Na secção Memórias, lembramos este texto de Aurélio Nuno Cabrita, sobre as origens da Feira de N. Sr.a da Saúde em Messines. Este texto foi publicado na edição 28, do Terra Ruiva, de setembro de 2002.
Feira de N. Sr.a da Saúde em Messines foi criada há 177 anos
(1825-2002)
«Dom João por Graça de Deus Rei do Reino unido de Portugal Brasil e Algarves d’ Aquém e d’ Além Mar em África Senhor da Guiné, faço saber que o Juiz e Irmãos da Confraria de Nossa Senhora da Saúde do Lugar de São Bartolomeu de Messines, Termo da cidade de Silves, Reino do Algarve desejando aumentar cada vez mais a devoção com que veneram aquela Imagem a quem anualmente celebram a Festa da Natividade de Nossa Senhora. Me suplicam a graça de permitir que nos dias vinte, vinte e um e vinte e dois de Setembro de cada ano se possa fazer nas Barradas e proximidade da ermida da dita Senhora uma Feira Franca de Loges, Gados e todos os Géneros aplicando-se o fundo do terrado para fundo da Confraria. (…).
«Hei por bem conceder a licença necessária para que nos dias indicados de cada ano se possa fazer nas Barradas e proximidades da Ermida de N. Sra. da Saúde do dito lugar de São Bartolomeu uma Feira Franca ou Mercado porém sem Liberdade de Direitos. (…)
«Lisboa a sete de Julho de 1825 anos.»
Foi este o resultado do requerimento feito pela Confraria de Nossa Sra. da Saúde em S. B. Messines a D. João VI, em 24 de Maio de 1825. Na petição, é alegado que a data era muito apropriada «por ser então o tempo em que nenhuma feira há em todo o Algarve». Subscrito por 37 indivíduos o requerimento conta com a particularidade de em terceiro lugar, na qualidade de Recebedor da Confraria, figurar José Joaquim de Sousa Réis, que mais tarde durante a guerra civil, tornar-se-ia celebre sob a alcunha do “Remexido”.
O Rei concedeu autorização para a feira porém sem «Liberdade de Direitos», pois a Câmara de Silves exigia metade do rendimento do terrado “não convinha que o produto do terrado da feira requerida fosse todo aplicado para a festividade da dita Senhora da Saúde, mas sim tão somente metade, e a outra metade aplicada para este concelho, não só pela razão de que este concelho tem muito diminuto rendimento, mas também porque a outra metade é muito suficiente para a factura de uma pomposa festa á Sra. da Saúde.”

Era desta forma que a Câmara de Silves solicitava ao Rei que não concedesse a desejada «Liberdade de Direitos» á Confraria de N. Sra. Porém esta não se deu por convencida, recorreu de imediato da decisão e para seu regozijo obteve por Provisão Régia de sete de Junho de 1826 o rendimento integral do terrado.
Os principais produtos comercializados na feira eram, por esta altura, gado vacum, lanígero, caprino, suíno, cavalar e muar, cereais, frutas, legumes, madeira, lojas de fazendas secas e chapéus, ouro, prata, arame, ferragens, botequins, entre outros.
A feira de Setembro em S. B. Messines constitui desta forma a terceira mais antiga do concelho de Silves, sendo a feira de Todos os Santos datada de 1491 e a das Cruzes, cuja data se ignora, as duas mais antigas.
Fontes:
– Tese de Doutoramento do prof. José Carlos Vilhena Mesquita “O Algarve no Processo Histórico do Liberalismo Português”.
– Chancelaria de D. João VI.
– Desembargo do Paço Alentejo/Algarve