Mira que defendeu a alteração do nome para a designação original “Casa da Cultura”.
A presidente do CELAS agradeceu ao atual executivo camarário estar a corrigir a situação herdada, e por “finalmente nos permitir estar na nossa casa”, à “Direção Regional da Cultura que “sempre nos apoiou” e a “José Viola que teve um papel importante” na constituição do CELAS.
Referindo-se à “nova etapa” afirmou ainda que estão a “tentar criar as condições para trabalhar aqui dentro”. Isto porque o edifício, depois de muitos anos fechado, apresenta alguns problemas que urge resolver.
Uma situação a que a presidente da Câmara Municipal, Rosa Palma, afirmou estar atenta. Para a presidente, era importante que a autarquia “fizesse justiça às deliberações da Câmara”, lembrando a atribuição do espaço decidida por unanimidade, pelo que o seu executivo quis repor o que considera ser uma situação de “justiça” e de reconhecimento pelo trabalho do CELAS “que nunca parou”.
No mesmo sentido se pronunciou a responsável da Direção Regional da Cultura, Alexandra Gonçalves, que elogiou o “currículo singular de atividades” desenvolvidas pelo CELAS, uma “entidade de prestígio” com um forte contributo para os estudos árabes e islâmicos.
Por seu turno, José Viola recordou alguns momentos do início da parceria entre o CELAS e a autarquia de Silves, a partir do momento em que “um grupo de amigos e a autarquia avançaram para este projeto” que se revelou difícil de concretizar, apesar de ter iniciado de forma pujante o seu percurso, tanto que, em 1988, Silves foi a única cidade europeia a ser convidada para um congresso de cidades islâmicas e iniciou um frutuoso intercâmbio com a Universidade de Córdova. Depois, disse José Viola “foi tudo abandonado”, mas fez votos para que a autarquia e as escolas que fisicamente se encontram tão perto deste espaço possam colaborar com o CELAS e que “esta casa passe a ter vida própria”.
Apresentação da revista Xarajîb
Nesta sessão foi apresentado o nº 8 da revista Xarajîb, a Revista do Centro de Estudos Luso-Árabes.
Lançada em 2000, nem sempre foi possível publicá-la com a periodicidade desejada, como explicou João Vasco Reis, mas “ ganhou uma dimensão que ultrapassou as expetativas” e esta publicação, fruto do trabalho de uma pequena equipa amadora “mas empenhada e com vários apoios institucionais”, espalha-se hoje por vários locais de Portugal mas também por vários países da Europa e do Norte de África.
No espaço adjacente, fez-se a inauguração simbólica de uma pequena biblioteca que reúne várias obras sobre estudos árabes e também alguns dos objetos pessoais do reconhecido arabista Garcia Domingues.
O programa de aniversário contou ainda com um colóquio sobre as plantas do Gharb Al-Andaluz e as suas diferentes utilizações e com a apresentação da obra “Contributos para a História da Alimentação Algarvia”, da autoria de Luísa Fernanda Guerreiro.
Houve também um dia dedicado à poesia, música e dança, com a participação de Eduardo Ramos Ensemble Moçárabe.