Para o bem e para o mal, o Facebook faz hoje parte integrante da rotina de muitos cidadãos, associações e empresas. Para os meios de comunicação social, a utilização desta rede social tornou-se um dilema diário – como encontrar um equilíbrio entre não ir atrás daquilo que se escreve por lá e, ao mesmo tempo, não perder de vista o fluxo informativo?
Ainda há poucas semanas, um episódio recorrente em Armação de Pêra tornou-se notícia, através de um pequeno vídeo colocado no Facebook por um cidadão indignado. Protestava o dito contra o facto de muitas pessoas irem até à praia às seis ou sete da manhã, colocando os chapéus de sol a “marcar” o lugar. Assim, quem chegar à praia, a horas “normais”, depara-se com o areal coberto de chapéus… e deserto. De televisões a jornais, todos falaram da “praia fantasma”, e este assunto que noutros verões não passou da esfera local ganhou uma dimensão nacional.
(Abro um parenteses para fazer uma previsão: como a Capitania de Portimão insiste em que nada pode fazer, o mais certo é assistirmos à repetição do caso. A não ser que se decida fazer como em Espanha onde este fenómeno, das “sombrillas solitarias”, começou a ser combatido pela Guardia Civil com intervenções policiais e multas de 750€.)
São cada vez mais complexas as relações entre as redes sociais e os órgãos de comunicação social. Os meios de comunicação colhem histórias e informações nas redes sociais. As redes sociais são enriquecidas com os conteúdos disponibilizados pela comunicação social, os quais, frequentemente, ganham uma nova projeção.
Quiçá por essa razão foi o Terra Ruiva confrontado com uma situação inédita, no mês de julho, ao ser alvo de censura.
A nossa notícia, divulgando o relatório do Tribunal de Contas que fundamenta a não aprovação das contas de gerência da Câmara de Silves dos anos de 2011 e 2012 e as sanções a aplicar aos ex-presidentes Isabel Soares e Rogério Pinto, foi censurada no grupo do Facebook de Armação de Pêra.
A publicação foi apagada e a diretora do jornal banida do grupo. O nosso colaborador José Manuel Vargas, que se insurgiu contra esta atitude, foi igualmente banido.
Vários pedidos de explicação enviados aos responsáveis pelo dito grupo foram inconclusivos. Aparentemente não foi ninguém… Não fosse a gravidade da atitude isto seria apenas ridículo.
O Terra Ruiva orgulha-se de ser um órgão de comunicação sério e com princípios. Não nos compete a nós fazer julgamentos de quem quer que seja, esse é o trabalho dos tribunais.
A decisão do Tribunal de Contas e o caso Viga d’Ouro são assuntos importantes à escala local, regional e nacional, tendo sido publicados por diversos jornais, regionais e nacionais. Estas notícias teriam sempre lugar no Terra Ruiva fossem quem fossem os autarcas implicados.
O facto de se tentar impedir que um grupo específico de pessoas – neste caso os membros do grupo de Armação de Pêra – tivesse acesso a uma notícia onde é referido um proeminente cidadão desta vila e autarca com responsabilidades passadas e atuais configura uma situação grave. E também cobarde, pois ninguém apareceu a assumir a sua autoria e a defender a sua causa, como seria natural e legítimo.
Este caso pode servir para uma reflexão sobre a utilização desta incrível ferramenta de divulgação e incremento de relações sociais e humanas. Muitos alertam para que se está a transformar numa imensa autoestrada, onde regras de conduta, de educação e seriedade são regularmente esquecidas como se cada um que publica a partir do conforto do seu sofá não possa ser responsabilizado pelo que escreve e partilha.
Mas se nas relações pessoais cada um toma a direção que entende e seleciona os amigos que deseja, o mesmo não acontece quando se trata de entidades e instituições.
Assim como não há “sombrillas solitarias” que se coloquem por si só no areal de uma qualquer praia, também “não é disparando sobre o mensageiro que se mata a mensagem”.
O Terra Ruiva trabalhará como até agora. Não menosprezando, de forma alguma, o facebook e as redes sociais mas não se deixando intimidar por quem se esconde no anonimato.