Nos Paços do Concelho, em Silves, encontra-se patente, até ao final do mês de junho, a Exposição do Arquivo Municipal com o tema “90º Aniversário dos Bombeiros Voluntários de Silves – Parte II” .
Esta exposição pretende divulgar as origens dos bombeiros de Silves, bem como testemunhar a sua existência ao longo dos anos, fazendo um contributo para a memória desta Instituição.
Encontra-se dividida em duas partes: a 1ª parte desde a origem até à data do seu renascimento, em 1926; e a 2ª parte de 1926 até à atualidade.
A exposição é acompanhada de deliberações camarárias, ficha individual de Bombeiro, fotografias e medalhas.
Como habitualmente, o Terra Ruiva colabora com esta iniciativa do Arquivo Municipal publicando uma versão resumida do texto da exposição. A versão integral do texto, com os documentos e fotos, encontra-se aqui:
Aniversário dos Bombeiros Silves II Parte
90º Aniversário dos Bombeiros Voluntários de Silves – Parte II
A Corporação de Bombeiros de Silves foi fundada a 15 de maio de 1926, num ambiente proletário, de operariado corticeiro e numa cidade em desenvolvimento económico e social. A corporação contou, desde o início, com o apoio da Câmara Municipal de Silves através do auxílio material, da cedência de casa para sede e quartel e atribuição de subsídios.
Inicialmente o quartel e sede foram instalados na atual rua 25 de Abril, no entanto, a 9 de maio de 1927, a Comissão Administrativa da Câmara deliberou “ceder uma das casas onde se acham instalados os talhos Municipais, ao Corpo de Voluntarios de Salvação Publica desta cidade, afim de ampliar a sua sede”, transferindo-se para o Largo da Câmara, ocupando parte das arcadas do edifício dos Paços do Concelho, onde permaneceram mais de quatro décadas, até início dos anos setenta.
Na reunião camarária de 12 de fevereiro de 1969 o presidente, Salvador Gomes Vilarinho apresentou a proposta para que fosse “cedido gratuitamente à Associação destes Bombeiros o terreno indispensável à construção do seu novo quartel, (…), o qual seria destacado do quintal da antiga Escola Industrial (património Municipal)”. Esta resolução foi aprovada pelo Conselho Municipal em reunião de 14 do citado mês e pelo Ministro do Interior.
Passados quase quatro anos, em 1973, a Associação dos Bombeiros solicita a “prorrogação do prazo de utilização do terreno para a construção do novo quartel dos Bombeiros”, deliberando a Câmara prorrogar o prazo por mais cinco anos.
Todavia, como as instalações do quartel eram inadequadas, em 1970, a Corporação transferiu-se para novas instalações, na antiga fábrica de cortiça “Villarinho & Sobrinho”,( situada junto ao cais, na rua Cruz da Palmeira,) que fora de Manuel Pereira Caldas, Conde de Silves, cedida pelo então proprietário Francisco Afonso Madeira. Aí permaneceu cerca de duas décadas, até à sua transferência para o atual quartel.
Em 1973 surgiu o interesse de Domingos Inácio Loia e Domingos Correia Mourinho no aproveitamento do terreno cedido aos Bombeiros, para a edificação de edifício misto de comércio e habitação, propondo-se, para isso, permutá-lo com um lote de terreno de que eram proprietários, situado entre a E.N. 124 e a Rua da Cruz de Portugal. Não tendo a Direção da Associação dos Bombeiros visto qualquer inconveniente na permuta, a mesma foi escriturada em dezembro de 1973.
Assim, ficou estipulado que o novo quartel seria implementado no terreno permutado, situado entre a rua Cruz de Portugal e a avenida marginal, local de fáceis acessos e ligações. No final de 1978, em vista de terminar o prazo concedido para a construção do quartel, a Corporação de Bombeiros solicitou à Câmara a “dilatação do mesmo por tempo indefinido, uma vez que se pensa dar andamento à construção do referido quartel”. Deliberou a Câmara conceder prorrogação do prazo até ao fim de 1979”.
Em agosto de 1979 os bombeiros solicitam a garantia da existência e cedência do terreno para a construção do seu Quartel bem como da comparticipação, da parte da Câmara, de 20% do total da obra, visto os 80% serem de comparticipação do Estado. A Câmara deliberou conceder, ficando, no entanto, a localização dependente do Plano de Urbanização da Cidade. Poucos dias depois, foi presente o anteprojeto do Quartel dos Bombeiros, da autoria do arquiteto Martim A. P. Gracias, o qual foi aprovado.
