Entrei na cumplicidade do neorrealismo literário, pela minha adolescência, rebuscando, nesse gosto de leitura, na Sociedade de Instrução e Recreio Messinense, no móvel proibido a que chamavam de biblioteca.
Descobri, entre outros livros, a “Caminhada”, de Leão Penedo. Já pusera de parte os chamados livros da infância: Cavaleiro Andante, o Pim-pam-pum. O livro prendeu-me pela simplicidade da escrita e pelas imagens das mulheres da minha terra, em que as Ritas surgiam por cada rua do meu conhecimento. Quanta tuberculose, quanta fome, quanto tudo de nada. Até que, um dia, a Pide, fez um arremesso levando a Caminhada, entre outros livros perigosos. Então, eles aguçaram-me. Era um jovem a despertar…
Leão Nascimento Penedo nasceu em Faro, em 13 de Agosto/1916. Quem foi este cidadão de Faro que entrou no esquecimento dos algarvios?
Teria nascido na rua Jardim do Cardeal, no Bairro do Carmo. Aluno distinto no Liceu de Faro, parte para Lisboa. Faz-se jornalista, escritor, argumentista de cinema. Homem de causas.
O seu tempo de escrita passou pelos movimentos entre o final dos anos trinta e o após a segunda guerra mundial, por aí fora, durante a ditadura, em que a revalorização do realismo, na nossa literatura, processou-se nas condições de deficiência democrática e de crise mundial.
Leão Penedo, o farense, entre outros algarvios que encetaram esse caminho do neorrealismo literário, como Assis Esperança (Faro), Manuel do Nascimento (Monchique), Vicente Campinas (Vila Real de Santo António), deixou, em literatura, novela, teatro e cinema, um base na nova denúncia literária e cinematográfica. Penedo foi o algarvio mais plural no seu tempo, nesse movimento. Teve uma produção intensa, desde a sua primeira obra “Multidão”, (1942), “Caminhada” ( 1943), “Circo” ( 1946), “A Raiz e o Vento” ( 1954), etc.
Alguns dos seus livros foram adaptados ao cinema, como é o caso do “Circo” transformado em Saltibamcos, com os actores Raul Semedo e Maria Olguim; Sonhar é Fácil, com os actores António Silva e Laura Alves, entre outras obras que foram surgindo.
Foi Leão Penedo, um homem de muitas acções a destacar, que trabalhou num tempo de todos os constrangimentos, em que se impunha a decência dos costumes, em que a pequena sociedade se mascarava…
Hoje, Faro é uma cidade com uma universidade com três décadas de existência. Temos muitos motivos para lembrar, homenageando esses pioneiros da renovação da nossa literatura. Agora temos o centenário do farense Leão Penedo a estudar. Não esqueçam!
Leão Penedo é uma memória que ficou numa rua de Faro, entre o Cemitério dos Judeus e o Hospital. A Universidade tem também essa responsabilidade de evocação, de estudo e de homenagem para o conhecimento do cidadão notável.