Contudo começaram a surgir reclamações sobre a localização do novo quartel por parte da “Comissão Promotora do Parque da Cidade de Silves” encabeçada por Teodoro de Sousa, alegando que não respeitava as previsões do Plano Geral de Urbanização, e por parte da Assembleia Municipal de Silves que revoga a obra a construir, prevista e aprovada pela Autarquia.
Com intuito de resolver esta situação, em maio de 1981, o vice-presidente da Corporação dos Bombeiros, José Francisco Marques Cabrita, acompanhado pelo comandante Domingos Correia Mourinho, do advogado da corporação, Dr. Bentinho, e do representante do Serviço Nacional de Bombeiros foram recebidos em audiência pelo subsecretário de Estado da Habitação e Urbanismo a quem expuseram a situação. Este sugeriu “que por uma questão de Estética Urbanística, a localização do quartel melhor se coadunava situando-o na parte poente sul da cidade, deixando a descoberto a parte sul nascente afim de não tirar a perspectiva do Castelo”.
Na reunião camarária de 4 de agosto do mesmo ano, sob a presidência de José Francisco Viseu, a Câmara deliberou “aceitar a proposta de permuta de terreno já doado para a construção do Quartel, por outro localizado a sul poente da cidade, em terreno camarário”. Vinte dias depois estava a ser lavrada a escritura de doação de terreno à Corporação Voluntária de Salvação Pública de Silves, para construção do seu quartel, com a área de 6.500 m2 e que confronta a norte com a Rua Cruz da Palmeira, de sul e de poente com a Estrada Nacional 124 e de nascente com o Silves Futebol Clube.
Em junho de 1982, esta corporação apresentou à Câmara Municipal o novo projeto de construção do Quartel de Bombeiros, da autoria do mesmo arquiteto, constituído por dois núcleos, um destinado ao serviço de incêndios e o outro aos Serviços Sociais de apoio da Corporação, dispondo ainda de um amplo espaço de ar livre para prática de exercícios. A obra de construção foi adjudicada à Firma “Constrotel – Construções Civis, Lda.”, pelo valor de 36.200.000$00 e teve início em 1986.
Em 1983, a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Silves é classificada como Pessoa Coletiva de Utilidade Pública.
Uma década depois de manifestada a intenção de construção de um novo quartel, o mesmo é uma realidade, em 1990, realizando-se a transferência para o novo espaço no dia 27 de fevereiro, dia de Carnaval.
Em 2009, e após mais de oito décadas com a designação de Corporação Voluntária de Salvação Pública, os Estatutos da Associação foram revistos, tendo sido retomada a primeira denominação – Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Silves.
Face ao aparecimento de novas necessidades, em 2009, procedeu-se a um projeto de remodelação e de ampliação visando a criação de um quartel moderno e adaptando o edifício existente às novas realidades, com o aumento da zona reservada para viaturas, nomeadamente, um parque automóvel coberto de maiores dimensões, o aumento das camaratas masculinas e a criação de camaratas femininas e instalação de comando e formação.
Em 2015 ficaram concluídas as obras de remodelação e ampliação do edifício do quartel, sendo inaugurado no dia 15 de maio, contando com a presença da ministra da Administração Interna, Anabela Rodrigues, presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil, Francisco Grave Pereira, presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, presidente da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Silves, Hilário Mestre e o comandante Luís Simões.
A esta Corporação estiveram associadas três secções de Bombeiros: Alcantarilha, Algoz e S. Marcos da Serra. A Secção de Alcantarilha iniciou atividades nos finais dos anos 1970, tendo sido inaugurada no dia 6 de junho de 1980; e cinco anos depois, a 19 de maio de 1985, foi inaugurada a Secção do Algoz. A instalação de S. Marcos da Serra foi aprovada no final de 1987 e homologada a 15 de fevereiro de 1989. Atualmente só a Secção de Alcantarilha se mantém no ativo, a do Algoz e S. Marcos da Serra foram encerradas em 2001.
Ao longo destes anos os Bombeiros de Silves fizeram o melhor em prol da sociedade, desdobrando-se em esforços e contando com a sua coragem, disponibilidade e o seu voluntariado, fitando muitas vezes as tremendas dificuldades materiais e financeiras, para assistir às diversas missões. A sua ação não tem descanso no combate a incêndios um pouco por todo o concelho, bem como no socorro a outros em concelhos vizinhos, e no socorro à população em caso de inundações, catástrofes ou calamidades, acidentes rodoviários e salvamento de pessoas e bens.
Bibliografia:
REIS, João Vasco, Vida Por Vida – Os Bombeiros Voluntários de Silves, Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Silves, 2010.
http://www.bombeiros.pt
Agradecimento
À Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Silves, na pessoa do Sr. Comandante Luís Simões, pelo acolhimento e disponibilização de fotografias, medalhas e documentos administrativos.